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No CCB, faz-se um raio X à fotografia de arquitectura de Fernando Guerra

Escrito por
Francisca Dias Real
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O arquitecto desenha, a obra nasce. Depois, chega Fernando Guerra e fotografa tudo, ou pelo menos é o que tem feito nos últimos anos como fotógrafo de arquitectura. A partir desta terça-feira, 11 de Julho, a Garagem Sul do Centro Cultural de Belém enche-se com o seu arquivo documental em “Fernando Guerra – Raio X de uma prática fotográfica” 

Ao entrar na Garagem Sul não se assuste com a quase instalação artística que é aquela mesa de 60 metros (leu bem:60) que ocupa a garagem do início ao fim. A mesa está repleta desse arquivo, que é como quem diz, cheia de uma vida inteira de Fernando Guerra. Revistas, fotografias, livros e material de fotografia (acessórios, drones, objectivas e máquinas) que guarda consigo – e ainda bem, porque de outra forma não tínhamos acesso a esta incrível documentação. “Quando as máquinas me dão grandes fotos, tenho muita dificuldade em desfazer-me delas. Ficam comigo”, explica Fernando Guerra, que ainda mantém a primeira câmara que os pais lhe compraram.

Luís Santiago Baptista, o curador da exposição, quer que a arte fotográfica chegue a todos através de todas as plataformas. “Esta mesa conta uma história, é uma autêntica linha cronológica do trabalho do Fernando e do irmão no estúdio FG+SG”, continua.  

Além da mesa principal, a garagem está dividida por áreas distintas, ou melhor, por pontos de vista diferentes: o de Fernando, o dos arquitectos e o dos críticos. De um lado da mesa, pequenos ecrãs passam em revista uma série de fotografias acompanhadas por narrativas áudio de críticos de arte que analisam o trabalho de Guerra. Do outro lado está uma grelha de aço que suporta dípticos de fotos de Fernando Guerra escolhidas por arquitectos. 

“A ideia principal é mostrar o trabalho autoral do Fernando e cruzá-lo com a sua relação com a sociedade, daí convocarmos diversas narrativas que nos chegam”, conta à Time Out Luís Santiago Baptista. Já o ponto de vista do fotógrafo está patente nas nove fotografias que escolheu de entre os milhares que tem em arquivo e que marcaram de alguma forma a sua carreira. Fernando Guerra gosta de fotografia povoada, isto é, fotografia com gente dentro. Houve uma altura, explica, que as publicações especializadas exigiam uma mostra da arquitectura crua, mas como de nada serve ter edifícios sem ninguém para os habitar, o fotógrafo vê “o mundo mais povoado”. 

Guerra tem noção do seu trabalho e faz questão de afirmar que as “fotografias são apenas representações e não substituem a visita e a apreciação da obra de arquitectura em si”. O fotógrafo assume-se como mensageiro, ou seja, um verdadeiro espectador que leva a arquitectura até si, que está em casa e não pode viajar até à China e ver o Shihlien Chemical Industrial Park Office, de Siza Vieira e Carlos Castanheira.

Para o futuro, Fernando Guerra não tem planos porque o seu trabalho “é muito uma descoberta diária”. “Só há uma coisa que eu sei: para as coisas acontecerem, eu tenho de trabalhar imenso. De resto, as coisas surgem e acontecem”, explica Fernando Guerra.

A Garagem Sul do CCB é uma verdadeira garagem, mas a verdade é que até agora nunca foi usada como tal – um conceito que Fernando Guerra também quis mudar. Assim, além das fotografias, livros, revistas e material fotográfico, vai encontrar três Porsches antigos. “Sempre gostei de carros. Comecei também a fotografá-los e, sem querer, já estava a fazer fotografias para a Porsche”, contou. Estes foi Fernando Guerra que restaurou e pôs a funcionar, outro dos hobbies do fotógrafo que não esconde o prazer que lhe dá tornar-se mecânico de vez em quando. Mas isso são outros quinhentos. 

CCB. Praça do Império (Belém). Até 15 de Outubro. Ter-dom 10.00-18.00. 4€

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