1. Restaurante, Cozinha Portuguesa, Tasca da Galega
    ©DRTasca da Galega
  2. Restaurante, Cozinha Portuguesa, Tasca da Galega
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  • Grande Lisboa

Tasca da Galega

José Margarido
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A Time Out diz

Gosto tanto de tradições que me divirto a criá-las. Ainda há dias inventei esta: na segunda sexta-feira de cada Agosto, eu e três amigos de criação jantamos sempre na Tasca da Galega. Até agora não falhámos uma vez. A casa sempre foi afamada pela ginja. Já o era noutro tempo, quando a Tasca era mesmo tasca, toda a gente a tratava por Manuel da Galega, e esta canalha costumava vir aqui abafar um copinho à socapa. Continua a ser hoje, que a tasca se fez restaurante e o país ouve falar dela uma vez por ano, quando Sua Exa. o Presidente da República cá vem na véspera de Natal. Marcelo, camarada animal de hábitos e inventor de tradições, não criou este costume. Há já muitos anos que cada 24 de Dezembro entardece com o trânsito condicionado no centro do Barreiro, à conta do magote que aqui se reúne de copo na mão. Com o tempo, agigantou-se o rebanho que vem acolchoar a Consoada a golpes de licor e a coisa ganhou contornos de romaria. Mas, ao que sei, tudo começou com uns amigos de criação que aqui marcaram encontro para esse dia. E a tradição nasceu.

Mas voltemos à Tasca. Nos tripadvisors da vida, a Galega ora surge como casa de cozinha tradicional, ora de cozinha portuguesa. É uma aproximação à verdade. Das mãos da cabo-verdiana Alice Cruz nasce uma ementa de geografia pessoal, que fala português, mas tem várias pronúncias, perfume crioulo e a inspiração petisqueira do Sul que desagua nesta margem do Tejo.

Comecemos pelo belíssimo polvo à Galega (14€), que nada tem que ver com o pulpo que se faz na Galiza. Chega de tentáculos inteiros, no ponto de cozedura, banhado em azeite quente com alho, um toque suave de colorau, servido com batata cozida ligeiramente adocicada, e umas folhas de grelo que lhe dão o amargor certo. Não fosse a anacrónica gota de balsâmico e dava-lhe nota máxima.

Seguimos numa frigideira de porco com gambas (12€). É daqueles pratos de que costumo fugir, armadilha previsível de nacos de bifana com artrópodes congelados. Mas eis-me aqui, relembrado de como o suíno gosta que o deitem a fazer conchinha com bichos do mar. O porco preto de óptima qualidade em pedacinhos de fritura branda, as gambas rijas a saber a mar, alho, limão e pimenta preta, tudo em cama de azeite. A acompanhar, umas batatas fritas que, por si só, merecem a visita. Adivinho-as bem escolhidas, daquelas com ar velho e terroso, muito amido para aguentar uma fritura valente e acabarem assim, firmes, enxutas, macias por dentro, estaladiças por fora.

Fiquei com pena de não termos ido pelo caril de camarão tigre, feito com mistura própria de especiarias e toque moçambicano, e que é o prato costumeiro do Pacheco Pereira quando pára aqui. Já por várias vezes o tive à minha mesa e só tenho a dizer bem (o caril, bem entendido, que o Pacheco Pereira não fará ideia de quem eu seja). Mas escolhemos terminar de forma inusitada e, reconheço, algo alarve, com uma massada de gambas (25€). É um dos pratos emblemáticos da Galega, uma massada tradicional portuguesa, base de refogado apurada com tempo, bom tomate, ervas frescas a perfumar, boas gambas de mar inteiras, tudo num tacho de barro pensado para dois mas a chegar para três. A grande originalidade é que Alice faz a coisa com tagliatelle fresco, que torna todo o conjunto surpreendentemente leve e guloso.

O resto, são menções honrosas para bens essenciais que são tradições da casa. O bom pão de mistura, que felizmente ainda vai aparecendo deste lado do rio; o vinho a jarro que vem de Pegões e chega à temperatura certa, seja tinto ou branco; o sorriso pontual de Alice sempre que sai da cozinha; e a abaladiça de licor. Sabe-me sempre tudo que nem ginjas.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Detalhes

Endereço
Ruas dos Combatentes da Grande Guerra, 65
Barreiro
2830-341
Horário
Ter-Qui 12.00-00.00, Sex e Sáb 12.00-02.00, Dom 12.00-15.00
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