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Erin Brockovich
Erin Brockovich

Mulheres no cinema: a luta continua em cinco filmes

É graças às mulheres que os trabalhadores têm hoje o 1º de Maio. E por muitas outras razões, elas ganharam direito ao Dia da Mulher. É simbólico, que o machismo não desarma. Apesar das mulheres no cinema

Escrito por
Rui Monteiro
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Lutas sindicais, ambientais e políticas, o altruísmo de servir, mas também de conservação da memória e do património, e principalmente de reivindicar a verdade. Lutas, pessoais e colectivas, que o cinema acolheu em muitos filmes. A propósito do Dia da Mulher, juntamos estes cinco. 

Mulheres no cinema: a luta continua em cinco filmes

Norma Rae (1979)

A história da adaptação da luta de Crystal Lee Sutton e da criação de uma secção do Sindicato dos Trabalhadores Têxteis da América na fábrica onde trabalhava, na Carolina do Norte, dava um filme em si. Em primeiro lugar por a protagonista entender que a película de Martin Ritt se centrava demasiado nela e não no carácter colectivo da luta sindical, o que levou o realizador, detentor dos direitos do livro escrito sobre Sutton por Henry P. Leifermann, a mudar os nomes. Depois, por ser preciso andar de estúdio em estúdio até conseguir um que cedesse um orçamento reduzido a obra demasiado política para o gosto de Hollywood. Pior, porque actrizes como Jane Fonda, Faye Dunaway e Jill Clayburgh, grandes estrelas na época, recusaram o papel. Daí a convocação de Sally Field, mais conhecida pelos seus papéis de surfista adolescente e freira voadora, que, no entanto, era já uma activista anti-nuclear. Resumindo: o filme fez-se; foi um êxito crítico e comercial, Field ganhou um Óscar. Melhor, teve um efeito: um ano depois da estreia, a J. P. Stevens assinou um acordo com a União dos Sindicatos dos Trabalhadores do Vestuário e dos Têxteis para a criação de uma estrutura sindical. 

Reacção em Cadeia (1983)

O cartaz anunciando a estreia de Reacção em Cadeia era bastante explícito. Dizia: “Em 13 de Novembro de 1974, Karen Silkood, uma empregada de uma central nuclear, saiu para se encontrar com um repórter do ‘New York Times’. Nunca chegou ao encontro.” Estava-se já em 1983, nove anos depois da mulher que Meryl Streep interpreta neste filme de Mike Nichols ser encontrada morta no carro. As aparências diziam acidente de viação, mas as suas denúncias sobre a segurança daquela central, e os resultados da investigação clandestina que elaborou depois de se descobrir contaminada, a campanha lançada pela empresa contra o seu carácter e as suas intenções, criaram suspeitas e múltiplas teorias de conspiração. Choveram nomeações. Óscares, nem um. Porém, o movimento anti-nuclear agradeceu e a regulamentação de segurança das centrais e outros equipamentos nucleares foi revista por decisão presidencial. 

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Erin Brockovich (2000)

O filme de Steven Soderbergh é, como ele próprio disse, “uma típica história de David e Golias, uma espécie de Rocky.” Mas, também, apesar do seu enredo improvável, narrativa retirada da vida real. O facto é que Erin Brockovich (muito bem interpretada por Julia Roberts e valendo justo Óscar), uma mãe solteira particularmente desbocada e desesperada, depois de perder um processo, uma indemnização e um emprego, a bem dizer obriga o seu advogado a dar-lhe trabalho no escritório. Nada sério, até dar de frente com um processo de contaminação de água, e consequente propagação de doenças, provocada por uma companhia de gás e electricidade. Durante cinco anos percorreu os labirintos da burocracia e da justiça. No processo provocou um dos maiores e mais importantes processos judiciais colectivos contra uma grande empresa. 

Mulher de Ouro (2015)

E agora uma coisa quase completamente diferente, isto é, a longa e por vezes dolorosa luta de Maria Altman para recuperar uma pintura de Gustav Klimt roubada pelos nazis, na Áustria, durante II Grande Guerra, que Simon Curtis filma como uma jornada de reclamação da vida e da dignidade da protagonista. Aqui, Helen Mirren, é a gerente de uma loja de roupa, em Los Angeles, que, sempre que olha para Retrato de Adele Bloch-Bauer I, mais do que a bela e icónica pintura de uma mulher, vê a tia de quem tanto gostava e com quem cresceu antes do fascismo e da guerra perseguirem a sua família durante a ocupação alemã. A sua luta é pela decência, um conceito arisco a governos e ainda mais às burocráticas instituições culturais austríacas, travada por meios legais, com colaboração e empenho de um advogado qualificado, mas nem por isso menos dura e violenta, ou exigindo menos firmeza e determinação. 

 

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As Sufragistas (2015)

A encerrar, nada melhor que regressar à origem, mais ainda quando, ao contrário de outros filmes sobre a luta das mulheres pelo direito ao voto, esta realização de Sarah Gavron (com Carey Mulligan, Anne-Marie Duff e Helena Bonham Carter) recusa quase todos os lugares-comuns da representação do sufragismo. O argumento de Abi Morgan é fundamental para essa visão que se centra, não nas dirigentes do movimento, mas, antes, nos seus soldados rasos, ou seja, as mulheres que efectivamente deram (literalmente) o corpo às balas, colocando-se na primeira linha da luta feminista em Inglaterra na passagem do século XIX para o século XX.

Dia da Mulher em Lisboa

  • Coisas para fazer

Alma Mahler (1879-1964) compôs, pintou, privou com alguns dos maiores génios do começo do século XX, foi uma das figuras mais activas desses anos, e agora inspira parte do programa agendado para o Museu da Música. Aproveite também para visitar alguns dos mais fervilhantes ateliês da cidade e guarde-se ainda para o fim-de-semana: a proposta é correr a Lisboa de algumas figuras emblemáticas no feminino, da fadista Severa às Manas Perliquitetes.

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