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Música, Club Makumba, Tó Trips, João Doce, Gonçalo Prazeres, Gonçalo Leonardo
©Vitorino CoragemClub Makumba

Para os Club Makumba, dançar é resistir

Club Makumba é música livre, uma combustão de rock e jazz que quer pôr toda a gente a dançar como acto de resistência. Falámos com o saxofonista Gonçalo Prazeres.

Escrito por
Ana Patrícia Silva
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Quando estava a apresentar o álbum Guitarra Makaka, Tó Trips andava na estrada sozinho, o que não lhe agradava muito, por isso convidou João Doce (Wraygunn) para se juntar. Acabaram por formar um duo de guitarra e percussão, gravaram um EP em 2016 e andaram a tocar por aí. O próximo passo seria um álbum, mas precisavam de algo mais. No final de Agosto de 2019, convidaram dois músicos que tocavam em Dead Combo – Gonçalo Prazeres e Gonçalo Leonardo – e encontraram-se para “um fim-de-semana de ensaios e convívio”. “Havia uma química muito interessante”, lembra Gonçalo Prazeres. “Estivemos a fazer jams e gostámos do vibe que saiu dali. Saímos desses dias com quatro músicas, estávamos cheios de pica de pôr as coisas a andar.”

Assim nasceram os Club Makumba, com Tó Trips (guitarras), João Doce (bateria, percussões), Gonçalo Prazeres (saxofones) e Gonçalo Leonardo (contrabaixo, baixo eléctrico). Antes de darem o primeiro concerto, já tinham um disco gravado. Março de 2020 era a data apontada para o lançamento, mas, pelas razões que estamos fartos de saber, acabou por ser adiado um ano. E depois mais outro. O álbum ficou a marinar e cresceu durante os concertos – “ao vivo mudámos uns arranjos, as músicas têm uma roupagem um pouco mais orgânica, têm mais força ainda” –, mas a gravação manteve-se inalterada, até porque “é quase como se fosse a fotografia instantânea daquele momento”. No dia 21 de Janeiro de 2022, agora sim, verá a luz do dia.

Alguns dos temas do álbum de estreia deste colectivo já tinham sido gravados por Tó Trips a solo e funcionaram como ponto de partida para algo maior e mutante. “Já não têm muito a ver com a versão original, é como se fossem músicas distintas com o mesmo nome. Nós acabámos por dar outro groove, outra onda.” Quando entraram em estúdio, o esqueleto dos temas já estava “praticamente definido”, mas o disco não perde a espontaneidade. “A piada é estar em estúdio e olhar para aquilo de outra forma. Toquei vibrafone, dobrámos baixos e saxofones, acrescentámos sempre outros elementos e ideias. Gravámos tudo ao vivo, os quatro ao mesmo tempo, para ter essa onda orgânica, e depois fomos acrescentando algumas camadas. Mas a nossa intuição acaba por prevalecer.”

Tó Trips e João Doce vêm de um lado mais punk, Gonçalo Prazeres e Gonçalo Leonardo vêm de uma multiplicidade de caminhos no jazz, mas a combustão disto tudo tem uma identidade própria. Sabemos de onde vem, mas não sabemos para onde vai. “O Tó usa várias afinações e guitarras diferentes, eu toco saxofone tenor e barítono e uso muitos efeitos, e o Gonçalo também usa vários efeitos agregados. O João Doce é um polvo [risos]. Tem uma bateria que é também percussão e todos nós opinámos ainda mais, para acrescentar mais isto e aquilo. Procurámos sempre cores diferentes.”

Club Makumba é música que vai directa ao corpo, com um apelo muito dançável, mas que também acaba por dizer muito sem palavras – como “Migratória”, dedicada às pessoas que se lançam a uma vida melhor nestas margens ocidentais, negligenciadas por uma Europa cada vez mais fechada em si própria. “Queremos fazer música que mexa com as pessoas e que tenha um impacto físico e libertador. Nesta fase é muito importante juntarmo-nos e dançarmos. Mas não dançar como uma dança organizada, coreografada”, explica Gonçalo. “Gosto muito de bandas tipo Pixies, bandas mais indie-rock com groove e coisas minimalistas. Club Makumba é música do mundo tocada com essa onda. Vamos beber muito a músicas à volta do Mediterrâneo, da África do Norte, do Médio Oriente, dos Balcãs.”

Antes de pegar num saxofone, Gonçalo Prazeres tocava guitarra em bandas de hardcore. Além das formações de jazz, tem tocado com Cais Sodré Funk Connection, em projectos de afrobeat como Cacique’97 e They Must Be Crazy, e em projectos de reggae com Freddy Locks. Esta variedade de estilos traz-lhe outras perspectivas sobre a música e outros modos de a viver: “Sempre tive um amor muito grande pelo saxofone e sempre ouvi muito jazz quando era mais novo, mas percebi que me fazia falta estar a tocar ao vivo e ver pessoas a dançar. É outra maneira de sentir a música, as pessoas têm outra reacção. Música é música. Todos os estilos me fazem sentir coisas diferentes.”

A ambição de Club Makumba é “tocar no máximo possível de sítios, cá dentro e lá fora”, e “usufruir do prazer de estar a tocar para outras pessoas, de as pôr a mexer”. O próximo concerto está marcado para 27 de Janeiro, em Lisboa, com novidades para além deste álbum. “Vamos estrear três músicas novas no CCB”, revela Gonçalo. “Se o disco tivesse saído em 2020, se calhar já teríamos gravado o segundo disco. Puxamos muito uns pelos outros. De cada vez que nos juntamos, acabamos sempre por criar qualquer coisa nova. É uma boa comunhão de pessoas.”

Conversa afinada

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Com 15 anos, Mallu Magalhães çomeçou a carreira com a pressão de ser a grande revelação da música brasileira. Entre o álbum Pitanga (2011) e Vem (2017), mudou-se para Lisboa, distanciou-se da folk e das fixações anglo-saxónicas, provou o sabor da saudade e redescobriu o colorido calor do samba e da bossa nova, ganhando mais confiança na sua poesia. Quase 15 anos depois de entrar no mundo da música, segue em elegante evolução e apresenta Esperança, um disco escapista.

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Opus musical, literário e cinematográfico, 20.000 Éguas Submarinas é um mergulho no imaginário imenso de Rui Reininho, nas suas inquietações e deslumbramentos – e nas suas lutas. É um álbum como nenhum outro em que o tenhamos ouvido. Sentámos com o cantor numa mesa de Lisboa para falar do mar, de vibrações, viagens ao Nepal e, claro, também dos GNR. Uma conversa aberta em que até se desvenda a origem copiada de uns dos versos memoráveis de “Pronúncia do Norte”.

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Depois dos Capitães da Areia, Pedro de Tróia estreou-se a solo com Depois Logo se Vê. O disco saiu em Março de 2020, pouco tempo antes do início do estado de emergência. Alguns meses depois, Pedro já começara a trabalhar com o produtor Tiago Brito num novo álbum, Tinha de Ser Assim. É um disco com mais cores e sintetizadores, com letras que fazem cócegas ao coração e que derramam uma sensibilidade muito própria. É uma prova de sobrevivência de quem está pronto para continuar.

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