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Na onda com Kikas

O MEO RIP Curl volta a levantar ondas entre 8 e 16 de março, e ninguém melhor do que Frederico Morais – o Kikas – para nos falar da importância do desporto, em Portugal e na sua vida.

Time Out em associação com MEO
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Como é que é, aos 7 anos, saber já o que dá sentido à tua vida? 

Eu descobri um hobbie que adorava, uma paixão que foi crescendo. Era algo que gostava de fazer, que me deixava feliz, mas não sabia que aquilo ia ser a minha vida, sabia que aquilo, naquele momento, era o que me deixava feliz.

Desde cedo conquistaste prémios e pódios. Como é que a tua família olhava para esta paixão?

Ao início ainda era tudo muito novo, não sabíamos o que era ser surfista, o que era ter o surf como profissão. Eu adorava passar o dia dentro de água, sempre de fato, a tentar ganhar campeonatos, mas acho que olhavam para isso como uma competição saudável, como um hobbie. Depois chegou a altura em que começámos a encarar isto de forma mais séria, quando começaram a aparecer patrocínios. Quando, com 14 anos, me sagrei campeão nacional sub21, passou a haver um compromisso mútuo, meu e da minha família: que eu iria atrás da minha paixão, sempre conciliando com os estudos.

O público português teve uma oportunidade incrível – a de acompanhar, passo a passo, um percurso de sucesso. Sentes que és um filho do surf português?

Sim. Sinto que o surf, em Portugal, cresceu imenso e que eu cresci com ele. Temos uma costa lindíssima, com ondas inacreditáveis. O surf em Portugal ainda é um desporto jovem. Como surfistas ainda temos muito a aprender, para melhorar, mas estamos num óptimo caminho, com cada vez mais campeonatos, mais miúdos a surfar, mais apoios, de marcas quer do mundo do surf, quer de fora.

Acreditas que o teu percurso alavancou o sucesso do surf em Portugal?

Quero acreditar que sim, porque nós não trabalhamos só para ganhar, trabalhamos também para deixar um marco, para fazer história, e para deixar um exemplo de como pode ser feito. Espero ter contribuído para alavancar o sucesso do surf em Portugal. Adoro ser um dos embaixadores, mostrar que nós temos potencial para estar dentro dos melhores do mundo.

Achas que és uma fonte de inspiração para jovens que tenham o sonho do surf? 

Acho que sim, e quero ser essa fonte de inspiração, mostrar que é possível sonhar, mostrar que é possível fazer do surf vida. Mas também quero mostrar que não é fácil, exige muitos sacrifícios, dedicação, trabalho. Se tivermos esses valores muito cientes, acho que é fácil conseguirmos atingir ou chegar perto dos nossos sonhos. 

Que conselhos darias a quem quer começar? 

O primeiro conselho é que seja mesmo um apaixonado por isto, porque é um desporto solitário. Muitas vezes viajamos sozinhos, perdemos sozinhos, e isso não é fácil, porque é um desporto onde perdemos muito mais vezes do que ganhamos. Saber lidar com a derrota, com a tristeza, é super-importante. Depois, preparar-se para fazer muitos sacrifícios, há uma data de coisas de que temos de abdicar para nos focarmos na carreira. São coisas das quais não me arrependo, porque no fim do dia este é o meu trabalho, a minha paixão, é aqui que sinto que posso deixar um marco e fazer a diferença na vida das pessoas.

Como é que te motivas a treinar mesmo nos dias mais frios?

Ui! É supercomplicado, às vezes não dá vontade nenhuma de ir surfar e de ir treinar, mas é aqui que entra a parte psicológica: sabermos dar a volta, arranjar motivação diária. Porque nos vai tornar competidores mais ferozes, saber que demos tudo para estar ali.

Existe um momento perfeito para surfar? 

Diria que todos os momentos são perfeitos. Mas existem as condições perfeitas para uma pessoa ir surfar. Sempre que há ondas boas é o momento ideal, e mesmo com ondas más, às vezes é superdivertido, se formos com amigos, com a família, com a namorada. O que não parecia o momento ideal para entrar na água acaba por ser um momento inesquecível. 

Há algum sítio em que ainda te falte surfar? 

