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Afropreneurs Report
© Francisco Romão Pereira/ Time Out LisboaSharolyn Wynter (canto superior, à esquerda), Caterina Foá (canto inferior, à esquerda), Rudolphe Cabral (no centro), Liliana Rosário (canto superior, à direita) e Laurentino Costa (canto inferior, à direita)

Startups portuguesas têm apenas 1% de empreendedores negros

São jovens, ambiciosos e têm formação académica, mas estão sub-representados no ecossistema de inovação. A conclusão é da Djassi Africa, que promoveu um estudo sobre afro-empreendedores e os seus negócios em Portugal.

Raquel Dias da Silva
Escrito por
Raquel Dias da Silva
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“A falta de diversidade e equidade está a custar ao ecossistema português lucros, talento e inovação.” Fernando Cabral não se cansa de o repetir. A viver em Londres, o guineense é co-fundador da Djassi Africa, juntamente com o seu irmão Rudolphe Cabral, e Portugal – onde cresceram e fizeram grande parte do seu percurso profissional – foi o país que escolheram para começar a mobilizar e empoderar empreendedores da diáspora africana como parte da estratégia da empresa, uma venture builder [que injecta recursos para desenvolver startups e as prepara para futuros investimentos] focada na transformação no continente africano. Mas, na hora da verdade, confrontaram-se com a gritante falta de visibilidade de black founders, empreendedores africanos e afro-descendentes. Foi essa a razão porque decidiram promover o Afropreneurs Report, um estudo exploratório que procurou mapeá-los e caracterizá-los, e aos seus negócios no país, lançando ainda luz sobre as limitações que encontram no acesso às redes e ao capital necessário para crescer.

“O nosso foco não é fazer relatórios. Nós estamos na linha da frente. Mas como é que podemos trabalhar os ecossistemas sem referências? Como é que temos conversas se não temos números que nos guiam e nos contextualizam? O ano passado fomos venture partners da Google no Reino Unido – preparámos 13 startups para o Black Founders Fund [fundo para startups lideradas por afro-empreendedores], das quais três foram bem-sucedidas –, e perguntaram-nos onde andavam as startups portuguesas. De facto não tínhamos nenhuma, e começámos a pensar nisso. Se é de inovação que se trata, a diversidade é uma métrica de desenvolvimento: os ecossistemas mais diversos são mais maduros”, diz Fernando, com quem conversamos por Zoom. Rudolphe também está presente, numa terceira janela. É a segunda vez que nos vemos. A primeira foi em Março, na União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, onde apresentaram as conclusões da investigação, feita entre Julho e Dezembro de 2022, em parceria com a professora e investigadora Caterina Foá e uma equipa do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE.

Quantos são? Quem são? O que estão a fazer? Que dificuldades enfrentam? Como é que os podemos apoiar? Depois da primeira pergunta, já não conseguiram parar, confessam. As respostas, essas, não foram imediatas nem claras. Começaram por “pesquisar à antiga”, para tentar perceber quantos empreendedores existem no ecossistema português e quantos são africanos ou afro-descendentes: chegaram a 1059 empreendedores, dos quais apenas 0.8% são negros. “A média europeia é 3% de black founders incluídos no ecossistema [de inovação]. No UK, que é o ecossistema mais desenvolvido da Europa, é 6%. Portanto, logo à partida, sabíamos que Portugal estaria entre 1% e 3%, porque nunca estaria acima da média europeia. Só não sabíamos o valor exacto, e a principal mensagem é: sabemos que o gap existe, vamos assumir o gap, e vamos trabalhar em conjunto para mudar o paradigma”, desafia Fernando.

Segundo a Startup Portugal, há mais startups registadas no país: 2151 para sermos mais exactos, mas não há propriamente uma caracterização dos agentes envolvidos. “Não há dados oficiais em Portugal sobre o nível de diversidade do ecossistema, do ponto de vista étnico e de género”, esclarece Rudolphe, evocando uma provocação feita por Fernando em Março: “Na ausência de estatísticas, as nossas valem.” Os resultados, entretanto anunciados, baseiam-se numa amostra de 200 empreendedores negros, que responderam a um questionário lançado online (esteve aberto entre Julho e Agosto do ano passado) e divulgado em diferentes canais e meios de comunicação, por nomes como Dino D’Santiago, músico e responsável pelo projecto Lisboa Criola, e Vanessa Sanches, coordenadora editorial da revista digital Bantumen.

