
Dez lojas que fazem de Benfica um bairro típico
O comércio no coração de Benfica prospera numa mistura de novidades e lojas históricas.
Café moído na hora, jesuítas cobiçados até pela concorrência, pastéis de nata premiados, gelados com topping de insectos e um mercado de frescos onde nos tratam pelo nome: o comércio no coração de Benfica prospera numa mistura de novidades e lojas históricas. Tudo isto à porta do novo empreendimento Fábrica 1921 (www.fabrica1921.pt), que vai reforçar a oferta do bairro com mais cinco espaços comerciais e uma biblioteca municipal.

Dez lojas que fazem de Benfica um bairro típico
Casa de Cafés Solposto
“Tudo o que é bom não é rápido. Tudo o que não é rápido normalmente é muito bom.” A frase é de Sérgio Solposto, 55 anos, gerente desta Loja Com História. Vale a pena retê-la enquanto espera que o seu café, torrado a lenha na Flor da Selva, seja moído no momento. Isto enquanto se vai deixando seduzir por biscoitos e bombons, broas e rebuçados, licores, chás de mesa e plantas medicinais cujas qualidade e frescura vão tentá-lo a nunca mais ter pressa na hora de fazer as compras da semana. Filho de Pureza Lopes Calçada Solposto, a proprietária, Sérgio nasceu, cresceu e vive em Benfica. E ainda reconhece as antigas funcionárias da Fábrica Simões, a referência histórica do bairro onde agora vai nascer o projecto Fábrica 1921, que continuam clientes da loja. Deixe-se ficar a escolher devagarinho e vai ver que, além de produtos de primeira, também leva um naco sumarento de conversa. Sérgio Solposto tem sempre uma dica valiosa de oferta. Se é um principiante, comece por perguntar como se lavam as cafeteiras.
Evian
A receita dos jesuítas da Evian é segredo. O recheio de doce de ovos, condimentado com canela, e a cobertura mole polvilhada por pedaços de amêndoa motivam a fama e a cobiça. “Já é copiado por muitas casas, mas até hoje ainda não conseguiram. Imitam-no, mas não é a mesma coisa.” Fernando Nogueira, 73 anos, fala com orgulho da pastelaria que abriu em 1968, e em particular da estrela da companhia, o jesuíta, “um dos bolos mais famosos de Lisboa”. São confeccionados 400 a 500 por dia, o que significa que os apanha sempre quentinhos. “É apanágio da casa: acaba um tabuleiro, entra outro no forno”, diz. O preço é competitivo: 95 cêntimos. Mas não perca de vista o bolo-rei, o outro doce premiado cá do sítio.
Trucca
Prefere as lojas contemporâneas, self-service, de venda a granel? Benfica tem. Na Trucca, os produtos são sobretudo portugueses – azeite Manos Lince, conservas Briosa, rebuçados e mel Monte dos Bens – e os clientes encorajados a levarem sacos ou recipientes. Plástico, aqui, só mesmo se não houver alternativa.
Mÿ!ced Benfica
Uma loja gulosa, com uma colorida carta que vai do bubble tea aos iogurtes gelados saudáveis (sem glúten, lactose ou açúcar) e às waffles, crepes e panquecas a pingar chocolate e cobertas de frutas. O grande desafio da casa é provar o topping de larvas liofilizadas. Nunca pensou comer um gelado com insectos? Está na hora.
Pastelaria Nilo
É o ponto de encontro junto ao Palácio Baldaya. Uma instituição onde novos e velhos param para beber café, bicar a doçaria abundante, ler o jornal, pôr a conversa em dia e deixar-se ficar para os pratos do dia. Uma pastelaria à antiga com uma energia de fazer inveja às modernas. Ao lado, sempre à pinha, a padaria SOFAPA tem vianinhas e demais pães à moda das avós.
Alentejanicis
Queijos, enchidos, vinhos, azeites, azeitonas, compotas, licores... “É uma loja de produtos regionais, de coisas genuínas e alentejanas. O conceito é recuperar as coisas mais tradicionais da região”, explica Sérgio Cruz, o mais recente comerciante de Benfica. Abriu portas em Abril, mas está longe de ser um novato: tem outras duas lojas idênticas (em Mora e na Estrada Nacional 251) e há 19 anos que faz “trabalho de campo”. “Para encontrarmos um produto bom, temos de estar no sítio. Temos que conhecer quem os faz, ver como são feitos, prová-los, andar na rua, perguntar aos velhotes onde é que se fazem as coisas boas”, diz. “Pelo menos uma vez por mês, faço a volta inteira ao Alentejo.” Às terças, quintas e sábados, vai ele próprio a Mora buscar o pão que é responsável pela fila à porta da loja. O almece (requeijão fresco ainda no soro) e os petiscos conservados em vácuo artesanal – perdiz de escabeche, iscas de pato, coelho com molho vilão, cogumelos de fricassé – são outras das estrelas desta pequena mas farta loja.
Mercado de Benfica
A construção em anel lembra um antigo e desaparecido vizinho – o Estádio da Luz (1954-2003). O centro do terreno, aqui, é mais escamoso e brilhante do que verde, com robalos, douradas, garoupas, cavalas e sardinhas, ovas, mariscos e tenros moluscos. Para escolher, o melhor é andar em círculos, para assegurar que vê sucessivas repetições antes de decidir o que fica fora do jogo de compras. À volta, estão os frescos, o pão, os queijos, a charcutaria mais robusta, com produtos para todas as receitas regionais e internacionais (à atenção de apreciadores das gastronomias africanas e sul-americanas). O terceiro anel é vermelho vivo: é aí que estão as carnes, incluindo dois talhos especiais – um especializado em carne de cavalo e outro em carne de aves.
Pastelaria Fim de Século II
Uma pastelaria despretensiosa que pode apanhar desprevenido quem a julgar pela esplanada de plástico: é aqui que se encontra um dos melhores pastéis de nata da cidade (1€). A Fim de Século II foi a vencedora do concurso de 2016 “O melhor pastel de nata”, organizado pelo festival Peixe em Lisboa.
Ulmeiro
Os últimos anos têm sido atribulados, com a livraria num fecha-não-fecha. Mas os 50 anos festejados em 2019 trouxeram-lhe novo fôlego como editora independente e alfarrabista. Um bibliófilo pode demorar-se por aqui, a esgravatar prateleiras e a descobrir pechinchas.
Vidreira Central de Benfica
Natural de Viana do Alentejo, há meio século que Armando Reis aportou neste piso térreo, um dos últimos edifícios resistentes de uma época que já lá vai. Aqui vendiam-se móveis e electrodomésticos (o nome da loja vem de uma vida ainda mais antiga). Armando, que tinha sido electricista, decidiu ficar-se pelo mobiliário. E é assim até hoje. “Faço móveis a direito e laminados e tenho fábricas que trabalham para mim. Vendo camas, estantes, tudo. Fazemos cozinhas, muita coisa”, conta. Quer dizer: móveis por medida. Tal como a nova Fábrica 1921, que vai encaixar no que resta da antiga Fábrica Simões. “Vai ficar com a mesma fachada, isso é muito bom. Vai recordar o antigamente, para contar aos mais novos que existia ali uma fábrica com milhares de pessoas a trabalhar.”