1. O Acossado (1960)

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De "O Acossado", de Godard, a "2001: Odisseia no Espaço", de Kubrick, eis os melhores filmes dos anos 60
A década dos sonhos mais floridos, extravagantes e idealistas, também teve o seu lado violento. Bem comprovado pelo desfecho que Manson e a sua "família" haviam de trazer, em 1969. O cinema atravessou uma das suas épocas mais curiosas e experimentalistas em que parecia valer tudo, desde que fosse contra a corrente dominante. E os melhores filmes dos anos 60 foram contra a dita. Como, por exemplo, O Acossado, de Jean-Luc Godard; O Enviado da Manchúria, de John Frankenheimer; Blow-Up – História de Um Fotógrafo, de Michelangelo Antonioni; Bonnie e Clyde, de Arthur Penn ou 2001: Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick.
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A cena do chuveiro já foi tantas vezes e de tantas formas copiada, adaptada, satirizada, que a maioria dos espectadores nem faz ideia de onde vem. Pois é daqui, de Psico, mais um filme em que o génio de Alfred Hitchcock transformou entretenimento em arte pela elaboração do seu método de criação de suspense. O qual, nesta obra, chega a ser angustiante e até um pouco perturbador na maneira como o realizador expõe a história e a conduz até ao enigmático sorriso de Anthony Perkins que encerra o filme.
Há muito que John Frankenheimer é uma espécie de funcionário público de Hollywood, realizador para qualquer encomenda, que entrega pontualmente a produção, cumprindo, pelo menos, os serviços mínimos exigidos à cultura de massas. Por sorte ou inspiração, em O Enviado da Manchúria, Frankenheimer realizou a sua obra-prima – com o belo argumento que George Axelrod lhe entregou, a música hipnótica de David Amram por pano de fundo, a representação exemplar de Frank Sinatra, Laurence Harvey, Janet Leigh e Angela Lansbury, sem esquecer a patusca e arrepiante personagem interpretada por Henry Silva. Uma bem doseada mistura de thriller psicológico com intriga política, condimentado por grande e justificada quantidade de paranóia e manipulação de informação, que, infelizmente, a evolução desta era mantém demasiado actual, com as devidas adaptações às novas circunstâncias.
Um dos melhores exemplos da diversidade e versatilidade, do experimentalismo e da ousadia estética do cinema da década de 1960 é esta obra delirante de Federico Fellini. Aqui, o realizador italiano monta um verdadeiro circo de emoções a partir das suas próprias emoções, entregando ao maior dos actores europeus, Marcello Mastroianni, o papel de seu alter ego. E, como no circo, o cineasta faz da sua história uma enorme festa, uma celebração, por vezes algo carnavalesca, mas que com o seu olhar entre o satírico e o trágico se transforma quase num hino à vida e um sinal do optimismo da época para este realizador atormentado com o final a dar ao seu filme.
E por falar em optimismo, outro realizador italiano, Michelangelo Antonioni, aproveitava a festiva “swinging London” dessa década para criar um filme luminoso que a evolução narrativa tornará cinzento e misterioso, pondo em causa o niilismo ligeiro que ele próprio imprime como matriz do desenvolvimento do enredo. Com David Hemmings e Vanessa Redgrave, entre sessões fotográficas, oficiais e clandestinas, formais ou improvisadas, uma sexualidade assumida como libertação saltitando no ecrã, a possibilidade de um crime e de uma traição, Antonioni criou uma espécie de cápsula do tempo e uma obra-prima paradoxalmente intemporal.
Se houve instituição que os anos 60 puseram em causa, e mal ou bem todas a puseram, a família foi sem dúvida a que foi mais dissecada. Embora bater na família seja uma espécie de desporto de interior para ficcionistas, seja na literatura, no teatro ou no cinema, a particular crueldade da relação entre George e Martha, na peça de Edward Albee, é ampliada pela realização de Mike Nichols. Isto faz do texto, já por si um exemplo de maledicência conjugal compulsiva, impulsionado ainda pelas grandes interpretações de Elizabeth Taylor e Richard Burton, uma demonstração quase hiper-realista do sadismo e masoquismo psicológico de que é capaz um casal com os dias contados.
