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Dream Theater
DROs Dream Theater: Jordan Rudess, John Myung, James LaBrie, Mike Mangini e John Petrucci

John Petrucci: “O rock progressivo está mais eclético do que nunca”

Os Dream Theater vêm a Lisboa tocar “Metropolis, Pt. 2: Scenes from a Memory” na íntegra. O guitarrista John Petrucci fala-nos sobre a nova vida do disco, 20 anos depois.

Hugo Torres
Escrito por
Hugo Torres
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Em 1999, quando o rock estava entregue à swag solar dos Red Hot Chili Peppers e às melodias insinuantes de Santana, quando o metal se deixava seduzir pelo desvario dos Korn e a fusão redonda dos Limp Bizkit, nesse ano de fim de século, os Dream Theater decidiram fazer um disco à antiga. Conceptual, narrativo, ambicioso. Metropolis, Pt. 2: Scenes from a Memory contava a história de Nicholas, que com a ajuda de um hipnoterapeura tenta desvendar um mistério antigo: quem matou uma mulher chamada Victoria? O enredo vai do policial ao sobrenatural, mas o que elevou o disco ao panteão do prog rock foi o cenário musical que John Petrucci (guitarra), Mike Portnoy (bateria), John Myung (baixo), Jordan Rudess (teclas) e James LaBrie (voz) criaram à sua volta. Vinte anos depois, estão a tocá-lo ao vivo na íntegra (agora com Mike Mangini na bateria) e vão actuar no Campo Pequeno, John Petrucci promete-nos um “grande espectáculo”. 

Que memórias guarda de Metropolis, Pt. 2: Scenes from a Memory?
Ui!... Lembro-me de regressar aos BearTracks Studios, em Nova Iorque, onde tínhamos gravado o Images and Words [1992]; de trabalhar de novo com o [engenheiro de som] Doug Oberkircher, o que foi óptimo. Foi a primeira vez que compusemos um álbum em estúdio, que eu e o Mike [Portnoy] produzimos e que o [teclista] Jordan Rudess compôs e gravou um disco connosco. Foram muitas estreias e muito divertido.

Foi também o vosso primeiro álbum conceptual.
É verdade.

E o mais bem sucedido até então. Tinham planos para fazer algo assim há muito?
Quando escrevi a letra de “Metropolis – Part 1”, a segunda parte não estava nos planos. Não sabíamos se seria uma canção, um disco, ou até se viria a existir de todo. Não pensámos muito nisso. E, quando avançámos para o Scenes from a Memory, sentimos que fazia sentido estabelecer a ligação.

Referia-me a fazer um álbum conceptual. Era algo a que aspirassem?
Não. Aliás, deixou-nos muito nervosos. Há tantos álbuns conceptuais extraordinários e que nos inspiraram – o Tommy [The Who], o Raw [Crack the Sky] ou o Operation: Mindcrime [Queensrÿche] – que, quando começámos o Scenes from a Memory, tínhamos uma expectativa muito elevada. Queríamos tentar fazer algo que se aproximasse remotamente do nível desses discos.

Correu muito bem.
Ficou OK.

Pensava que o “part 1” da “Metropolis”, no Images and Words, era uma brincadeira vossa.
Éramos grandes fãs de Rush, que tinham a “Cygnus X-1” [tema dividido em dois discos]. Havia muitas bandas de rock progressivo que faziam uma parte 1 e depois uma parte 2. Era uma misteriosa característica dessas bandas, uma nerdice do género. A brincadeira era essa, por não termos uma segunda parte prevista e deixarmos o tema em aberto.

Como é que a letra de de “Metropolis – Part 1” se transforma na história de Nicholas e Victoria?
Não tem nada a ver! [Risos.] Tentámos encontrar uma forma criativa de ligar as duas, mas a letra que escrevi para “Metropolis – Part 1” é muito… inespecífica. Não conta uma história concreta. Esticámos um bocado a corda, vamos dizer assim.

