Daniel Radcliffe e David Holmes
©John WilsonDaniel Radcliffe e David Holmes
©John Wilson

O rapaz que continua a viver

‘David Holmes: The Boy Who Lived’ (HBO Max) conta a história de um “duplo” de Daniel Radcliffe que ficou paraplégico durante a produção de um dos filmes de Harry Potter.

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★★★★☆

Aos 26 anos, o inglês David Holmes tinha o trabalho com que sempre havia sonhado e uma vida feliz, movimentada e desafogada, com grandes perspectivas pela frente. Ginasta dotado deste muito novo, Holmes era o “duplo” de Daniel Radcliffe na série de filmes Harry Potter, e prometia tornar-se num dos maiores nomes da especialidade dentro da indústria cinematográfica. Tudo isso acabou depois de ter tido um gravíssimo acidente durante os ensaios de uma cena da primeira parte do último filme, que o deixou paralisado da cintura para baixo. Hoje quadragenário e preso numa cadeira de rodas, Holmes nunca mais pôde trabalhar, está dependente da ajuda de um (dedicadíssimo) cuidador no seu dia-a-dia, tem passado o tempo a entrar e sair de hospitais por causa de uma condição rara que lhe apareceu na sequência da lesão, e pode ficar pior a qualquer momento e perder também o uso dos braços. A sua história é contada no documentário David Holmes: The Boy Who Lived (HBO Max), realizado por Dan Hartley, de que Holmes é também um dos produtores, tal como Daniel Radcliffe. 

É um filme que, assumindo o formato mais do que familiar do documento “inspirador” sobre alguém que sofreu uma grave tragédia mas não entrega os pontos, não se deixa definhar e é um exemplo de determinação e perseverança, nunca entra pelo registo do “coitadinho”, não escamoteia a frustração de Holmes em relação a tudo o que tinha na sua vida anterior, que perdeu e que nunca recuperará, nem suaviza o calvário que ele tem atravessado, e não mendiga a nossa piedade para com ele. O outro grande tema de David Holmes: The Boy Who Lived é a amizade entre Holmes e Daniel Radcliffe, que o acidente sofrido por aquele tornou ainda mais sólida, profunda e activa, bem como com outros dois dos seus colegas jovens “duplos” nos filmes de Harry Potter, Marc Mailley (que ele levou para a profissão) e Tonga Kenan. Vemo-los a visitá-lo, em convívio e em longas conversas, que vão dos temas mais corriqueiros e ligeiros a assuntos mais sérios, incluindo a delicada situação física do antigo “duplo”, que pode piorar a qualquer momento. 

Alguns dos momentos mais pungentes do filme envolvem o veterano “duplo” Greg Powell, que tinha posto David Holmes sob a sua asa e aquele via quase como um segundo pai. Powell era o responsável pela equipa de “duplos” da série dos Harry Potter, e sempre se culpou pelo acidente sofrido pelo rapaz, embora este nunca o tenha recriminado (nem a ninguém, aliás, tendo abdicado de processar a produção), e que só muito mais tarde conseguiu visitar o pupilo em casa dele. Actualmente, David Holmes organiza um jogo de cricket anual para recolher fundos para o hospital de Londres onde foi (e continua a ser) tratado, dá palestras informais a jovens que fazem ginástica, tem um podcast sobre “duplos” e quer abrir uma academia de educação física e formação de “duplos”. O seu estoicismo e a sua determinação só têm igual na sua gentileza para com conhecidos e desconhecidos, sobejamente visível ao longo da hora e meia de David Holmes: The Boy Who Lived.

Mais críticas de televisão

  • Filmes

★★☆☆☆

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