Foi tratado como coisa menor, produção baratucha italiana com uns actores americanos medíocres, mas o tempo deu razão a Sergio Leone. E hoje, O Bom, o Mau e o Vilão não é já dado como o melhor exemplo do western-spaghetti, mas sim como um grande filme, que, mais do que ter dado uma carreira a Clint Eastwood e mostrado a genialidade musical de Ennio Morricone, criou um novo conceito, direi mesmo um novo paradigma para o cinema de acção. Através de uma receita simples: tratar o cinema como uma ópera, isto é, um espectáculo total onde até os mais pequenos pormenores têm um significado.
Há muito que o cinema era acusado de glamorizar o crime e os criminosos. Pois foi exactamente isso que Arthur Penn fez ao contar a história de dois miseráveis desajustados e iludidos. Mais, além de tornar os cruelmente famigerados Bonnie (Faye Dunaway) e Clyde (Warren Beatty) numa espécie de Romeu e Julieta do crime de pé-descalço que realmente representavam, glamorizou em magníficas imagens a violência dos seus actos e, mais do que tudo, a sua barbárica captura e execução pelas forças policiais numa sequência tão chocante como fascinante.
Roman Polanski sempre foi, como se costuma dizer, um realizador de confiança, capaz de abordar diversos temas de maneira criativa. Por esta altura, mesmo no início da sua vida na América, aproveitando o êxito da sua sátira ao cinema de vampiros, Por Favor Não Me Morda o Pescoço, dela se aproveitou para dirigir um dos mais psicologicamente assustadores filmes de terror. Precisou de uma boa e esquinada história, adaptada por Gérard Brach de um romance de Ira Levin, de dois actores de categoria – Mia Farrow e John Cassavetes –, uma casa gótica e uma carrada de imaginação na colocação das câmaras e na obtenção de cada plano para deixar muito boa gente a pensar melhor na maternidade.
Ainda está para nascer, provavelmente, a pessoa, ou entidade, capaz de explicar de maneira clara e de uma vez por todas o que significa 2001: Uma Odisseia no Espaço, especialmente as suas cenas finais. E este é um dos encantos desta obra que, de certa forma, quer dizer, metafisicamente, sintetiza o espírito dos anos 60 como uma epopeia de ficção científica a caminho do desconhecido. Entretanto, são tantas as teorias já desenvolvidas, muitas das quais ainda em vigor, algumas até inteligentes, que o aconselhado é mesmo ver a película com que Stanley Kubrick deixou meio mundo a pensar no que está além, de preferência na perspectiva de que a compreensão de uma obra de arte está francamente sobrevalorizada, pelo que mais vale perdermo-nos nas imagens e tentar não ser levados na conversa do perverso HAL 9000 – a não ser para ver aí uma das possibilidades de futuro da Inteligência Artificial.
Na década de 70 o olhar de Hollywood mudou. E o sistema dos estúdios foi substituído por um cinema mais estético e politicamente atrevido, por um lado. Por outro, começava a era dos blockbusters e o triunfo do cinema de entretenimento e efeitos especiais.
Na bilheteira, os anos 80 foram a década de Steven Spielberg e George Lucas. O cinema de grande espectáculo, sem vergonha de efeitos especiais, afirmou-se logo no início da nova era de Hollywood. Nem sempre para pior. Mas como não há acção sem reacção, ao lado ou noutras paragens singrava uma outra maneira de entender a sétima arte.
Olhando a lista de melhores filmes dos anos 90, salta à vista a importância que a guerra e a violência tiveram no cinema da América e da Europa. Filmes sérios, sobre assuntos sérios, filmados, mais do que com seriedade, com ousadia. Foi um tempo de desequilíbrio, pois, ao lado, os blockbusters iam a toda a brida e venciam com grande avanço a corrida da bilheteira.
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