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Mamma Mia e Sorbettino: as duas novas gelatarias em Lisboa são uma história de amor

Escrito por
Catarina Moura
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Apaixonaram-se pelos gelados só recentemente, mas foi daquele amor tão arrebatador que os levou a abrir gelatarias. Pedro Simas é cientista e criou o Sorbettino porque se encantou com a bioquímica do fabrico do gelado; Natale Tassitani nasceu e cresceu em Itália, mas só em adulto provou um gelado que o convenceu — agora é dono da Mamma Mia, em Campo de Ourique.

“Lembro-me perfeitamente desse gelado”, recorda Natale numa das mesas da loja pequena e escondida em Campo de Ourique: no 147 da Rua Saraiva de Carvalho há que seguir por uma arcada para encontrar a Mamma Mia à esquerda. O tal gelado que comeu há 10 anos era de pêra e avelã, já o italiano era homem feito, tinha trabalhado como arquitecto e preparava-se para mudar de vida e estudar cozinha. Na aldeia onde cresceu na Calabria ninguém fazia gelados de jeito, conta à Time Out Lisboa. Aquele era tão maravilhoso que só pensava em aprender mais.

Daí a abrir esta nova gelataria de bairro, onde os vizinhos chegam pelo boca-a-boca, foi um salto. Um não, três: veio de férias a Lisboa, gostou de Campo de Ourique, mudou-se para cá — fixou-se em Dezembro e a gelataria abriu há menos de um mês, “com sabores simples e preços populares”, descreve Natale — dois euros um cone ou copo com dois sabores; 3 euros, três sabores. Há ainda dois sabores de granizados por dia e fazem-se batidos com os gelados.

mamma mia, campo de ourique, gelataria
A Mamma Mia em Campo de Ourique ainda é um segredo dos vizinhos do bairro
©Francisco Santos

Há uma variedade de frutas com que o próprio Natale está impressionado – em Itália ninguém pega em gelados de fruta, diz. Já fez amizade com a frutaria Maçã de Adão e a fruta vem toda de lá: chega de manhã, pergunta "o que há hoje?" e atiram-lhe (figurativamente) com pêssegos, melancias, meloas, bananas ou morangos maduros que vão rodando no balcão da Mamma Mia. Não poderia faltar na casa de um italiano o gelado avelã e o de pistácio, em que de se sentem os frutos secos moídos.

Todo o processo é feito na cozinha com janelas para a rua, onde qualquer um se pode pôr a tentar perceber alguma coisa do assunto logo às nove da manhã, quando Natale começa a trabalhar e tentar esgotar todas as possibilidades. O arroz doce mantém-se com sucesso e foi uma prenda que o italiano quis dar a Lisboa; já o clássico italiano panne, burro e marmellata (pão, manteiga e doce) não pegou. Talvez o caminho esteja em nomes italianos que o ouvido português conhece, como o tiramisu, já em testes.

mamma mia, campo de ourique, gelataria
O gelado de arroz doce da Mamma Mia foi uma prenda de Natale a Lisboa
©Francisco Santos

No Chiado, a Sorbettino trabalha de forma bem diferente, essencialmente para clientes turistas de todo o mundo, e arriscam-se sabores originais. Há abacate, toranja e hibisco ou matcha, todos cheios de sabor e com consistência sedosa, mas que são demasiado fortes para se comerem sem uma colherada de gelado de baunilha ou limão, em copos ou cones pequenos (2,90€), médios (3,90), ou grandes (5,50€).

Pedro Simas é especialista em virologia na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e no Instituto de Medicina Molecular, é apaixonado pela ciência e nunca a vai deixar — “estudar em Cambridge muda-nos a personalidade”, conta — mas sempre adorou comida e durante muito tempo tentou reproduzir em casa os melhores pratos que comia na rua. Com os gelados foi tudo muito rápido e recente. “A única memória que tenho de gelados é de quando congelava uvas. Estava sempre a abrir a porta do congelador, a minha mãe até se chateava comigo”, recorda. O interesse por gelados que são bem mais do que fruta congelada começou em Janeiro. Pedro foi três semanas para Bolonha aprender os pormenores e no final de Maio abriu a Sorbettino no 23 da Rua da Misericórdia.

Na Sorbettino pode comer um gelado mesmo à beira da cozinha
@Francisco Santos

“A primeira coisa que me interessou nos gelados foi a parte técnica. Adoro matemática e percebo as características bioquímicas dos ingredientes por isso foi rápido. O ingrediente mais importante é a água, que tem de estar entre o estado líquido e o sólido, ligada aos ingredientes e que tem tendência para formar cristais”, explica, avançando que, como na ciência, também nos gelados é o pequeno detalhe que faz a diferença. “Um brix da fruta [o seu grau de açúcar] ligeiramente mais alto pode significar que o gelado vai ficar mais duro. É preciso um grande rigor na temperatura e nos ingredientes”, continua o cientista para quem o mais difícil foi encontrar os fornecedores certos – encontrou os pistácios da Sicília, por exemplo, e fez questão de ter chocolate Valrhona, que associa à infância. Vai havendo alternadamente gelado de Valrhona Caribe 66%, Guanaja 70% ou Araguani 72%, sempre feitos com água e não com leite, para que o sabor do chocolate não se atenue, diz Pedro — é um gelado de chocolate vegan, como se lê na parede, na lista de sabores.

O gelado de laranja vermelha e hibisco tem o travo da toranja e a cor da flor de hibisco
©Francisco Santos

Por agora, os 16 sabores disponíveis, alguns rotativos, são feitos todos os dias por Jefferson Sandes, que pesa tudo à grama e reproduz as receitas de Pedro na cozinha aberta ao fundo da loja do especialista em vírus que nunca imaginou abrir uma gelataria.

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