“[O Afropreneurs Report] é o primeiro deste tipo no país e neste sector específico. Por isso mesmo foi desenhado e realizado por uma equipa especializada, com todo o rigor científico, cuidados metodológicos e dedicação necessária”, assegura Caterina Foá, que reforça, por um lado, a importância do trabalho que co-assina, sobretudo “considerando a ausência de estudos prévios”; e, por outro, a “elevada adesão”. Além do questionário online, foram realizadas 40 entrevistas individuais e de grupo, para uma análise qualitativa “que enriquece a granularidade dos resultados estatísticos e representa directamente as vozes e as experiências” dos vários players, dos empreendedores aos investidores. “Era importante termos uma baseline objectiva. A partir de agora é que começamos a trabalhar”, acrescenta Fernando, para quem é necessária mais investigação, inclusive por parte de organismos governamentais e organizações de apoio ao empreendedor. Esta é, aliás, a primeira das dez recomendações que encerram o relatório. Mas já lá vamos.

Há talento e experiência para dar e vender

Dos 200 black founders perfilados, a maioria tem entre 25 e 34 anos (48%), é formada ao nível do ensino superior (76%), fala duas ou mais línguas (67%), provém ou descende de imigrantes dos PALOP (81%), vive em Lisboa (84%), e é mulher (54%). Segundo o relatório, que considera e cita outros estudos internacionais, a predominância de mulheres contrasta com as estatísticas nacionais e europeias sobre empreendedorismo feminino, mas está em linha com a tendência verificada no continente africano, onde se estima que representem 58% do total da população auto-empregada. “Neste ponto, importa destacar a relevância de ter pessoas de contextos diversos a analisar os dados. Como operamos em África e estamos familiarizados com o fenómeno, que é histórico, [sabemos que] é natural”, diz Fernando. Rudolphe complementa: “Realmente não há falta de mulheres a tentar inovar. Existem é outros problemas que as impedem de ter visibilidade [apenas 11% tem acesso a incubadoras e programas de aceleração].” É por isso que o Afroprenerus Report inclui uma secção dedicada a destacar a sua experiência – curiosidade: são mais qualificadas do que os homens, mas demonstram menos confiança na sua capacidade de angariar investimento.

Já no que diz respeito às suas motivações, tanto homens como mulheres parecem concordar no top 3 do que os leva a empreender: ser financeiramente independente (98%), solucionar um problema da sociedade ou de uma determinada comunidade (89%), e seguir um interesse, paixão ou desafio (72%). Mas – quer tenham só uma ideia (35%), uma startup (40%) ou um negócio digital (25%) – apenas 39% se encontra dedicado a tempo inteiro. A maioria concentra-se nos media e indústrias criativas, tecnologia da informação, consultoria e finanças, e o projecto nasceu depois do início da pandemia, entre 2020 e 2022. Nas startups, “temos por exemplo algumas fintech [que operam no sector financeiro com soluções tecnológicas inovadoras], como a da Vânia Fortes [Jupiter app], e muitas plataformas de e-commerce, como a da Liliana Rosário [Circular Closets]”, destaca Fernando, antes de fazer uma ressalva. “Quando desenhámos o questionário, a ideia era atrair apenas startups, mas rapidamente percebemos, pelas respostas, que íamos ter um número baixo – muitos dos negócios ainda não chegaram lá –, razão porque incluímos também negócios digitais e ideias de negócio, para que nos próximos relatórios possamos ver a conversão desses negócios e dessas ideias em verdadeiras startups.”

A questão que se impõe é: como se pode ser bem-sucedido com pouca ou nenhuma visibilidade? Além de sub-representados, os afro-empreendedores têm-se confrontado com vários desafios, em particular com o acesso ao investimento. Segundo o relatório, só 30% dos empreendedores negros receberam financiamento, com 54% a prever que será difícil alcançar o mesmo nos próximos nove a 12 meses. A falta de literacia na área – “maior do que se esperaria de um país onde se tem falado tanto de inovação, e que é casa da Web Summit [pelo menos até 2028]” – é apenas um dos factores a dificultar o acesso a programas e redes de apoio relevantes. O fosso entre empreendedores e investidores é gigante – e o maior de todos os problemas. “Os programas de incubação e aceleração [que facilitam o financiamento] estão feitos de maneira a que, por um lado, os black founders não lhes reconheçam valor e, por outro, não sejam escolhidos [para deles usufruir], porque as equipas que os gerem, os júris, os investidores, os mentores, nenhum desses grupos tem diversidade. É por isso que os negócios de grupos sub-representados são vistos como de alto risco.” Segundo o Atomica State of European Tech de 2021, a maior parte dos empreendedores que conseguiram financiamento são brancos. Apenas 1,8 mil milhões de dólares foram alocados por minorias étnicas, em comparação com os 103,9 mil milhões de dólares arrecadados por equipas exclusivamente brancas. No Reino Unido, por exemplo, só 0,24% do VC (capital de risco) foi para empreendedores negros entre 2009 e 2019, segundo dados de um relatório publicado pela Extend Ventures em 2020 – isto significa que, numa década, apenas 38 empresas de black founders foram financiadas.

