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Haverá Sangue
©DRHaverá Sangue (2007)

Clássicos de cinema para totós. Os melhores filmes dos anos 2000

De "Disponível Para Amar", de Wong Kar-Wai, a "Haverá Sangue", de P. T. Anderson, eis os melhores filmes dos anos 2000

Escrito por
Rui Monteiro
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Mudou o século. O caminho do cinema, esse, ficou mais ou menos na mesma. O grande entretenimento generalizou-se e com a sua sucessão de franchises de pequenos e médios e grandes super-heróis abarbatou o mercado. Ainda assim, há quem resista. E, talvez por reacção, os melhores filmes dos anos 2000 são também alguns dos melhores filmes das últimas décadas, desde Disponível Para Amar (2000), de Wong Kar-Wai, a Haverá Sangue (2007), de Paul Thomas Anderson, até Gerry (2002), de Gus Van Sant, ou Fala Com Ela (2002), de Pedro Almodóvar.

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Os melhores filmes dos anos 2000

Disponível Para Amar (2000)

A química criada entre de Tony Leung e Maggie Cheung tornou o romance proibido filmado por Wong Kar-Wai uma das grandes histórias de amor do cinema contemporâneo. Um melodrama radical, passado na fechada Hong Kong dos anos 60, filmado como um caleidoscópio sensorial em cores carregadas de emoção e desprovidas de condescendência, que não só afirmava a qualidade do realizador chinês como elevava o romantismo a uma outra dimensão graças à sua atmosfera nocturna repleta de insinuações e promessas e desejos, a maior parte frustrados.

Psicopata Americano (2000)

Ao princípio toda a gente queria adaptar o controverso, e originalmente provocatório, romance de Bret Easton Ellis. Oliver Stone esteve na corrida, David Cronenberg também, até Stuart Gordon, um especialista na variante “gore” do cinema de terror, se interessou. Mas foi a pouco conhecida Mary Harron, até aí realizadora de uma longa-metragem pouco mais do que “interessante”, Um Tiro para Andy Warhol, que, depois, com uma ou outra excepção sem interesse de maior, voltou ao seu mister principal, continuando a dirigir episódios de séries de televisão. Harron saiu-se particularmente bem da tarefa e apresenta uma película escorreita e pungente, fiel ao romance mas sem dele depender em absoluto, particularmente eficaz no desenvolvimento da personagem do “yuppie” psicopata e no estabelecimento da personagem como um símbolo da atitude arrogante do novo capitalismo financeiro. Christian Bale encontrou aqui um papel fundamental na sua carreira, pois a sua representação do sonso infame e assassino serial Patrick Bateman é das mais perfeitas da sua carreira, combinando crueldade e ridículo, sendo ao mesmo tempo assustador e de certo modo simpático na sua interpretação do monstro escondido por fatos Armani e cartões de visita em papel de alta qualidade.
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Mulholland Drive (2001)

Vai-não-vai e lá vamos de volta ao filme dos filmes, ainda mais agora, com a nova série de Twin Peaks a confundir mais uma vez os que insistem em encontrar um significado no final de cada episódio. Como, aliás, acontece com Mulholland Drive, cuja narrativa foi já motivo de quase tantas interpretações quantos os espectadores que a ela assistiram. Um desafio à imaginação criado por David Lynch em que uma candidata a actriz (Naomi Watts) chega a Hollywood cheia de sonhos e acaba envolvida numa – talvez, nunca se sabe – conspiração, ou, em alternativa, uma ilusão psicótica que envolve uma misteriosa mulher (Laura Harring) e um considerável número de peculiares personagens e situações bizarras.

Gerry (2002)

Gus Van Sant, depois de agradar a Hollywood com o simpático Descobrir Forrester, e perder grande parte dos seus aficionados da Indielândia, entregou-se a uma espécie de limpeza de alma da qual resultaram uma série de filmes artísticos e minimalistas, todos desafiantes na sua abstracção lírica e formal. O primeiro, e o melhor, do que viria a ser a “trilogia da morte” (com Elefante e Últimos Dias), é, com certeza, Gerry, com Casey Affleck e Matt Damon a escreverem o argumento e interpretarem supinamente – como disse o realizador – “dois gajos perdidos no deserto” – o que na verdade é uma declaração do cineasta sobre o afastamento da humanidade da natureza.
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Inadaptado (2002)

Spike Jonze, um dos mais imaginativos realizadores em funções, e Charlie Kaufman, o mais arguto e complexo dos argumentistas (e, mais tarde, também realizador do estimulante e desprezado, porém um excelente desafio para cinéfilos aventureiros, Sinédoque, Nova Iorque) já tinham criado Queres Ser John Malkovich?. O inesperado êxito permitiu acesso a orçamentos maiores e estrelas de outra dimensão que John Cusack e Cameron Diaz, como Meryl Streep e Nicolas Cage, além do soberbo Chris Cooper. O pretexto de Jonze e Kaufman (que tem direito a personagem e a irmão ficcional, ambos interpretados por Cage) é a adaptação de um livro sobre… orquídeas. Mas, na verdade, além da história hilariante da perseguição a uma espécie de orquídea em particular, parte de que se encarregam Streep e Cooper, o filme é sobre as atribulações de argumentista pouco dado à sociabilidade que, quando tudo corre mal, ainda tem de aturar um irmão gémeo. O expressivo e socialmente activo Donald, o qual, achando graça ao trabalho do irmão, decide aventurar-se na profissão, sem angústias existenciais alcançando de imediato um êxito.

