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Abril em Lisboa: quatro perguntas a Manuel Mozos

Escrito por
Miguel Branco
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Abril em Lisboa, organizado pela EGEAC, traz-nos Censura: Alguns Cortes (1999), filme de Manuel Mozos, para ser visto de 22 a 24 de Abril na sala privada da Rank Filmes, junto ao Cinema São Jorge

Em 1998 a Cinemateca Portuguesa convidou o realizador português Manuel Mozos para se debruçar sobre um acervo de filmes censurados (produzidos entre os anos 50 e 1972) que tinha em sua posse. Mozos aceitou prontamente, mesmo sabendo que aquele objecto de estudo era tão interessante quanto perturbador. O resultado foi Censura: Alguns Cortes, uma montagem de filmes que agora pode ser vista na sala de visionamento privada do antigo edifício da Rank Filmes, onde a Comissão de Censura aos Espectáculos terá visto uma significativa amostra de filmes, de Renoir a Rossellini. 

A exibição faz parte do programa Abril em Lisboa, desenvolvido pela EGEAC com o intuito de reflectir a liberdade e resistência em Portugal e em todo o território latino-americano. De 19 a 25 de Abril há festivais, conversas, workshops, concertos e filmes – que pode ficar a conhecer melhor na próxima Time Out, nas bancas no dia 19.

Para já, fique com 4 perguntas a Manuel Mozos. 

Enquanto realizador, e enquanto português, como foi mergulhar neste espólio de censura? 

Isto começou em 1998, quando a Cinemateca me convidou para fazer uma montagem sobre uns cortes que tinha na colecção. Obviamente que sabia que tinha existido censura, mas realmente para mim foi um misto de fascínio e aperceber-me de um lado negro da história. Ou seja, há aqui uma ambiguidade. Enquanto trabalho de investigação é muito estimulante, mas ao mesmo tempo é trabalhar sobre materiais que demonstram o lado sinistro da censura relativamente ao cinema. 

Do que encontrou nesses cortes, o que mais o fascinou?

Há muita coisa que me surpreendeu porque nunca imaginei que certas cenas, determinados filmes, fossem cortados. Para dar alguns exemplos: algumas animações da Disney dos anos 50, como é o caso do Pinóquio ou a A Dama e o Vagabundo.

O que é que leva filmes desse género a serem censurados?

Nos filmes da Disney, ou noutros direccionados para um público mais jovem, a censura quase nunca era de ordem política, era sobretudo da violência das imagens para espíritos ainda não muito formados. A cena da perseguição da baleia ao Pinóquio e ao Gepeto, por exemplo, foi cortada devido às imagens violentas que podiam ser perturbadoras para uma criança. Mas depois há muita coisa que tem a ver com erotismo e que hoje em dia, para nós, não faz qualquer sentido. Uma senhora em biquíni, por exemplo, um beijo... Isso podia ter intervenção da censura. 

O facto de este filme ser visto na sala da antiga Rank Filmes, onde alegadamente a comissão de censura viu alguns filmes, traz um simbolismo extra à coisa?

Obviamente tem um significado especial. É para mim interessante que se volte às salas onde se processou a censura e até, de algum modo, se possa entender o contexto. Nestes dias, as pessoas que visitarem a sala da Rank poderão ter uma noção aproximada do que seriam os visionamentos da censura. São salas com características específicas, com poucas cadeiras, percebendo-se logo que é uma coisa bem mais privada.

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