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The Darjeeling Express

  • Restaurantes
  • Sete Rios/Praça de Espanha
  • preço 2 de 4
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado
  1. darjeeling express
    Manuel Manso
  2. Darjeeling Express
    ©Manuel MansoCaril de lentilhas com ovo estrelado
  3. The Darjeeling Express
    Fotografia: Manuel Manso
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A Time Out diz

3/5 estrelas

Nem tudo o que é indie vale a pena. Lembremo-nos de Mumford & Sons. Mas um restaurante indiano com apenas 26 lugares, inspirado em Wes Anderson, merece atenção. Mesmo que fique no Alto dos Moinhos. Mesmo que não use picante.

Para se situar, a primeira
 coisa a fazer é limpar a cabeça
 de preconceitos. Esqueça a estatuária e o folclore e o quadro com o Taj Mahal. Esqueça a tacinha com especiarias lava-boca e a empregada com o bindi na testa. Esqueça a malagueta e o lassi de supermercado.

A decoração do Darjeeling (o nome vem do filme The Darjeeling Limited, de Anderson) é limpa. Paredes de betão, mesas de madeira, tacinhas, tudo muito frou-frou, cozinha aberta, como num desses restaurantes “healthy” que servem “bowls” de comida para canário. Nas paredes há quadros feitos à medida através do site Etsy e a servir estão empregados de sapatilhas Vans e tatuagens — ou o próprio dono, de nome Mirza (até o nome é indie).

E quem é Mirza? Mirza é um jovem de nacionalidade lusa, mãe moçambicana e família com raízes em Diu, território onde os portugueses puseram uma lança nos idos de 1500. Mirza aspira a visitar as raízes mas não precisa. As tias, os tios e a mãe entram-lhe com a Índia pela cozinha do restaurante todos os dias. As próprias mangas verdes, com que se faz o achar, vêm de uma árvore da família.

“Na minha casa não se comia com picante, porque a minha irmã não gostava”, há-de explicar, depois de o interrogarmos relativamente à falta de fogo nos caris – e em tudo. Irmã à parte, é verdade que grande parte do receituário indiano não leva malagueta. E isso funciona em certos pratos deste Darjeeling. São os casos do caril de lentilhas amarelas com ovo estrelado e da versão moçambicana do caril de camarão, aqui só com um leite de coco suave e uns pozinhos de especiarias.

Noutros, contudo, senti falta da potência do piripíri e de mais apuro. O caril à Darjeeling com achar de cenouras, feito de carne de vitela em tomate e batatas cozidas, pedia um calor infernal mas ficou-se por um guisado exótico bem-educado; e o mesmo dizer do caril de grão
de bico partido com ovo cozido
(o ovo cozido costuma ser usado, precisamente, para acalmar as papilas do shot de picante); ou das chamuças caseiras, estaladiças e saborosas, mas sem rock n’roll.

Aplausos, no entanto, para muitas outras coisas, feitas com mimo e no momento. O lassi de manga com hortelã é extraordinário. Muito bom também o pão roti (uns crepes finíssimos que acompanham
o caril de lentilhas verdes com limão) e o pão paratha, embora esta versão não seja a tradicional, com camadas sobrepostas pinceladas com manteiga ghee. O “nan wrap” George Constanza (homenagem ao protagonista da série Seinfield), de atum e chutney de curgete com caril, por sua vez, é uma coisa pós-moderna que levaríamos
na marmita com muito gosto; e desconfio que o mesmo diria do seu primo, o Niles Crane (protagonista da série Frasier), de queijo Feta, chutney de cogumelos e nozes.

Ainda num nível alto estão
 as duas sobremesas que provei:
 a salada de frutas à mamanita 
e o fondant de chocolate com malagueta. Este último doce representou uma derradeira tentativa de levar comigo alguma capsaicina no sangue – coisa
 que pareceu não ir acontecer:
 no início, o bolo denso e húmido bloqueou o picante e só segundos depois a malagueta se libertou, em crescendo, na laringe, e soube bem.

É ainda muito recente este Darjeeling, o mesmo dizer do seu cabecilha. Há coisas a afinar. As doses deviam ser maiores e os preços menores. De resto, nada a dizer contra a carta ser curta, desde que os eleitos sejam todos muitos bons – que não foram, nas duas visitas que lá fiz na semana passada. Dito isto, o cuidado em fazer bem e em fazer diferente merece o meu louvor e a sua visita.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Rua João de Freitas Branco, 21 A
Lisboa
1500-714
Preço
Até 25€
Horário
Ter-Dom 12.00-15.00/19.00-22.00
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