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Mulholland Drive (2001)
Mulholland Drive (2001)

Viagem ao estranho mundo de David Lynch

Aproveitando o regresso de 'Twin Peaks' à televisão e a estreia de um variado programa de David Lynch esta semana no cinema, recordamos alguns dos melhores filmes do realizador americano

Escrito por
Eurico de Barros
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De No Céu Tudo é Perfeito, a primeira longa-metragem de David Lynch, até Inland Empire, a última até à data, eis uma selecção de filmes do mais enigmático, experimental e desconcertante cineasta vivo, ao qual já foram colados os muitos rótulos, desde "surrealista" até "mistificador".  

Viagem ao estranho mundo de David Lynch

‘No Céu Tudo é Perfeito’ (1977)

A primeira longa-metragem está muito ligada ao trabalho de David Lynch como artista plástico (a pintura foi o seu primeiro amor, e continua a ser um dos seus principais interesses), bem como às curtas de recorte experimental e com uso da animação que fez antes dela. Intitulado Eraserhead no original, o filme foi rodado quando Lynch ainda era bolseiro numa das principais escolas de cinema de Los Angeles, nas instalações desta. O realizador viveu durante um ano no próprio local das filmagens desta fantasia em jeito de pesadelo “industrial-surreal”, a que Lynch, como é seu hábito, se recusa a atribuir qualquer “sentido”.

‘O Homem-Elefante’ (1980)

Os que acusam David Lynch de ser um realizador “opaco” e de não saber contar uma história, devem ser remetidos para este filme sobre o disforme John Merrick, o “homem-elefante” do título (magnificamente interpretado por John Hurt), que viveu na Inglaterra vitoriana e foi cruelmente explorado como fenómeno de circo, antes de se lhe ter reconhecido a humanidade e a dignidade. Lynch realiza em grande estilo clássico e magnífico preto e branco, não se coibindo de abrir e fechar com duas sequências “surreais”. Mel Brooks produziu e Lynch andava a trabalhar em telhados de casas quando este o contactou para realizar a fita.

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‘Duna’ (1984)

Fossem todas as adaptações ao cinema de clássicos da ficção científica (FC) como este Duna, baseado em Frank Herbert, e o cinema do género seria bem melhor do que é. O filme, que fracassou comercialmente e junto da crítica, teve problemas de produção, David Lynch não conseguiu obter o final cut (a única vez em toda a sua carreira) e considera que Duna foi o seu único grande falhanço, mas a verdade é que seria difícil encontrar alguém que conseguisse levar para a tela de forma tão convincente a história e as complexidades do mundo criado por Herbert (que gostou muito da fita). em livro. Alejandro Jodorowsky e Ridley Scott também tentaram filmar Duna antes de Lynch, mas não conseguiram.

‘Veludo Azul’ (1986)

Um dos filmes mais “lynchianos” do realizador, cheio de temas, figuras e marcas de fabrico cinematográficas que lhe são queridas: aquilo que de perturbador, horrível e repugnante se esconde sob as aparências da harmonia, da ordem e da perfeição, as personagens maléficas sem redenção e o seu poder quase sobrenatural, a importância sugestiva e “narrativa” do som e da música, bem como dos ambientes, sobretudo os interiores, e a extrema estilização visual. Veludo Azul é, segundo Lynch, o filme que prefigura Twin Peaks, tendo sido a sua principal inspiração para a série. Originalmente, tinha quatro horas e parte das cenas cortadas na montagem perderam-se.

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‘Uma História Simples’ (1999)

Nenhum tema é banal ou menor para David Lynch, como se vê por este filme, baseado numa história real, cujo enorme carga de excentricidade agradou sobremaneira ao cineasta. É a história de Alvin Straight (Richard Farnsworth), um idoso veterano da II Guerra Mundial que vivia com a filha no Iowa, e um dia se meteu ao caminho ao volante de um carrinho corta-relva, para fazer as pazes com o irmão, Lyle (Harry Dean Stanton), que morava longe, no Wisconsin, e teve um acidente cardiovascular. Os irmãos não se falavam há muitos anos, e Alvin quis fazer as pazes com Lyle antes que ele morresse. Lynch diz que este é o seu filme mais “experimental”. Blague, ou verdade?

‘Mulholland Drive’(2001)

Um filme sobre Hollywoood e a forma como constrói sonhos por um lado e os destrói pelo outro? Um filme sobre os labirintos da identidade? Um thriller surrealista? Um mergulho ao coração dessa hipnótica e inquietante terra de fantasia e enigma onde nada faz sentido e que alguém baptizou “Lynchland”? Mulholland Drive é o filme mais analisado, interpretado, passado a pente fino de teorias e discutido de David Lynch, e um dos mais enfeitiçadoramente intrigantes e exasperantes da história do cinema. Para acrescentar à confusão (e certamente não para esclarecer fosse o que fosse), o cineasta incluiu, na edição em DVD, dez pistas para a decifração do filme. Que só contribuem ainda mais para a perplexidade do espectador.

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‘Rabbits’ (2002)

Esta série de curtas-metragens cujos protagonistas são coelhos antropomorfizados foi feita para a Internet, e filmada num cenário construído no jardim de casa de David Lynch em Los Angeles. Os coelhos (entre eles estão Naomi Watts e Laura Harring, as duas principais intérpretes de Mulholland Drive) nunca saem do seu sombrio apartamento, chove lá fora e paira no ar uma cerrada e incómoda atmosfera de medo, que no entanto nunca se concretiza: está lá, apenas, posta em cena como só o cineasta sabe, e em estilo de sitcom sinistra, porque se ouvem gargalhadas de um público invisível. Se descrito parece estranho, visto ainda é mais.

‘Inland Empire’ (2006)

O último filme até à data de David Lynch, Inland Empire foi rodado nos EUA e na Polónia, e é um exemplo da radicalização formal, narrativa e experimental do trabalho do cineasta, que rodou aqui em digital pela primeira vez. Lynch volta a trabalhar sobre a duplicação da identidade, como já havia feito em Mulholland Drive, dando a Laura Dern o papel de um actriz que vai entrar num filme e que se apercebe que a sua vida começa a parecer-se muito com a da personagem que tem que interpretar. O que parecia ir ser mais uma filmagem, torna-se num pesadelo sem explicação. Os coelhos das curtas Rabbits têm uma participação (arrepiante, claro) em Inland Empire.

O estranho mundo de Twin Peaks

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É difícil escrever sobre o regresso de Twin Peaks. Pelo menos depois de ver apenas duas partes daquilo a que David Lynch já se referiu como “um filme em 18 partes”. Mas ninguém disse que isto era fácil e, assim como assim, nunca houve nada de fácil, de básico, nesta série. 

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Pronto. Ao fim de 26 anos chegou finalmente o momento de tirar da gaveta a camisola que dizia “Quem Matou Laura Palmer?”, ou, claro, a alternativa e igualmente popular com a frase “Eu Matei Laura Palmer!”

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