O cenário não é animador, mas há margem para inverter a tendência a médio prazo. É aqui que entram as recomendações da Djassi Africa para se desenvolverem estratégias, programas e incentivos de apoio a afro-empreendedores. O objectivo é garantir acesso justo a recursos, redes e capital, contribuindo para um ecossistema mais inclusivo, onde todos possam prosperar. “Remover todas as formas de exclusão, activas ou inconscientes, não é a apenas a coisa certa a fazer, é a única coisa a fazer”, lê-se em “The Way Forward”, a última secção do Afropreneurs Report, que propõe DEZ soluções para as principais barreiras que impactam o empreendedorismo negro em Portugal. “Todas são importantes e se complementam, mas é importante reforçar a urgência de termos mais conhecimento e, portanto, de aprofundarmos o tema da representatividade em Portugal, e depois, diria que também é urgente criar programas dedicados a afro-empreendedores, para não termos apenas uma startup num [dos programas que já existem], mas várias dezenas”, remata Rudolphe.

Recomendado: Miguel Fontes: “Não haverá um momento mágico de abertura” para o Hub Criativo do Beato

Afro-empreendedores a ter debaixo de olho

LILIANA ROSÁRIO
© Francisco Romão Pereira/ Time Out Lisboa

LILIANA ROSÁRIO

Circular Closets

Filha de várias culturas e experiências. É assim que Liliana Rosário, 33 anos, se resume. Nasceu em Portugal, mas tem raízes cabo-verdianas e angolanas, e viveu grande parte da vida adulta na Holanda, onde se aventurou pela primeira vez no empreendedorismo, como co-fundadora da Defyner, uma plataforma de média que depois deu origem à Trippur, uma comunidade e marketplace de viagens, entretanto em suspenso. “Aprendi muito sobre abertura de mente [em Amesterdão]. Foi muito enriquecedor em termos de contacto com tanta diversidade de profissionais e de negócios, e claro, também cometi imensos erros, mas faz tudo parte do processo”, partilha a empreendedora, que é formada em engenharia biomédica e engenharia informática. “Quando regressei a Lisboa, foi para retomar o mestrado em gestão de sistemas de informação, mas com a pandemia o mundo parou de viajar. Ainda assim, foi incrível, porque essa experiência serviu para lançar um projecto [que me é] muito querido.”

Fundada em 2020, a Circular Closets é uma startup de e-commerce, que tem como missão ligar mulheres através de moda circular, empoderando-as, prologando o ciclo de vida de produtos têxteis e contribuindo para uma produção e consumo mais sustentáveis. “Sempre tive esta tradição de fazer passar peças únicas entre gerações, da minha avó para a minha mãe, para mim, e depois gosto imenso de arte, de estar rodeada de diferentes formas de expressão”, diz, com entusiasmo. “Começámos com [curadoria de] closets de amigas, depois contactámos influencers [como Laura Ferreira, criadora de conteúdos digitais, e Evódia Graça, coach de liderança feminina], que se alinhassem com os nossos valores, e recentemente decidimos trabalhar também com profissionais, desde conscious designers a proprietárias de boutiques com peças premium [como a Samissone, de Teresa Samissone, e a Kapable, de Mélissa Ablé Baptista].”

Implementar o seu MPV não teria sido tão fácil se não tivesse qualificações em tecnologia, mas Liliana – que faz questão de reforçar que tem contado com a sua irmã Raquel, vários colaboradores e uma grande comunidade – não nega terem existido outros desafios, principalmente o ser mãe e “as burocracias que existem em Portugal, que são francamente maiores do que as que existem na Holanda, e claro, a questão das políticas legais e taxas”. Por outro lado, ainda está a fazer bootstrapping, o que significa que ainda depende das suas finanças pessoais e das receitas operacionais para fazer crescer o negócio. “Nunca procurei financiamento externo, mas é algo que considero nesta fase, já depois de ter participado em programas de aceleração e mentoria, e ter percebido melhor o posicionamento que acrescenta mais ao mercado e se alinha com o nosso propósito”, esclarece, revelando que planeia “internacionalizar”. “Recentemente fui seleccionada para outro programa a nível internacional [The Break Fellowship], com fundos da União Europeia, que se vai realizar em Espanha. Tenho muito boas expectativas.”

