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Chet Baker & Gerry Mulligan Los Angeles 1952
©William ClaxtonChet Baker & Gerry Mulligan Los Angeles 1952

Dez versões clássicas de “All the Things You Are”

A canção foi composta para um musical que se revelou um fiasco, mas converteu-se numa das peças favoritas dos músicos de jazz.

Escrito por
José Carlos Fernandes
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A dupla Jerome Kern (música) e Oscar Hammerstein (texto) tinha atrás de si uma série de musicais de sucesso – Show Boat (1927), Sweet Adeline (1929) e Music in the Air (1932) – mas nem isso nem a encenação de Vincente Minnelli impediram que Very Warm for May (1939) tivesse uma recepção fria. O filme Broadway Rhythm (1944) tomou o musical como ponto de partida, mas o enredo foi reescrito e todas as canções originais foram descartadas, com excepção de “All the Things You Are” (ainda que a crítica tivesse apontado as canções do musical como “as mais encantadoras que Kern e Hammerstein escreveram”).

A letra da canção não poupa superlativos para descrever o objecto amado: “És o prometido beijo de Primavera/ Que faz o Inverno solitário parecer longo/ És o silêncio da noite/ Que estremece no limiar de uma nova canção/ Tu és o resplendor angelical que ilumina a estrela/ Tudo o que de melhor conheço, é o que tu és”. Os músicos de jazz não perderam tempo a adoptar a canção, com as versões de Tommy Dorsey e Artie Shaw a surgir logo em 1939.

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Dez versões clássicas de “All the Things You Are”

1. Dizzy Gillespie

Ano: 1945

Uma das versões que mais contribuiu para impor “All the Things You Are” entre a geração do bebop foi a realizada em Nova Iorque a 28 de Fevereiro de 1945 pelo sexteto do trompetista Dizzy Gillespie, com Charlie Parker (saxofone), Remo Palmieri (guitarra), Clyde Hart (piano), Slam Stewart (contrabaixo) e Cozy Cole (bateria).

2. Gerry Mulligan & Lee Konitz

Ano: 1953
Álbum: Lee Konitz Plays With the Gerry Mulligan Quartet (World Pacific)

Se o quarteto de 1952-53 de Gerry Mulligan com Chet Baker era uma felicíssima conjugação musical, a junção do saxofonista alto Lee Konitz ao grupo foi ouro sobre azul. As sessões de Janeiro e Fevereiro de 1953 foram documentadas em LPs de 10’’, reeditados quatro anos depois sob a forma de um LP de 12’’. Carson Smith e Larry Bunker asseguram o suporte rítmico e em “All the Things You Are”, Baker remete-se ao segundo plano.

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3. Chet Baker

Ano: 1953
Álbum: Chet Baker Quartet Featuring Russ Freeman (Pacific Jazz)

Após a dissolução, em meados de 1953, do quarteto com Gerry Mulligan, Chet Baker associou-se ao pianista Russ Freeman e, com contrabaixistas e bateristas variados, realizou uma série de gravações em quarteto que se estenderam até 1956, entre as quais está este registo realizado em Los Angeles em Julho de 1953, com Carson Smith (contrabaixo) e Larry Bunker (bateria). Muitos associarão Chet Baker a baladas românticas, mas nesta leitura o trompetista adopta uma abordagem fogosa.

4. Serge Chaloff

Ano: 1956
Álbum: Blue Serge (Capitol)

O saxofonista Serge Chaloff tinha Charlie Parker como ídolo e, tal como ele, também ficou dependente da heroína – a brevidade da sua carreira ficou a dever-se, porém, não aos estupefacientes, mas um cancro que levou deste mundo em Julho de 1957, aos 33 anos. Blue Serge, com Sonny Clark (piano), Lery Vinnegar (contrabaixo) e Philly Joe Jones (bateria), é o ponto alto da sua magrérrima discografia em nome próprio.

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5. Johnny Griffin

Ano: 1957
Álbum: A Blowin’ Session (Blue Note)

No jazz, o termo “blowing session” designa um encontro de vários “sopradores” sem grande estruturação ou preparação, em torno de standards conhecidos de todos. Situa-se entre a sessão de estúdio de uma banda com um líder provido de partituras originais, que foram ensaiadas pelo grupo, e a informalidade da jam session. Esta blowing session publicada sob o nome do saxofonista Johnny Griffin conta com duas estrelas então em ascensão: o saxofonista John Coltrane, revelado no quinteto de Miles Davis, e o trompetista Lee Morgan, então com apenas 19 anos. A secção rítmica é de luxo e fornece a segurança necessária a uma sessão com preparação sumária: Wynton Kelly (piano), Paul Chambers (contrabaixo) e Art Blakey (bateria).

6. Ahmad Jamal

Ano: 1958
Álbum: At the Pershing vol.2 (Argo)

At the Pershing vol.2 provém da mesma noite – 17 de Janeiro de 1958 – que produzira At the Pershing: But Not For Me, registado ao vivo no lounge do Pershing Hotel, em Chicago, mas o facto de só ter sido lançado três anos depois não significa que se trata de um aproveitamento de peças rejeitadas, pois o nível é idêntico ao do primeiro disco. O piano de Jamal tem a cumplicidade de Israel Crosby (contrabaixo) e Vernel Fournier (bateria).

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7. Duke Ellington

Ano: 1961
Álbum: Piano in the Foreground (Columbia)

A (justa) fama de Ellington como chefe de orquestra ofuscou as suas qualidades excepcionais como pianista, que estão bem patentes nesta sessão em que tem apenas a companhia da secção rítmica da sua big band, Jimmy Woode (contrabaixo) e Sam Woodyard (bateria). A sua leitura de “All the Things You Are” consegue a proeza de combinar ternura intensa com ironia azougada.

8. Paul Desmond & Gerry Mulligan

Ano: 1962
Álbum: Two of a Mind (RCA Victor)

Two of a Mind foi o último de três encontros entre o alto de Paul Desmond e o barítono de Gerry Mulligan, dois saxofonistas que, apesar de terem estilos muito próprios, mostraram ser capazes de uma notável empatia. Como tantas vezes aconteceu nas bandas de Mulligan, o piano é dispensado e, em “All the Things You Are”, o contrabaixo e a bateria estão confiados, respectivamente, a Wendell Marshall e Connie Kay.

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9. Ella Fitzgerald

Ano: 1963
Álbum: Sings the Jerome Kern Song Book (Verve)

O penúltimo volume da magistral série de “song books” que Fitzgerald gravou para a Verve contou com arranjos e direcção de Nelson Riddle.

10. Sonny Rollins & Coleman Hawkins

Ano: 1963
Álbum: Sonny Meets Hawk! (RCA Victor)

Um encontro entre “dois gigantes do saxofone tenor” de duas gerações diferentes: Sonny Rollins (n. 1930) e Coleman Hawkins (1904-1969), com uma secção rítmica constituída por Paul Bley (piano), Bob Cranshaw (contrabaixo) e Roy McCurdy (bateria). Apesar da fama de que Rollins e Hawkins então gozavam e da ousadia que ambos exibem neste álbum, em “All the Things You Are” quem “rouba o espectáculo” é o piano do então ainda pouco conhecido Paul Bley – anos mais tarde, Pat Metheny descreveria o seu solo nesta canção com o “o disparo que ressoou por todo o mundo”.

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