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Televisão, Séries, Animação, Sci-fi, Eden (2021)
©DREden de Justin Leach

A extinção humana é uma animação (e é para ver na Netflix)

Criada por Justin Leach, ‘Eden’ é a primeira série de anime inteiramente original da Netflix. Viajámos até um futuro em que a humanidade está por um fio.

Hugo Torres
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Hugo Torres
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O ano é incerto. Daqui a milénios, muito para lá de qualquer projecção do PIB ou da dívida pública. Eden passa-se nos limites da imaginação do criador Justin Leach. Num tempo em que os seres humanos estão dados como extintos e o mundo é gerido por máquinas – os robots mais ou menos humanóides que nós, a subespécie de primatas Homo sapiens sapiens, criámos e que nos sobreviveram. A civilização é agora um mundo de inteligência artificial, rodas dentadas e baterias recarregáveis, por onde se passeiam andróides de diferentes formatos e funções distintas, capazes de se auto-reparar. Como se chegou até aqui, só saberemos a partir de quinta-feira, 27 de Maio, dia de estreia desta série de anime.

A animação japonesa vem crescendo em títulos no catálogo da Netflix. Só para este ano estão previstas cerca de 40 estreias (entre as quais as de Pretty Guardian Sailor Moon Eternal: O Filme, Resident Evil: Infinite Darkness, Trese ou Spriggan). A acreditar nas contas da empresa, números redondos, é o dobro da oferta do ano passado. E Eden ainda deveria fazer parte da contabilidade de 2020, mas foi atrasado do Outono para a Primavera – e acabou por ser ultrapassado por um outro “original Netflix” muito aguardado, Yasuke, que se estreou a 29 de Abril. No entanto, Eden manteve o estatuto de primeira série de animação japonesa inteiramente original da Netflix. É um marco importante num mercado em que o serviço de streaming está declaradamente a apostar. Até ao momento, o catálogo de animes “originais” cingia-se a adaptações de mangas e videojogos, ou mesmo de personagens históricas, como em Yasuke, por exemplo, sobre o primeiro samurai negro (levado para o Japão por portugueses, provavelmente de território moçambicano, no século XVI). Não é o caso de Eden. O universo, as personagens, a narrativa: é tudo criado de raiz.

Eden é uma história de ficção científica criada por Justin Leach, que começou como animador na Blue Sky, estúdio que abandonou para ir aprender e trabalhar para o Japão, onde desempenhou um papel central em Cidade Assombrada 2 – A Inocência (Ghost in the Shell 2: Innocence). Regressou aos EUA para integrar a equipa que desenvolveu Star Wars: A Guerra dos Clones, voltando depois à Blue Sky para trabalhar no franchise A Idade do Gelo, em Rio ou Ferdinando. Mas nunca perdeu o fascínio pelo anime e, em 2013, conseguiu estrear a curta Kick-Heart com financiamento amealhado no Kickstarter. Cinco anos mais tarde, abriu um estúdio em Tóquio – e este é o seu primeiro grande projecto, no qual se faz acompanhar pelo realizador Yasuhiro Irie (Fullmetal Alchemist).

É esta respeitável dupla criativa que nos conduzirá pelos meandros da cidade Eden 3; que nos fará acompanhar dois robots de manutenção, E92 e A37, enquanto estes descobrem, numa tarefa de rotina, uma cápsula onde se encontra uma menina, ainda bebé, em estase; que envereda por uma espécie de antropologia invertida, dando a estes dois robots um conhecimento que a maioria dos congéneres ignora – o de que os humanos, afinal, não são um mito –; que nos alinham imediatamente com a ideia de resistência cautelosa que estes dois robots acalentam mal a menina, Sara, desperta. Eles vão criá-la e protegê-la em segredo, embora este seja cada vez mais difícil de manter, à medida que ela cresce. Sobretudo, depois de Sara tomar conhecimento de que não é a única pessoa “acordada”. Cabe-lhe salvar a humanidade. Mas não é assim tão simples – e terá a oposição de Zero, um assustador e poderoso andróide com apetite pela destruição da nossa espécie. “Os humanos destroem o mundo. São maléficos. Para criar um mundo perfeito, os humanos são um obstáculo”, diz ele. Não é um raciocínio exotérico, tendo em conta o egoísmo humano, enquanto espécie, e a nossa atracção pelo abismo. Sara põe a questão por nós: “Achas que o mundo precisa de humanos?” Talvez Eden nos ajude a encontrar uma resposta.

Netflix. Qui (estreia).

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