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"9 anos depois - a partir de Ilíada": os Auéééu-Teatro mostram-se na Politécnica

Escrito por
Miguel Branco
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Esta segunda parte de uma trilogia estreia-se esta terça-feira no palco do Teatro da Politécnica. A desculpa perfeita para falar com deuses.

Isso não tem nada a ver. O quê? Isso, claro, e o importante é pensar o isso, pensar o nada, que também é tudo, que também é deus, que é, no limite, homem. Mas com o que é que isso tem a ver? Com tudo, claro. Em 9 anos depois – a partir de Ilíada – segunda parte de uma trilogia do Auéééu-Teatro às voltas com a proposta de Homero, com a dor de Aquiles, “com um sentimento de luta ou guerra, seja com o exterior, com a política, com a família, ou uma guerra interior”, com eles mesmos, explica Sérgio Coragem, um dos nove elementos fundadores da companhia – nunca saímos da casa de partida: deus ou homem, fazer ou ver fazer. Tudo para ver ou ser visto, a partir de terça-feira no Teatro da Politécnica.

Há uma rádio-olimpo de transmissão diversa, ora é a pergunta do dia, ora é o showcase do grande artista Filipe Velóz, ora são os intervalos e pacotes publicitários. E sim, se falamos de uma rádio lá de cima, com acesso a todas as comunicações AM/FM, a todas as tecnologias entregues aos homens às prestações, de século em século, é natural que a vista seja clara, talvez total, é normal que dali se veja a construção de um filme, um ensemble de produção cinematográfica do mundo dos vivos – se é que isso existe por aqui: “O facto de termos estes dispositivos e todos terem o seu lado digital foi como se depositássemos a presença dos deuses nesses objectos e nessas ligações”, enquadra Sérgio, descortinando a temática-chapéu do espectáculo: a relação homens-deuses.

Uma câmara documenta o filme a ser feito, ou seja, as possibilidades aumentam, a paisagem é a de cada um: “Interessa-nos os vários planos, de criar uma imagem que é projectada e ver toda a manipulação que essa imagem requer para se concretizar. Interessa-nos o jogo de o que faz ver e o que é visto, nesta relação também com os deuses. Daí a ideia da rádio, que comenta, que é a voz”, afirma Beatriz Brás.

Mais há mais. Há uma slackline que tanto é mais uma dimensão, mais um prisma por adivinhar, como é bancada de braços, divisão entre alunos e professor, linha ténue entre réus e juiz. Sim, que da Ilíada vem isto tudo. Vem um acidente de viação que o colectivo testemunhou – e uma consequente conversa que explora mais ainda a dicotomia acção-reacção, ajudar a condutora ou tirar notas para este espectáculo –, vem um globo iluminado, vem um manequim a precisar de limpeza e um tríptico de Bosch. No fundo, só não vem o que não é passível de ser pensado e repensado, discutido, claro, há lá maior gatilho que a discórdia e a incerteza: “Nós somos várias opiniões. E isso provoca um movimento. Se concordássemos todos não saía daqui porque já concordámos, morreu.”, diz Filipe Velez.

Caso para dizer que se veio à procura de linearidade, se veio à procura de uma estrutura rígida em x actos (não se corte), estimado leitor, veio bater à porta errada. Provavelmente até quem escreve estas linhas veio, sobretudo quando, às tantas, a figura de um crítico questiona o valor artístico deste mesmo nove anos depois – a partir de Ilíada. “Temos a tendência de criticar tudo o que fazemos. Como lidamos muito com isso, começámos a pensar...bem, não há mal nenhum em pensarmos isso como tema, com todos, com os espectadores.”, adianta Filipe Velez. Ao que Joana Manaças responde prontamente: “Como se isso fosse possível”. Pois. Isso não tem nada a ver.

Teatro da Politécnica. Ter-Qua 19.00. Qui-Sáb 21.00. 10€

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