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Full Circle
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‘Full Circle’, uma série à altura dos pergaminhos de Steven Soderbergh

O realizador e o argumentista Ed Solomon demonstram nesta produção para a HBO Max um fôlego narrativo cada vez mais raro.

Escrito por
Eurico de Barros
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★★★☆☆

Há uma palavra que define na perfeição Full Circle (HBO Max), a nova série realizada por Steven Soderbergh: convoluta (ou overplotted, como diriam os anglo-saxónicos). Escrita por Ed Solomon, que já antes tinha colaborado com Soderbergh, e vagamente baseada no filme O Céu e o Inferno, de Akira Kurosawa (1963), que por sua vez adaptava um livro policial do escritor e argumentista Evan Hunter, Full Circle é a história de um rapto cometido por vingança em Nova Iorque, em que os raptores se enganam no alvo. E que se desdobra numa série de subenredos, correspondentes à intrincada cadeia de acontecimentos que o equívoco desencadeia, envolvendo pessoas de várias origens, estratos sociais e etnias, que estão ligadas – e algumas delas, sem o saberem – por uma variedade de crimes, ilegalidades, motivações (sendo as principais a vingança e a crença supersticiosa no sobrenatural), associações, parentescos, ambições, segredos e cumplicidades, estendendo-se da Guiana, de onde são originárias várias das personagens, até Nova Iorque e arredores. E na origem de tudo está um caso de corrupção que descambou em tragédia. 

Steven Soderbergh e Ed Solomon demonstram, em Full Circle, uma ambição e uma complexidade no contar, e um fôlego narrativo cada vez mais raros no cinema, e também não muito habituais nas séries de televisão e de streaming. Só que o enredo principal é tão atarefado, os subenredos sobrepõem-se de tal forma e há tanta coisa a acontecer ao mesmo tempo implicando tanta gente, que Full Circle perde, aqui e ali, clareza, e extravia o fio condutor, obrigando os autores a investir uma das personagens principais com uma dupla função: cumprir o seu papel na história e servir regularmente de “explicadora” dos acontecimentos aos espectadores. É ela a zelosa e irritante agente Harmony (a eléctrica e tagarela Zazie Beetz), que aliás, mesmo no final do sexto e último episódio, ata as pontinhas soltas da intriga, antes de um remate tristemente irónico que dá sentido ao título da série, de cujo elenco sobressaem ainda Claire Danes, Dennis Quaid ou CCH Pounder.

Tirando as derrapagens na organização, e as voltas e voltinhas a mais na narração, que por vezes vez nos obrigam a voltar atrás e a rever esta ou aquela cena, Full Circle está à altura dos talentos e dos pergaminhos do versatilíssimo Steven Soderbergh. Que, mesmo assim, pode e sabe fazer ainda melhor.    

Mais críticas de televisão

  • Filmes

★★★★☆

‘A Orquestra’ (Filmin) vicia de imediato e saboreia-se com voracidade e num ápice. Que venha a segunda temporada, prestissimo! 

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