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5 e Meio, onde a cerveja é feita à medida

Há uma marca de cerveja artesanal para conhecer na Ericeira. Fomos apresentados no novo taproom da 5 e Meio.

Sebastião Almeida
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Sebastião Almeida
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Antes de a primeira cerveja do dia ser derramada no copo de qualquer cliente, a rotina é sempre a mesma: o primeiro a chegar tem de abrir a linha e provar todas as cervejas, explica Teófilo Oliveira, 38 anos, fundador e um dos cervejeiros da 5 e Meio, uma marca de cerveja artesanal nascida em 2013, que ganhou agora um taproom na vila da Ericeira. Não o fazendo, diz, corre-se o risco de servir produtos com um sabor alterado e isto do mundo das cervejas “é um sector de pormenor, por isso temos de estar atentos a todos os detalhes”, acrescenta por sua vez Luís Pereira, cervejeiro que se juntou ao projecto em 2019, enquanto prova uma strong ale de estilo belga acabada de tirar de uma das oito torneiras instaladas.

Como na maioria das histórias que envolvem cervejeiros, tudo começou fruto de uma brincadeira. Há oito anos, quando Teófilo trabalhava numa empresa de consultoria, surgiu a ideia de, entre amigos, fazer algo divertido no Verão. “Fazer algo mais manual, que sentisse que fosse mais físico”, conta. “Por algum motivo, apareceu-nos uma publicidade de uma loja de cerveja artesanal. Então o que fizemos? Comprámos um kit e fizemos cerveja.” Daí até terem nas mãos o resultado da primeira experiência, pouco tardou. “Não correu nada bem, mas tinha um cheiro de cerveja", recorda Teófilo. E esse foi feito que bastasse para continuar. “Fizemos a medição do teor alcoólico e dava-nos cinco graus e meio. Medimos mal, claro. 5 e meio, olha, muito giro. Discutimos com amigos e acabou por ficar assim”, resume sobre o significado do nome adoptado.

Ao início, experimentavam produzir cervejas diferentes. Agarravam em estilos que mal conheciam e misturavam-nos, talvez à procura de expressar a sua criatividade e de imprimir nas suas criações uma identidade enquanto cervejeiros, justifica Teófilo. Em 2015, aventuram-se nos primeiros festivais de cerveja – o palco ideal para, por exemplo, usar malaguetas de Moçambique e limão numa weissbier. “Experimentávamos muito, não tínhamos pressão comercial, podíamos brincar à vontade. E começou assim o nosso projecto.” Passar de uma produção caseira para métodos profissionais, em fábrica, foi o passo lógico mas difícil a tomar. “Existem apenas dois tipos de cervejeiros: os que já tiveram uma contaminação e os que ainda vão ter uma contaminação. Esta é uma frase que usamos entre cervejeiros e que significa que, mais tarde ou mais cedo, para se continuar a ser consistente, tem de se passar para um nível com todos os controlos de higiene”, explica.

Luís Pereira, de 40 anos, seguiu trajecto idêntico ao de Teófilo – há dois anos deixou o trabalho que o consumia para se dedicar a uma paixão pela cerveja que foi crescendo progressivamente desde 2012. “Cruzei-me com o Teófilo, falámos sobre cerveja e sobre as ideias que tínhamos, começámos a perceber que tínhamos a mesma forma de estar e maneira de olhar para este sector” e assim entrou na 5 e Meio, resume. “É assim que é muito o cervejeiro. Pessoas que têm uma actividade profissional muito intensa, com um curiosidade intelectual muito abrangente e que a certa altura procuram algo diferente e acabam por enveredar por este negócio.”

5 e Meio
Manuel MansoHá tabuleiros de prova com quatro variedades de cerveja (6€)

Luís juntou-se para ajudar a afinar a produção na fábrica localizada na Venda do Pinheiro. Ana Dias e Andreia Silva ficaram responsáveis pela imagem da marca e pela parte de controlo da produção. Actualmente, a oferta da cervejeira divide-se em três linhas: uma comercial, com estilos mais comuns, como a blond ale (2,55€-3,50€), neutra e simples, uma stout (2,55€-3,50€) produzida com pão saloio de Mafra ou uma strong ale (3€-4€) de estilo belga, mais alcoólica e com caramelo presente. As Lab Series são a gama em que há maior liberdade para brincar. Como exemplo dessa criatividade, provamos uma imperial stout produzida com café de Timor, que estagiou numa barrica de carvalho, e que é exponenciada ao máximo acompanhada de uns croquetes (5,5€) de carne de vaca fumada, desfiada com mozzarella, criação da cervejaria Botão, nas redondezas. Um blend deste lote está actualmente a estagiar em garrafa e dará origem a uma das suas criações mais exclusivas. Mas já lá vamos. Apesar de as atenções estarem postas na cerveja, Luís e Teófilo sabem que a comida só potencia a experiência de provar cerveja. “Não temos a ambição de ser um restaurante nem chefs de cozinha. Temos noção que para o sabor das cervejas ser potenciado e percebido tem de ser acompanhado por algum tipo de pratos.” É por isso que, recorrendo aos chefs da zona, elaboraram a carta deste espaço dedicado à cerveja. Além dos croquetes, há batatas fritas, oriundas da região, e uma sandes de cachaço de porco (6€), emprestada do vizinho Canastra.

A prata da casa e a terceira linha de produtos são mesmo as cervejas envelhecidas, pensadas para serem bebidas com tempo de maturação, à semelhança da abordagem que damos ao vinho. “Alguns cervejeiros pegam nas cervejas e põem-nas em barricas a envelhecer”, explica Teófilo. Na 5 e Meio, o envelhecimento é feito na garrafa, diz-nos. Uma das primeiras a chegar ao mercado é a Doble Doble, feita com base numa receita de 1670 (23€-28€). “Decidimos que íamos dar o nosso toque e envelhecê-la durante três ou quatro anos”. A cerveja maturou apenas dois e é um “produto de luxo, para ser consumida num horizonte de anos”, diz Luís. Lá dentro, na garrafa, os níveis de amargor alteram-se e evoluem – ora são mais altos, ora decrescem. A outra criação disponível é a Barleywine (20€-25€), também ela com um estágio de garrafa de dois anos, e igualmente volátil. Quanto mais tempo for conservada, mais notas ganhará, ao mesmo tempo que algumas características se irão sobrepor a outras.

E qual o segredo para resistir a beber estas garrafas especiais? Paciência, diriam os seus criadores. No novo taproom, há outras cervejas para se ir distraindo caso a tentação não lhe passe ao lado. Aqui, como dita o espírito cervejeiro, vão rodando pelas torneiras e prateleiras criações de outros produtores. De uma coisa Teófilo e Luís estão certos: a cerveja que passa nestas torneiras é bem feita. “O único segredo é o tempo para trabalhar nelas”, afirma Luís, ao sorver mais um trago.

Rua do Ericeira, 14 (Ericeira). 910 536 340. Seg-Sex 17.00-22.30.

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