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Portefólio: Um símbolo do nosso tempo

Rodrigo Cabrita foi distinguido com um POY, um dos prémios mais importantes no fotojornalismo, por uma imagem que é ponto de partida para um balanço de um ano de pandemia.

Sebastião Almeida
Escrito por
Sebastião Almeida
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Contas feitas, a pandemia altera-nos a vida há mais de um ano. Rodrigo Cabrita, fotojornalista freelancer, é um de tantos que tiveram de se adaptar à nova realidade. Ainda antes de a Covid-19 chegar em força, o ano avizinhava-se estranho e o trabalho “já ia escasseando”, recorda. Em casa, durante o primeiro confinamento, decidiu registar o dia-a-dia da família num “exercício de criatividade o mais honesto possível”. Ao mesmo tempo que fotografava a vivência em casa, os encontros emocionados com pais e avós, sentiu que era altura de ir fotografar o que estava a acontecer: foi para dentro dos hospitais e documentou durante mês e meio, entre Abril e Maio de 2020, o que era vida nestes locais.

Uma das fotografias que fez de Francisco, 13 anos, a primeira criança infectada com o novo coronavírus no país a desenvolver sintomas semelhantes aos da síndrome de Kawasaki, uma doença rara que consiste numa inflamação dos vasos sanguíneos, que pode afectar o coração, valeu-lhe uma menção honrosa no Pictures of the Year International, um dos concursos mais importantes do fotojornalismo, a seguir ao World Press Photo. Um pretexto para o fotógrafo de 43 anos conversar com a Time Out e contar como têm sido estes tempos extraordinários, como a fotografia obriga a reinventar-se e como a precariedade no jornalismo condiciona o trabalho de quem o faz.

As imagens de Rodrigo, que mostram as filhas em casa ora aborrecidas, ora exuberantes ou a brincar, continuam a ser uma realidade próxima quase um ano depois. “A certo ponto, o assunto esgota-se em casa. As rotinas são mais ou menos as mesmas.” Mas daqui a dez anos, aponta, “se calhar as imagens terão um interesse imenso, um bocadinho como qualquer registo, que ao fim de alguns anos ganha uma nova importância.” Olhando para trás, têm sido tempos muito intensos. A fotografia de uma das filhas deitada com a avó num piquenique organizado depois de meses à distância é, talvez, um dos melhores exemplos do que se tem vivido. “Essa foto é de há quase um ano e a situação é praticamente idêntica. Resolvemos ir fazer um piquenique, planeámos tudo. Mas quando chegámos foi um descontrolo emocional muito grande. Todos de máscara, mas houve abraços, houve choro.”

Mergulhou na realidade dos hospitais um pouco por romantismo e amor à profissão, confessa. Nenhum órgão de informação teria interesse em pagar-lhe por essas imagens. Passou pelo Curry Cabral, pela Maternidade Alfredo da Costa, pelo Dona Estefânia, e andou pelas suas cozinhas, salas de costura, passou tempo com o pessoal da manutenção “num registo da adaptação dos hospitais à pandemia”. Quis ir mais fundo e não mostrar apenas médicos e enfermeiros nas unidades de cuidados intensivos. “Há todo um trabalho transversal à dinâmica de um hospital”, diz.

Foi no Dona Estefânia que fez a fotografia de Francisco, “provavelmente a mais forte” de toda a sua carreira de fotojornalista. Nessa imagem tocante, vemos a criança numa unidade de cuidados intensivos. A lágrima que lhe escorrega do rosto é uma reacção involuntária do corpo à medicação que lhe estava a ser administrada. Um amigo chegou-lhe mesmo a confessar que essa imagem “poderia ser um símbolo do que estamos a viver”. Hoje, Francisco está bem, e continua a sua recuperação em direcção a uma normalidade que há um ano lhe foi puxada de debaixo dos pés.

“Foram tempos muito intensos, parecia um filme. Não se via ninguém na rua. Decidi pôr os meus em risco só pelo facto de querer ser romântico e fazer algo para registo próprio”, reflecte. Muitas das fotografias desse tempo ainda não foram mostradas. A de Francisco ganhou visibilidade devido ao prémio, mas para breve poderá estar um livro e uma exposição como resultado da colaboração com o Centro Hospitalar de Lisboa Central, entidade que lhe facilitou o acesso aos hospitais. Questionado sobre se uma fotografia tão emotiva como a que viu premiada conseguirá alertar para o perigo da situação que ainda vivemos, o fotógrafo quer acreditar que imagens como essa ainda têm alguma influência. “Os tempos fazem diluir um bocado a mensagem, mas ela está lá.”

A distinção “foi um pequeno incentivo” para perceber que continua no caminho certo. Os concursos, lamenta, são “uma forma de dizer ‘estou presente’ e são sempre subjectivos. Há um júri que recebe carradas de fotos e atribui prémios a uns e a outros não”. Sobre a precariedade no jornalismo, considera que a pandemia acabou por tornar os jornalistas “um pouco mais iguais em todo o mundo, pois todos cobrem o mesmo assunto”. Mas que o problema reside efectivamente nas limitações do mercado do nosso país. Ser fotojornalista é um desafio constante. Rodrigo sabe-o e faz por se reinventar.

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