Nesta digressão revelam dados novos, como o sobrenome das personagens. Sentiram necessidade de trazer novidade ao Scenes from a Memory, 20 anos depois?
Quando o apresentámos ao vivo [vídeo abaixo], queríamos fazer um espectáculo em grande, tal como aconteceu com o The Wall [Pink Floyd] ou o Operation: Mindcrime, mas não tínhamos os meios necessários. Nem a produção de palco nem a parte dos vídeos – tínhamos pequenos ecrãs de televisão. Agora, temos. Vamos apresentá-lo como deveria ter sido, com conteúdo animado inteiramente novo que mostra as personagens e todo os enredo como se fosse uma novela gráfica.

Misturam canções do Scenes from a Memory com as do Distance Over Time, o novo disco [2019], ou são partes diferentes do espectáculo?
Decidimos dividir o espectáculo. O primeiro set tem muitos temas do Distance Over Time, e alguns mais antigos. Depois, há uma interrupção para mudar o palco, e tocamos o Scenes from a Memory na íntegra.

O som do Distance Over Time é idêntico ao do Scenes from a Memory?
São diferentes. O novo álbum soa muito mais moderno. Está mais bem misturado e produzido, e é provavelmente mais pesado. Mas só porque vamos aprendendo à medida que o tempo passa. Ganhamos experiência como músicos, como produtores. O Scenes from a Memory soa mesmo muito, muito bem. Mas o Distance Over Time é muito diferente.

E a sua abordagem à guitarra, evoluiu?
Completamente. Depois do Scenes from a Memory, quando fizemos o Six Degrees of Inner Turbulence [2002], passei a tocar com o Joe Satriani no G3 [digressão anual com três virtuosos da guitarrista eléctrica], e comecei a trabalhar mais a solo. Tornei-me um guitarrista mais competente, o que me beneficiou a banda e ajudou a desenvolver a minha identidade como músico. A minha forma de tocar evoluiu a muitos níveis, mas muita da técnica que tenho vem da minha juventude. Pratiquei imenso. A técnica que tenho já estava nos primeiros álbuns. A partir daí, foi uma questão de desenvolver e tentar coisas novas. Quando entramos em digressão e tenho de voltar a temas do Train of Thought [2003] ou do Scenes from a Memory, noto a diferença. E faz-me regressar a técnicas nas quais estava interessado nessas alturas. Algumas delas são bastante desafiantes, mas é muito divertido. Muito.

A forma como se senta na cadeira do produtor também mudou?
A primeira vez que estive envolvido na produção foi no Scenes from a Memory. Gostei imenso. Depois de o Mark [Portnoy, baterista e fundador] ter deixado a banda [em 2010], passei a fazê-lo sozinho e dei por mim numa verdadeira zona de conforto. O resto do grupo confia muito em mim, e acho que tenho vindo a melhorar. Orgulho-me disso. Consigo sentar-me a ouvir o Distance Over Time e dizer ‘OK, estou mesmo contente com isto’.

O rock progressivo ainda está a receber a atenção que estava a ter nos anos 90?
Acho que ainda está mais. E tem sido realmente interessante ver como o género se tem desenvolvido e se tem tornado mais eclético do que nunca. Diria que isso se deve à infusão de metal no progressivo. Há muita gente nova a tocar e chega a uma audiência cada vez maior.

Como é que a digressão americana foi recebida?
Tem sido fantástico para quem nunca viu ao vivo o Scenes from a Memory. Estão mesmo a desfrutar da oportunidade. Quem viu há 20 anos, está a gostar da nova versão. E a resposta ao Distance Over Time tem sido óptima. Há muita gente a pedir-nos para tocar o álbum inteiro, o que me deixa a sorrir porque significa que continuamos a fazer algo de que as pessoas apreciam. Para um artista, não há nada mais gratificante.

Quais são as expectativas para a Europa?
Elevadas. O Scenes from a Memory foi muito bem sucedido na Europa. E sei que há muitas pessoas ansiosas para ouvir o Distance Over Time, que também está a ser incrivelmente bem recebido aí. Na Alemanha, por exemplo, estreou-se no top de discos como número um. No Verão, fizemos alguns festivais europeus, mas com concertos mais curtos. Agora vamos tocar o espectáculo todo.

Que tem quase três horas.
É um grande espectáculo. Vai ser muito divertido.

Campo Pequeno. Dom 20.00. 29-246€.

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