A Última Hora (2002)

Andava Spike Lee um pouco perdido entre cinema de propaganda e documentários sobre tudo e mais alguma coisa, quando, logo a seguir ao disparatado e nunca exibido comercialmente em Portugal Bamboozled, deu com este romance de David Benioff e o convenceu a escrever o argumento do que se tornaria o melhor filme do realizador e a definitiva afirmação da qualidade e da versatilidade da interpretação de Edward Norton. História de bandido condenado e a caminho da prisão, muito bem acompanhado por Barry Pepper e o falecido Philip Seymour Hoffman, com os escombros das Torres Gémeas à mostra e a ressaca do 11 de Setembro pairando sobre a atmosfera do filme, à tensão criada pela direcção, Norton responde intensa e convincentemente ao ponto da comoção.
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Fala com Ela (2002)

E entra Pedro Almodóvar, logo numa década em que o cinema europeu rodava como uma barata tonta entre a falta de financiamento e principalmente a falta de ideias. Espaldado pelo êxito internacional do destravado Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos, cinco anos antes, desta vez, o realizador de La Mancha entrou com pezinhos de cordeiro pelo território do melodrama, que não lhe era de todo desconhecido. O que não tornou o seu cinema menos sofisticado na sua leveza, mas acrescentou densidade dramática e psicológica através de um enredo repleto de surpresas e reviravoltas (que valeu um Óscar), particularmente valorizado pela emocionante representação de Javier Câmara.

O Segredo de Brokeback Mountain (2005)

É verdade que de um ponto de vista estritamente cinematográfico o filme de Ang Lee é um exemplo de academismo. Porém, essa obediência ao cânone, nada estranha na sua obra, também pode ser vista como uma estratégia para, pela normalidade das imagens, maior empatia criar entre os espectadores e este par de vaqueiros vivendo o seu amor proibido, reprimido, mas nem por isso menos intenso. Vai daí, a importância de O Segredo de Brokeback Mountain ser política e cultural, trazendo para o interior da corrente dominante em Hollywood, com toda a normalidade, a homossexualidade. Não foi a primeira tentativa, mas foi, decerto, o mais significativo exemplo de como o cinema pode ser uma arma contra a discriminação.
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Este País Não É Para Velhos (2007)

Fargo trouxera Ethan Coen e Joel Coen para o centro das atenções, mas os argumentistas, produtores e realizadores (como costumavam assinar) resistiram à tentação e, como disseram ao aceitar o Óscar para Melhor Realização, continuaram “a brincar no seu canto do recreio.” O filme, baseado no excelente romance do excelso escritor norte-americano Cormac McCarthy, além de uma história de ambição carregadinha de violência e dramas ético-existenciais, conta com grandes interpretações de Tommy Lee Jones e Josh Brolin. Mas tem a sua personagem mais marcante e radical interpretada por Javier Bardem (Óscar para Melhor Actor Secundário), o que é uma mais-valia levada da breca, pois o actor criou o mais sombrio e desbragadamente violento assassino a soldo com uma frieza e determinação dignas de um matador sem sentimentos.

Haverá Sangue (2007)

E, pela mão de Paul Thomas Anderson, lá vai mais um Óscar para Daniel Day-Lewis. Completamente merecido, como só não foi completamente injusto a não atribuição de Melhor Realização por esta ter ido parar ao também excelente Este País Não É Para Velhos. Prémios à parte, o certo é Anderson, adaptando o romance de Upton Sinclair, ter criado um épico em torno da extracção de petróleo e o avanço do capitalismo moderno nos mais recônditos sítios da América, que permitiu a Day-Lewis uma interpretação mercurial e, ao mesmo tempo, de grande intimidade e densidade psicológica.

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Na bilheteira, os anos 80 foram a década de Steven Spielberg e George Lucas. O cinema de grande espectáculo, sem vergonha de efeitos especiais, afirmou-se logo no início da nova era de Hollywood. Nem sempre para pior. Mas como não há acção sem reacção, ao lado ou noutras paragens singrava uma outra maneira de entender a sétima arte.

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Olhando a lista de melhores filmes dos anos 90, salta à vista a importância que a guerra e a violência tiveram no cinema da América e da Europa. Filmes sérios, sobre assuntos sérios, filmados, mais do que com seriedade, com ousadia. Foi um tempo de desequilíbrio, pois, ao lado, os blockbusters iam a toda a brida e venciam com grande avanço a corrida da bilheteira.

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