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25 anos depois, a ZDB ainda é a casa de todos

Escrito por
Tiago Neto
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A Galeria Zé Dos Bois (ZDB) celebra o seu 25º aniversário de 26 de Outubro a 9 de Novembro. Natxo Checa e Sérgio Hydalgo, duas das figuras que ajudaram a escrever-lhe a história, falaram sobre o último quarto de século deste que é um dos pólos culturais mais fervilhantes da cidade.

"Acho que conheço a tua cara”, atira Natxo Checa, o actual director e um dos fundadores da Zé dos Bois. Não conhece, mas a afirmação não surpreende, afinal este é um lugar de culto em que as caras se repetem. Encontrámo-lo com o espaço em plena metamorfose, mais uma; o cheiro a tinta fresca denuncia-o, os cartões no chão salpicados denunciam-no. Este ano a ZDB celebra o seu 25º aniversário, é um quarto de século de histórias, 25 anos a mexer com as estruturas culturais da cidade, e o cartaz de festividades reflecte-o.

A festa de anos é já este sábado, pelas 23.00, em registo caseiro e com uma exposição de cartazes da ZDB. Depois, a celebração segue com os Iceage (31), a performance Normcore, de Dinis Machado (2/11), Nivhek, um dos alter egos da norte americana Liz Harris, na Igreja de St. George (5/11) e Natalie Mering aka Weyes Blood no B.Leza (6/11). Segue-se, dia 8 de Novembro, na ZDB, a exposição Alto Nível Baixo, com audiovisual experimental do período do AI-5 (1968-78) no Brasil, e Desenhos de Guerra de Manuel Barbosa, produzidos no quartel de Zemba, em Angola. Por fim é Cass McCombs, dia 9, às 22.00, a fechar o programa de festividades.

Sérgio Hydalgo e Natxo Checa são duas das figuras centrais da ZDB
Fotografia: Manuel Manso

Tudo começou em 1994. “Demo-nos conta de que todas as pessoas que entraram para as estruturas culturais eram da geração anterior, do Cabrita Reis, João Sarmento”, começa Natxo. “Ou fazíamos por nossa conta um espaço e criávamos as nossas ferramentas, ou não teríamos espaço.” Ao longo dos anos nem tudo foi delineado, admite. O rumo fez-se de forma desafiante, mais pelo pensamento livre do que pelas condicionantes habituais a uma associação do género. Uma fórmula que haveria de a diferenciar e torná-la apetecível aos artistas. “Eles é que fizeram a ZDB. Não há aqui ninguém iluminado, há é uma malha dilatada em que a relação com as pessoas precipitou isto. Nunca houve estratégia, o que aconteceu foi que as coisas foram ficando cada vez mais profissionais e não posso chegar a todas.” 

A profissionalização foi a porta de entrada para Nélson e Pedro Gomes. As figuras que tomaram conta da programação musical entre 2003 e 2006 tinham “a ambição de fazer Lisboa aparecer no mapa enquanto circuito de determinado perfil de artistas”. Com eles, chega uma nova geração de músicos, música mais exploratória, como os Animal Collective e seus contemporâneos. “Em 2003, o Nélson, que era músico, começou a colaborar connosco e houve uma mudança no paradigma da música. E ao longo desses quatro anos, já com o Pedro, começa a ver-se que uma música do Sael pode ser tão interessante como uma música experimental electrónica”. Até que a dupla deixou o projecto para fundar a associação Filho Único.

Seguiu-se um ano de intermitência, fechado com Sérgio Hydalgo. Conhecia a casa, viveu-a ainda antes de a integrar como programador. “O Sérgio vinha cá como público e tinha um programa de rádio em que entrevistou uma série de artistas, o Má Fama. O programa determinava já o perfil de um gosto, era novo, tinha energia e vontade. E nós, na altura em que o Nélson e o Pedro saíram para fazer a Filho Único, não queríamos descer o patamar.”

Natxo Checa foi um dos fundadores da ZDB em 1994
Fotografia: Manuel Manso

A outra peça fundamental desta engrenagem é Marta Furtado, responsável pel’O Negócio, espaço na Rua de O Século dedicado ao teatro e à dança, por onde já passaram companhias como A Mala Voadora ou a Primeiros Sintomas. “A Marta conseguiu entrar aqui há 19 anos, levar para a frente O Negócio e fazer a gestão da ZDB, o que é incrível”, elogia Natxo. Tudo é discutido em aberto.

Foi esse trabalho a várias mãos que fomentou o crescimento da importância no circuito cultural. Foi, também, com a entrada de Sérgio que a programação musical viveu mais uma abertura. À pergunta sobre a necessidade de expandir o leque a novos públicos, ele não hesita: “Senti que a ZDB era vista de forma elitista e eu queria chegar às pessoas que podiam sentir que não era o seu espaço, mostrar-lhes que podiam gostar do que apresentamos.” Para ele, o essencial era a comunicação e o equilíbrio, isto é, trazer “tanto aqueles que tenham interesse por propostas emergentes como por outras mais populares.”

Pelo aquário, a sala de concertos com vista para a Rua da Rosa, passaram nomes como Jessica Pratt, Panda Bear, Animal Collective, Owen Pallet (Arcade Fire), Ariel Pink, Lee Ranaldo e Kim Gordon (Sonic Youth), ou Ty Segall. Sem esquecer projectos como Cool Hipnoise, Dead Combo, B Fachada, Norberto Lobo ou Terrakota. “Óbvio que se tivéssemos mais dinheiro e mais apoio, fazíamos melhor. Não digo mais, isso seria difícil, mas melhor”, diz Natxo. “Mas esta casa não funciona como um bando de coitadinhos.”

O objectivo passou sempre por trazer novidades e oferecer um palco aos artistas que dele precisem. Essa é a máxima da casa. “No fundo esse continua a ser o lugar da ZBD. O dia em que o deixar de fazer, morreu”. É isso que sempre o motivou. “Poder ter uma comunidade, pessoas esclarecidas, sentir orgulho. E os artistas fizeram-me crescer intelectualmente. Morrer velho e ser um intelectual é do caraças, não é? É pica natural.”

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