A Time Out na sua caixa de entrada

Procurar
Pearl Bailey
DRPearl Bailey em "St. Louis Woman"

Dez versões de “Come Rain or Come Shine”

Mais uma canção composta para um musical que caiu no olvido e que ganhou vida própria ao tornar-se numa favorita dos jazzmen.

Escrito por
José Carlos Fernandes
Publicidade

O musical St. Louis Woman causou celeuma quando estreou em 1939 e, acaso alguém se lembrasse de lhe limpar as teias de aranha, é provável que causasse ainda mais polémica nos racialmente tensos EUA de hoje. O musical de Harold Arlen (música) e Johnny Mercer (texto) tomou como base o romance God Sends Sunday, do escritor afro-americano Arna Bomtemps (1902-1973) e se, à partida, pareceria positivo que a Broadway pusesse em cena um livro de um autor negro e com personagens negras, não faltou quem visse nessas personagens um estereótipo racial – a NAACP (Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor) entendeu que os papéis negros do musical “ofendem a dignidade da nossa raça” e a actriz e cantora Lena Horne, figura cimeira da comunidade artística afro-americana, rejeitou a proposta para desempenhar o papel principal.

O musical teve um modesto sucesso e a sua única canção que entrou no repertório corrente foi “Come Rain or Come Shine”, uma promessa de amor incondicional, “faça chuva ou faça sol”, “estejam os dias nublados ou soalheiros/ Tenhamos nós dinheiro ou não”. Esta disponibilidade para aceitar destinos diversos traduz-se em abordagens que vão da soturnidade à exultação – pode dizer-se que é uma canção propensa à ciclotimia.

Recomendado: Dez versões clássicas de “My Favorite Things”

Dez versões de “Come Rain or Come Shine”

1. Clifford Brown

Ano: 1953
Álbum: Clifford Brown Quartet in Paris (Prestige) A passagem do jovem prodígio da trompete Clifford Brown por Paris em Outubro de 1953 ficou documentada em vários formatos (quarteto, sexteto e big band). O álbum em quarteto dá a ouvi-lo com os franceses Henri Renaud (piano) e Pierre Michelot (contrabaixo) e o venezuelano/americano Benny Bennett (bateria).

2. Billie Holiday

Ano: 1955
Álbum: Music for Torching (Clef)

Holiday assinou uma das versões mais memoráveis e dolentes da canção nesta sessão com um combo de luxo, formado por Harry “Sweets” Edison (trompete), Benny Carter (saxofone), Jimmy Rowles (piano), Barney Kessel (guitarra), John Simmons (contrabaixo) e Larry Bunker (bateria). A leitura de Holiday é tão pungente e fatalista que não restam dúvidas de que este amor terá muito mais dias de chuva do que de sol.

Publicidade

3. Sonny Criss

Ano: 1956
Álbum: Go Man! (Imperial)

O saxofonista alto escolheu uma leitura bluesy e preguiçosa de “Come Rain or Come Shine” neste registo com o seu homónimo Sonny Clark (piano), Leroy Vinnegar (contrabaixo) e Lawrence Marable (bateria).

4. Sonny Clark

Ano: 1957
Álbum: Sonny’s Crib (Blue Note)

Quando o Sonny pianista gravou o tema na qualidade de líder, no ano seguinte, optou por uma abordagem de dia de chuva miúda e brumas vagarosas. A equipa que o rodeia neste seu segundo álbum é formada por “estrelas em ascensão” do panorama jazz de 1957: Donald Byrd (trompete), Curtis Fuller (trombone), John Coltrane (saxofone), Paul Chambers (contrabaixo) e Art Taylor (bateria).

Publicidade

5. Art Blakey & The Jazz Messengers

Ano: 1958
Álbum: Moanin’ (Blue Note)

Moanin’ marca o regresso do baterista Art Blakey à Blue Note e a estreia de uma das mais notáveis formações dos Jazz Messengers, como o muito jovem Lee Morgan (tinha 20 anos em 1958), o saxofonista Benny Golson, o pianista Bobby Timmons e o contrabaixista Jymie Merritt.

6. June Christy

Ano: 1959
Álbum: Recalls Those Kenton Days (Capitol)

Como o título do álbum indica, June Christy passa aqui em revista algumas das canções emblemáticas do seu repertório quando fazia parte da orquestra de Stan Kenton, entre 1945 e 1953. Os arranjos são de Pete Rugolo, que colaborou com Kenton como arranjador durante o mesmo período que Christy e passou a desempenhar a mesma função com Christy quando esta se lançou na carreira a solo.

Publicidade

7. Chris Connor

Ano: 1959
Álbum: Witchcraft (Atlantic)

Chris Connor foi a cantora que, no início de 1953, tomou o lugar de Christy na orquestra de Stan Kenton, mas só ficaria até ao final desse ano, por achar a agenda de concertos extenuante. Na sua carreira a solo, Connor lançou, no mesmo ano de 1959, a sua versão de “Come Rain or Come Shine”, com orquestra arranjada e dirigida por Richard Wess.

8. Bill Evans

Ano: 1959
Álbum: Portrait in Jazz (Riverside) O trio com Scott LaFaro (contrabaixo) e Paul Motian (bateria) que se estreou em Portrait in Jazz, o quinto álbum de Evans em nome próprio, só duraria ano e meio, mas mudou a face do jazz. O seu “Come Rain or Come Shine” é sereno e confiante, qualidades que resistem às distorções e devaneios a que Evans sujeita a melodia de Arlen.

Publicidade

9. Ernestine Anderson

Ano: 1960
Álbum: Moanin’ Moanin’ Moanin’ (Mercury) Quando Anderson lançou o seu primeiro álbum, em 1958, o crítico Ralph Gleason descreveu-a como “a melhor voz do jazz a surgir na última década. Tem boa dicção e sentido de tempo, uma impressionante facilidade no fraseio, uma voz calorosa [...] e, ainda por cima, tem um swing dos diabos” (tudo verdade!) e a revista Down Beat elegeu-a “nova estrela” de 1959. Com uma orquestra arranjada e dirigida por Hal Mooney, Ernestine Anderson justifica todos estes encómios e dá à canção uma exuberância e assertividade que a puxa decididamente para o lado do “shine”.

A prova de que também na música o talento e o trabalho nem sempre são reconhecidos é que Ernestine Anderson está hoje quase completamente esquecida.

10. Gerry Mulligan

Ano: 1960
Álbum: The Concert Jazz Band at the Village Vanguard (Verve)

A Concert Jazz Band foi uma das mais notáveis formações dirigidas pelo saxofonista barítono Gerry Mulligan e manteve-se no activo entre 1960 e 1964. Este álbum documenta a sua actuação no clube nova-iorquino Village Vanguard a 11 de Dezembro de 1960 e “Come Rain or Come Shine” ganha aqui uma faceta melancólica e resignada.

Mais versões

  • Música
  • Jazz

É uma das mais populares canções de George Gershwin, tendo sido alvo de milhares de gravações. Ouvi-las todas deixar-lhe-ia pouco tempo para gozar os outros prazeres do Verão, por isso escolhemos 11 que são imperdíveis.

  • Música

Estas folhas outonais têm ascendência franco-húngara mas só quando o vento as soprou sobre o Atlântico e chegaram aos EUA se tornaram num dos standards favoritos dos músicos de jazz.

Recomendado
    Também poderá gostar
    Também poderá gostar
    Publicidade