A Time Out na sua caixa de entrada

Procurar
The Gentlemen: Senhores do Crime
DR

Aristocratas, gangsters e muita canábis: a série de Guy Ritchie

Em ‘The Gentlemen: Senhores do Crime’ (Netflix), simultaneamente prequela e spinoff do filme homónimo, a luta de classes não pega mesmo nada.

Escrito por
Eurico de Barros
Publicidade

★★★

Quem viu o filme de Guy Ritchie The Gentlemen: Senhores do Crime, ou quem conhece bem o cinema de Guy Ritchie, já sabe o que vai encontrar na série homónima, simultaneamente um spinoff e uma prequela daquele, onde um distinto militar e aristocrata, Eddie Halstead (Theo James), herda a enorme propriedade familiar quando o pai morre, bem como o título de duque deste, e descobre que ele alugou uma discreta parte do terreno a um gangster, o muito cockney Bobby Glass (Ray Winstone), que está numa prisão de alta segurança que mais parece um hotel de 5 estrelas, para este lá fazer cultivo intensivo e high tech de canábis. 

Assim, em The Gentlemen: Senhores do Crime (Netflix) encontramos gangsters tão castiços como letais (a família de traficantes de cocaína de Liverpool, liderada por “Evangelho” John, um fanático religioso com barbas de profeta que “despacha” os rivais enquanto papagueia a Bíblia); senhores do crime milionários, sofisticados e bem-falantes (o americano Stanley Johnston – “com um t”, como ele insiste em frisar – de Giancarlo Esposito); famílias de ciganos politicamente incorrectíssimos, para enfurecer os patrulheiros woke; um enredo principal muito atarefado e vários subenredos envolvendo um punhado de personagens de segundo e terceiro plano, entre mais gangsters, capangas sortidos e membros das famílias Halstead e Glass  (destaque para Freddy, o irmão destravado e aspirador de cocaína de Eddie); muita violência, bastante criativa e quase toda cartoonesca; um estilo visual que por vezes se estica nos malabarismos; muito sentido de humor quase sempre bastante negro, e o indispensável Vinnie Jones, desta vez num papel bastante mais plácido do que é costume (e já me esquecia de um episódio completamente absurdo envolvendo uma parte da anatomia de Adolf Hitler, e baseado numa história falsa criada pela propaganda inglesa durante a II Guerra Mundial).

Além de criador da série, Ritchie também é co-produtor e escreveu e realizou dois dos oito episódios, e muita da piada de The Gentlemen: Senhores do Crime redunda do convívio de classes – a princípio, forçado e desconfortável, depois acomodado e até cordial – entre os nobres finaços e financeiramente aflitos, e os malfeitores de origem proletária e carregados de dinheiro –, e do facto de o novo duque, apesar de querer os gangsters e a sua canábis fora da propriedade, vai, pouco a pouco, tomando o gosto à sua vida dupla de grande proprietário rural e de cultivador e traficante de canábis, formando um perfeito par empresarial com Susie Glass (Kaya Scodelario), a pragmática e muito eficaz filha de Bobby. Aqui, o marxismo e a luta de classes não pegam mesmo nada.

Para compor o ramalhete, aparecem, em papéis secundários e em “pontinhas”, nomes sempre bem-vindos como o veterano Edward Fox (no velho duque), Nigel Havers (no lorde vizinho caído em desgraça perante os Glass) ou Joely Richardson na sempre elegante, finíssima e imperturbável mater familias, que guarda um segredo inconfessável dos filhos. O final de The Gentlemen: Senhores do Crime parece anunciar que a série não vai ficar por aqui e terá uma segunda temporada. Se a Netflix mudar de ideias, de certeza que poderá ser dissuadida se receber uma visita dos parentes de “Evangelho” John armados de caçadeiras, ou mesmo de Mercy, a vendedora de carros de alta cilindrada roubados que resolve a suas contendas a golpes de machete.

Mais críticas de televisão

  • Filmes

★★★

O melhor elogio que podemos fazer a ‘Chorus Girls’ (TV Cine Edition) é que pede meças às séries inglesas do mesmo formato e matriz narrativa.

 

Publicidade
Recomendado
    Também poderá gostar
    Também poderá gostar
    Publicidade