SHAROLYN WYNTER
© Francisco Romão Pereira

SHAROLYN WYNTER

Xpat Inc.

Com 38 anos, a afro-americana Sharolyn Wynter está empenhada em melhorar a mobilidade social e o bem-estar da comunidade negra através da sua startup, a Xpat, uma plataforma e app para black expats. “Nasci e cresci em Detroit [nos Estados Unidos], mas os meus pais são da Jamaica. Desde muito cedo que tenho noção do que é construir uma vida fora, viver longe [da nossa pátria], e dos desafios de ser estrangeiro”, conta Shar (é assim que se apresenta), antes de revelar que conseguiu uma bolsa da NASA para “Mulheres em Ciência e Engenharia”, que a permitiu formar-se em Matemática no Spelman College, uma faculdade para mulheres negras na cidade de Atlanta. “A minha introdução à área da tecnologia foi precisamente através desse programa, porque fazíamos estágios e isso levou-me a uma pós-gradução em Pesquisa Operacional e Engenharia Industrial e Sistemas. Formei-me em ambas e depois entrei directamente no mercado de trabalho. O meu primeiro emprego foi na Deloitte, na área de tecnologia. Foi um desafio para mim, mas também uma experiência incrível, porque descobri que tinha uma paixão por tecnologia, plataformas digitais e pela forma como podemos usar informação para ajudar negócios, melhorar processos e, no fundo, tornar a nossa vida melhor.”

A Deloitte foi também a razão porque se tornou uma entusiasta de viagens – e, ainda sem se aperceber, percorreu o caminho necessário para se tornar também uma empreendedora. “Adoro viajar, mas não tinha dinheiro na altura, então quando consegui esse emprego, tornou-se bastante frequente [viajar em trabalho], e até me candidatei para trabalhar no exterior. Escolhi Londres porque achei que tinha de saber falar a língua para viver fora [do meu país], mas agora, que me mudei para um país como Portugal sem saber falar a língua ainda, sei que isso não é necessariamente verdade. Mas, enfim, foi espectacular. O início foi difícil, claro, mas depois conheci a comunidade de expatriados, e foi revolucionador.”

Shar ainda regressou aos Estados Unidos, mas quando perdeu o pai tornou-se claro que estava na hora de se mudar novamente e reclamar a liberdade que tinha sentido. “Perder um pai força-nos a colocar as coisas em perspectiva. Comecei a poupar agressivamente para poder comprometer-me com a vida que sempre desejei, uma em que fosse possível priorizar a minha saúde física e mental, e o meu bem-estar financeiro.”

Depois de uma muito necessária soul-searching e de ter aproveitado a quarentena para fazer cursos online, Shar escolheu Portugal para viver a vida com que sonhou: “Já cá tinha estado em 2017, e a sensação que tive de pertencer aqui foi surreal. Não parava de me gabar à minha mãe”, conta, por entre risos. A principal razão prende-se a segurança. “Antes de me decidir, pesquisei sobre a experiência das pessoas negras em diferentes países, mas não como viajantes, porque viver num país e estar num país por duas semanas é muito diferente. E acabei por ceder ao meu desejo de me mudar para Portugal.” Mas a dificuldade que sentiu em encontrar informação organizada inspirou-a a entrevistar pessoas e a criar uma app onde pudesse partilhar esses testemunhos num único sítio. Disponível para Android e iPhone, a Xpat conta agora com representação de mais de 130 países e territórios em todo o mundo. Nem tudo foram rosas, claro. Ainda assim, Shar escolhe ver o copo meio cheio: “O maior desafio foi ter de acelerar o processo sem ter planeado fazê-lo, mas sabes, quando és demasiado rígida com os teus planos, não deixas espaço para que a vida aconteça.”

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LAURENTINO COSTA
© Francisco Romão Pereira/ Time Out Lisboa

LAURENTINO COSTA

Do to Give/handapp

Filho de imigrantes da Guiné-Bissau, Laurentino Costa, 30 anos, nasceu em Lisboa, cresceu no Catujal e vive no Cacém. Como muitos outros miúdos, também sonhou ser futebolista, mas foi na área da inovação e empreendedorismo tecnológico que acabou por encontrar a sua paixão. “No secundário, frequentei um curso de Programação de Sistemas de Informação, e tive oportunidade de estagiar na Mega 8 [como técnico de tecnologia de informação]. Mas, quando o meu pai me deu a escolher entre continuar a trabalhar ou entrar para a faculdade e abdicar desse emprego, decidi investir mais em mim e fui tirar uma licenciatura em Informática de Gestão na Universidade Lusófona”, revela o empreendedor e CEO da Do to Give/handapp, uma plataforma de crowdfunding socialmente responsável, através de cashback solidário, ainda em fase de implementação do seu MVP (minimum viable product).

