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Rocketman (2019)
© Paramount PicturesRocketman de Dexter Fletcher

“Sei o que é cheirar linhas de cocaína e sentir-me paranóico”

O actor e realizador londrino Dexter Fletcher conta a história de Elton John em “Rocketman”. Falámos com ele.

Phil de Semlyen
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Phil de Semlyen
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Dexter Fletcher tinha apenas dez anos quando o vimos no grande ecrã pela primeira vez, em Bugsy Malone, de Alan Parker. Desde então foi dirigido por alguns dos grandes, como David Lynch, Derek Jarman e Mike Leigh, antes de saltar para trás das câmaras em 2011, durante a rodagem do seu Wild Bill. Recentemente, substituiu Bryan Singer a meio das filmagens de Bohemian Rhapsody, mas não foi creditado como realizador. E agora, em Rocketman, conta a história de Elton John. Quaisquer semelhanças com a biopic dos Queen são uma coincidência.

Ainda te lembras de quando é que descobriste a música do Elton John? Sempre foste um fã?
Sempre gostei dele. Descobri a música dele na casa da minha prima Caroline, depois de ela ter ido a quatro concertos dele de seguida no Rainbow. Ela tinha o Goodbye Yellow Brick Road e nós estávamos sempre a ouvir o disco. Tinha sete ou oito anos, mas nunca o esqueci.

Ele foi um dos produtores do filme. Estabeleceu alguns limites?
Não fui proibido de fazer nada, mas tive de ser atencioso. Não quero que ele se sinta desconfortável com isto; só quero contar uma boa história. E fiz um filme para adultos porque essa era a vida que ele levava nos anos 70 e 80. Há altos e baixos, e não podes mostrar os pontos baixos num filme para todos os públicos.

Não escondes que tiveste problemas com drogas quando tinhas 20 e tal anos. Reconheceste-te nessa parte do filme?
Sem dúvida que era algo que eu compreendia, e falei com o Elton sobre isso. Os meus problemas talvez tenham sido um pouco diferentes, mas o resultado é o mesmo: é algo que tens de combater. Eu sei o que é estar a cheirar linhas de cocaína e a sentir-me paranóico, como se toda a gente me quisesse trair. É com isso que lido no filme.

Originalmente, era o Tom Hardy que ia fazer de Elton John. Nessa altura já estavas envolvido no projecto?
Não. Mas lembro-me de ler sobre isso e achar que era uma escolha interessante.  O Tom é um actor incrível e não ia ficar surpreendido se ele fosse espantoso no papel. Mas o Taron [Egerton] pareceu-me uma escolha mais óbvia. Fisicamente está mais próximo do Elton e sabia que ele conseguia cantar.

Como é que foi a experiência com o Bohemian Rhapsody?
O [produtor] Matthew Vaughn diz que foi um treino intensivo para o Rocketman. Foi uma experiência muito particular e tenho orgulho de ter estado envolvido no projecto. Adoro o Rami [Malek] e fiquei muito contente por ele [ter ganhado um Óscar]. Mas, se tivesse corrido mal, podia dizer que não tinha a ver com aquilo. Não tenho falado muito sobre isso porque não era um projecto meu. Realizei apenas 30% do filme. Algumas pessoas sentem que o filme tenta esconder a homossexualidade do Freddie Mercury.

Sentes necessidade de defendê-lo dessas críticas?
Nem por isso. A única coisa que posso dizer sobre o assunto é que eles quiseram fazer um filme para todos os públicos e foi isso mesmo que fizeram. Sobre o resto quem tem de falar não sou eu. No Rocketman há uma cena de sexo. Há drogas. Mas não podes estar à espera de ver isso num filme para todos os públicos. O meu filme é muito diferente [do Bohemian Rhapsody].

Crítica: “Rocketman”

★★☆☆☆

Às tantas diz uma personagem ao protagonista: “Mata a pessoa que és para te tornares na pessoa que queres ser.” E com esta sentença
 está mais ou menos escrita a ambição de Dexter Fletcher:
 não ser um realizador de biografias musicais como os outros e, ao invés do caminho habitual, explorar a importância artística para a música pop da transformação de Reginald Kenneth Dwight em Elton John através da interpretação de Taron Egerton.

Pois. De boas intenções está o inferno cheio e o fogo de artifício abunda em Rocketman. O que, bem vistas as coisas, descontada a vulgaridade, quando não o mau gosto generalizado das canções, ainda é o melhor da película. Apesar de procurar a excepção, a espaços avistada em uma
ou outra sequência musical, a realização conformou-
se ao modelo. E pronto, aqui está mais uma história de rapaz desajustado e talentoso, que lutando contra o escárnio e o preconceito se vai chegando ao sonho, conhece o compositor Bernie Taupin (Jamie Bell) e, com altos e baixos, drogas e copos e sexo, a sua carreira, já francamente colorida, torna-se uma exibição de lantejoulas que fazem dos concertos e da vida uma celebração kitsch onde
a música, a bem dizer, é um acessório, pois o que interessa é a celebridade. Rui Monteiro

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