Há vários sítios pelo mundo que me faltam surfar, várias viagens que quero fazer, sítios e ondas que gostava de conhecer. Na lista de viagens de surf, ainda há muitos destinos para riscar.

Kikas
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E o que é que ainda te falta conquistar? 

O meu grande sonho era qualificar-me para o WCT [World Championship Tour], sempre foi o meu maior objectivo, e já foi cumprido. Já fiz muito mais do que isso. Agora, o que me falta conquistar são objectivos pessoais. Um bom desafio, e eu tenho vindo a fazê-lo com a fundação Oceano Azul e com o Oceanário de Lisboa, é conquistar o coração dos mais jovens para nos ajudar a criar awareness para protegerem o oceano, as espécies, o meio ambiente.

Qual é a importância de competições como o MEO Pro? 

O MEO PRO, WCT em Portugal, faz com que os mais novos, e mesmo os que ambicionam ser surfistas profissionais, vejam de perto o que é que os melhores do mundo fazem. Ver na TV é uma coisa, ao vivo tem outro impacto. É impactante para os jovens surfistas, mas também incrível para Portugal perceber a dimensão que o surf tem a nível mundial.

É fácil ser surfista em Portugal? 

Ser surfista é fácil: é só comprar uma prancha, um fato, ir para a água e apanhar umas ondas. Ser surfista profissional não é tão fácil, é preciso sacrifício, dedicação, e provarmos o valor para que as marcas acreditem em nós e para que percebam que faz sentido apoiar-nos. Que, no fim do dia, acreditem no nosso sonho e estejam connosco nas derrotas e nas vitórias. Tenho imensa sorte, porque tive marcas que acreditaram no meu sonho e no meu potencial, e que continuam hoje comigo, com as quais partilho valores fortes. 

É possível aliar a sustentabilidade ao surf? De que forma?

Acho que é mais do que óbvio: o meu escritório é a praia, ou o oceano. Passo muito tempo na água e na praia. Nós, surfistas, temos um exemplo a dar: tomar conta do nosso escritório. E é aí que entra a sustentabilidade, criar awareness, mostrar que podemos fazer melhor e que temos essa obrigação com o meio ambiente.

Sabes como é a prancha feita com materiais reciclados? (sem revelar…)

Ainda não sei, mas estou super, super, supercurioso para tentar descobrir, e ver se há alguma diferença entre uma prancha normal e uma prancha feita com materiais reciclados.

Já surfaste com alguma prancha assim? 

Nunca surfei com uma prancha assim. Adoraria que este fosse o futuro, que uma prancha com materiais reciclados tivesse a mesma performance. Temos shapers inacreditáveis pelo mundo inteiro, que acho que têm todas as características para desenvolver uma coisa destas.

No teu dia a dia, que hábitos sustentáveis é que implementas? 

Ando sempre com uma garrafa reutilizável, para não comprar de plástico, tento sempre reciclar, tento sempre apanhar lixo quando vou à praia, ou quando vou passear o meu cão... São pequenos momentos que fazem a diferença no meu dia a dia. Sinto que estou a contribuir de alguma forma, ao mesmo tempo que dou o exemplo para que as pessoas também se sintam com vontade de seguir.

O Kikas de 7 anos ficaria orgulhoso do Kikas de agora? 

Acho que sim, que ficaria orgulhoso. Não por aquilo que conquistou, mas pela pessoa que se tornou, pelos valores que tem hoje em dia, por aquilo em que acredita, e pelo que tem vindo a fazer no surf a nível mundial.

Se pudesses viajar no tempo, o que é que lhe dirias?

Para às vezes não ficar tão ansioso, tão nervoso em certos momentos. As coisas acabam sempre por dar a volta, se uma pessoa acreditar, trabalhar, só há um caminho. O caminho do sucesso é o trabalho, a dedicação. Um bocadinho de talento também ajuda, mas mais do que isso é o trabalho.

Entre na onda de Peniche

Desde 2009 que Peniche está no mapa do surf mundial, com o MEO Rip Curl Pro Portugal na praia de Supertubos. Este ano a prova acontece de 8 a 16 Março. Aproveite a ocasião para ir até à capital da onda. Melhor pretexto não há.

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