A ideia – de criar uma app onde os consumidores pudessem fazer compras com vantagens exclusivas e, ao mesmo tempo, doar determinado valor à sua causa favorita – surgiu durante a pandemia, um período no qual muitas famílias, inclusive a sua, passaram por dificuldades. “Quando comecei esta jornada, inscrevi-me numa incubadora”, conta-nos, antes de revelar que essa primeira experiência foi também o primeiro confronto com a falta de representatividade negra no ecossistema português de startups. “Era o único [negro], e nunca senti falta de apoio, mas ter-me-ia sentido mais à vontade – para apresentar, para falhar – se tivesse rodeado também pela minha comunidade.” Felizmente, sentiu que podia contar sempre com o seu mentor, o co-fundador e director-executivo da Startup Sintra, João Cabral; bem como com a Djassi Africa e os seus fundadores, que conheceu pelo meio e com quem se encontrou pessoalmente na Web Summit de 2021. Os frutos não tardaram a surgir.

Em 2022, a Do to Give (agora renomeada handapp) foi uma das seleccionadas para o Rise for Impact, o programa de aceleração da Casa do Impacto; e o Road 2 Web Summit, um programa organizado pela Startup Portugal para apoiar a participação das startups portuguesas mais promissoras e garantir que representam bem o país no maior evento de tecnologia do mundo. Apesar disso, o caminho não tem sido fácil. Laurentino nomeia sobretudo os contratempos que foi tendo no desenvolvimento do seu produto, e que também estão relacionados com o desafio que é não ter fundos suficientes para se concentrar a 100%. “Trabalho [em part-time] de madrugada no IKEA e, durante o resto do dia, tento dedicar mais ao menos oito horas ao meu projecto. Durante a semana, durmo no máximo umas quatro horas. Mas tem sido complicado gerir, até porque tenho três filhos.”

Se tudo correr como previsto, Laurentino conta lançar a primeira versão até Setembro. Agora, está a desenvolver o software necessário para que as primeiras duas potenciais empresas aderentes possam experimentar. “Queremos ter três a quatro marcas antes de lançar a app”, explica. “Pretendo mesmo impressionar muita gente que duvidou e me tem dito para desistir. Ao alcançar esse objectivo, penso mudar alguns estigmas que existem na nossa sociedade, principalmente na nossa comunidade, [que perpetua a ideia de que] como não tive uma origem abastada é impossível criar alguma coisa.”

Outras startups a ter debaixo de olho

JUPITER APP

Fundada em 2022 por Vânia Fortes, contabilista certificada e trabalhadora independente, esta fintech permite aos trabalhadores por conta própria gerirem o seu próprio negócio através de uma única plataforma (59,04€/ano, mas é possível experimentar grátis durante um mês).

BAMBLE

Co-fundada em 2021 por Ayodeji Daramela, formado em administração pública pela Universidade Obafemi Awolowoe, na Nigéria, e em gestão, pela lisboeta NOVA SBE, esta startup simplifica o processo de contratação entre empresas e talentos, fornecendo acesso a uma comunidade especializada no digital, design e tecnologia.

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SAFIOO Society

Fundada em 2020 por Toby Thompkins, consultor com mais de 30 anos de experiência, é uma “plataforma de boa governança”, para ajudar empresas, executivos, empreendedores e investidores a gerar um impacto social mais alinhado com as suas metas filantrópicas.

Lisboa negra

  • Coisas para fazer

Música para dançar até de manhã, comida para aconchegar em qualquer altura, marcas inovadoras e projectos sociais. Há uma Lisboa a acontecer pelas mãos de pessoas negras que toda a gente deveria conhecer. Dino D’Santiago partilhou connosco a sua Lisboa.

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  • Miúdos
  • Crianças

Nelson Mandela, Grada Kilomba, Naide Gomes, Basquiat. Apesar da invisibilidade sistémica e de muitas outras adversidades, a história está repleta de personalidades admiráveis que têm contrariado preconceitos antigos e contribuído, incansavelmente, para um futuro melhor. Foi por isso – não para dar voz, mas para confirmar que as vozes sempre estiveram lá – que Lúcia Vicente decidiu pôr a descoberto as Raízes Negras do mundo.

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