1. Suzana
    Francisco Romão Pereira
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Crítica

Suzana

4/5 estrelas

O irmão mais novo e mais ambicioso do Cacué serve cozinha portuguesa moderna sem ser moderninha. Alfredo Lacerda foi lá e apaixonou-se pelo balcão.

Alfredo Lacerda
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A Time Out diz

Ao chegar, havia mesas disponíveis, mas o balcão comprido, todo em madeira, com bancos rotativos estufados e espaço para as pernas, era irresistível. Sentei-me na ponta dos fundos, que é onde os balcões costumam ser mais interessantes, e fiquei a admirar a carta e a cozinha semi-aberta. 

A carta do Suzana tem um registo parecido com a do Cacué, o irmão mais velho, ali a 300 metros de distância, em Picoas, ainda que se perceba a intenção de o sofisticar. Ou seja, temos cozinha de raiz portuguesa para lá dos clichés do costume, nem trouxas de alheira, nem bacalhau com natas. 

Em vez disso: rissóis de pescada e pastéis (de massa tenra, de bacalhau), escabeches e lagaradas, língua de vaca e abanicos – comida sem travessas, tudo servido em pratinhos, tudo em bonitinho sem ser finório.

Com umas toalhas de pano brancas seria um bistrô português maravilhoso, que é uma coisa que continua a faltar em Lisboa, quando pensamos em algo superior. 

Se me perguntam onde comer cozinha portuguesa irrepreensível, do século XXI, com um cozinheiro com alma, numa salinha caseira com preços decentes, eu continuo a gaguejar, emperrado entre duas ou três soluções, nenhuma delas perfeita.

As poucas tentativas recentes de abrir esse restaurante português perfeito ou caem para o lado do moderninho, mais louça que matéria-prima, ou ficam-se pelas fábricas de pernil e arroz de garoupa, ou não passam de híbridos sem alma e sem chef, quase sempre demasiado grandes ou com demasiados caldos de pacote. 

Este Suzana tem uma dimensão perfeita, tem a patine de ter sido uma cervejaria das antigas (era o Las Palmas) e tem uma carta que nos encanta. Para além do mais, à frente está José Saudade e Silva, com provas dadas no Cacué, jovem sem o colinho das agências e dos influenciadores, mas com talento e amor à comida. 

Também por isso, custa a perceber que esteja longe do sucesso de outras casas. Uma das razões pode ser a localização. Não é que seja má, a dois minutos do El Corte Inglés. Mas hoje em dia quem não está no olho do furacão, e tem o preço médio acima dos 30€, sofre. 

E eu acho que o Suzana, aberto há pouco mais de um ano, sofre. Um dos caminhos, quando se começa a sofrer, é começar a cortar no produto ou na energia, ou no pessoal. 

Não estou certo que seja isso que está a acontecer com o Suzana, mas não gostei do aroma do óleo nos rissóis de pescada e nas batatas fritas – ambos tecnicamente bem feitos –, na minha última visita, e o mesmo se pode dizer do bacalhau que entrou na lagarada, e dos tomates que fizeram a salada – claramente prematuros, de Espanha ou de estufa. 

Em síntese. O Suzana tem quase tudo para ser esse sítio português perfeito, onde somos surpreendidos com uma empada de coelho ou umas bochechas de porco magistrais, fora da carta. 

É preciso, talvez, que os portugueses o conheçam e lhe dêem uma oportunidade. E que Saudade e Silva garanta a qualidade e a atenção do que vai para a mesa ou para o balcão, um dos mais carismáticos da cidade.

Detalhes

Endereço
Rua São Sebastião da Pedreira 167
Lisboa
1050-227
Preço
30-50€
Horário
Seg 12.00-15.00, Ter-Sex 12.00-15.00, 19.00-22.00, Sáb 19.00-22.00
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