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Xiaolongkan Hot Pot

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  • 3/5 estrelas
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  1. Xiaolongkan Hot Pot
    Francisco Romão Pereira
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  3. Xiaolongkan Hot Pot
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A Time Out diz

3/5 estrelas

Os hot pots chineses estão ao despique com os barbecues coreanos, a ver quem fica mais trendy. Alfredo Lacerda foi ao Oriente sem sair da Gare.

A Gare do Oriente tem dado guarida a projectos do Oriente, o que é um acaso bonito. Mesmo ao lado do Xiaolongkan, por exemplo, viveu durante algum tempo um daqueles supermercados chineses grandes que visitamos com a alegria de uma criança num parque de diversões. 

Neste caso, o restaurante dá uma luz bonita às imediações da estação e sobretudo enche-a de uma aura exótica e intrigante, devido aos vapores que se soltam dos hot pots e da luz vermelha no interior do Xiaolongkan, cadeia chinesa presente em todo o mundo. 

De resto, quando lá entramos parece que mudámos de bairro, de país, de continente. Interiores em madeira, candeeiros pendentes e uma atmosfera a remeter para uma taberna misteriosa de Chengdu. A sala é enorme e aos domingos está cheia de famílias chinesas conhecedoras dos procedimentos.  

Para quem nunca comeu num hot pot, a estreia pode ser confusa. No centro da mesa, está o sítio do hot pot. O hot pot é uma espécie de tacho aberto com divisórias. No último almoço que lá fiz, escolhemos três divisórias para outros tantos caldos: o de Sichuan, picante (nível 3, o máximo), outro à base de cogumelos e outro com polpa de tomate. É nesses caldos que depois vamos imergir os ingredientes. 

Que ingredientes? A lista é imensa e exuberante. Um dos atractivos dos hot pots, para os chineses são as texturas – e também por isso o Xiaolongkan é um festim de vísceras e miudezas: línguas (de pato, porco, vaca), tripas, tendões, veias. Devemos por isso abraçar a experiência como uma aventura no mundo da anatomia animal. 

Foi assim que encarei, por exemplo, a minha estreia na aorta de porco. Estava à espera de um tubinho ensanguentado cortado em pedaços, mas a artéria surgiu na travessa aberta e espalmada, em forma de quadradinhos alvos e uniformes. Com uns pauzinhos grandes afundei-os depois no caldo de cogumelos, o mais neutro, durante apenas meia-dúzia de minutos. 

E a que sabe artéria de porco? Na verdade, a aorta não tem grande sabor. É parecida com cartilagem e talvez por isso me tenha lembrado a orelha suína – e os chineses a adorem. As travessas foram chegando, tudo cortado a regra e esquadro, muito arrumadinho e brilhante. As carnes pareciam mesmo pintadas, como numa natureza morta. Há coisas mainstream, também, de lombo de novilho a porco preto. 

Mas não esquecer os vegetais. A minha sugestão é que, num grupo de quatro pessoas (e faz sentido irem, no mínimo, quatro pessoas), peçam a travessa de vegetais mista, onde entram desde cogumelos a raiz de lótus. 

É preciso, todavia, não esquecer também os molhos. Os molhos têm uma secção de buffet, à parte, em modo faça-você-mesmo, com dezenas de condimentos. Os empregados da casa, muitos competentes, tratam de fazer uma demonstração e preparam eles próprios aquele que será o molho mais popular, como exemplo. Não apanhei os ingredientes todos, mas era uma pasta que levaria manteiga de amendoim e pasta de sésamo com ervas e especiarias várias. 

A ideia, portanto, é cozer os ingredientes retirados crus das travessas, no hot pot, e depois passá-los pelos molhos. O que daqui resulta, muitas vezes, é que o sabor dos ingredientes perde-se – e o que fica, de facto, são quase só as texturas. As texturas e uma sensação na boca familiar. 

Os hot pots do Xiaolongkan, como os de 90% dos restaurantes de hot pot do mundo, têm MSG adicionado. Nada de surpreendente. As pessoas que comem em restaurantes ingerem frequentemente o pozinho. O MSG é a sigla para glutamato monossódico, muito usado como intensificador de sabor. Os restaurantes asiáticos usam-nos frequentemente, mas ele está também presente em tascas portuguesas de patine tradicional, e também nos outros restaurantes sem patine, tantas vezes sob a forma de cubinhos de caldo carne arrumados atrás das chouriças no armário da copa. 

Não vem mal ao mundo para a saúde das pessoas, por causa do MSG, nas doses em que os portugueses o consomem habitualmente. Há quem diga, aliás, que o MSG tem benefícios, em quantidades baixas, quanto mais não seja porque pede menos sal. O problema é que o pozinho, por vezes, substitui outras coisas boas e domina a cozinha. 

No Xiaolongkan, o hot pot chinês de que se fala em Lisboa, senti isso. E não é fácil sentir MSG, porque ele não tem aroma, isolado, e também não tem um sabor distinto. Mas há um odor que se solta daquele hot pot que eu não encontro, sei lá, num caldo de frango ou num caldo de verduras verdadeiros – a mesma sensação que tenho quando como uma sopa de noodles asiáticos de pacote. O problema pode não ser o MSG, mas o facto de o MSG suscitar uma espécie de preguiça culinária, que incentiva aos aditivos e desmerece ingredientes de qualidade. 

Em síntese. O Xiaolongkan tem uma fórmula testada em centenas de restaurantes da cadeia. Isso dá garantias de um mínimo de qualidade e segurança alimentar. De resto, a experiência é divertida e deve-se lá ir nem que seja uma vez na vida. Eu já lá fui duas. E já tenho a minha dose.

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Avenida Dom João II Estação do Oriente, Lote 1.15 Loia G-213/4-F4
Lisboa
1990-233
Preço
20-30€
Horário
Seg-Dom 12.30-00.30
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