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A luta de Pacheco Pereira pela memória continua (e tem segunda casa no Barreiro)

Sebastião Almeida
Escrito por
Sebastião Almeida
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Novo armazém do arquivo-biblioteca Ephemera, no Barreiro, inaugura este sábado com programa de festas. Pacheco Pereira continua o trabalho de recolher e documentar a memória colectiva que amiúde desvalorizamos.

“Quem controla o passado controla o futuro, quem controla o presente controla o passado”. A frase é de George Orwell, no distópico 1984, mas quem neste sábado visitar o Parque Empresarial do Barreiro perceberá a importância da mensagem gravada a tinta num dos muros do complexo. Ali em frente será inaugurado o segundo armazém nos terrenos da antiga Companhia União Fabril do arquivo-biblioteca Ephemera, criado por José Pacheco Pereira em 2009. O historiador e político dedica-se, há uma década, a reunir todo o tipo de objectos que representam a história nacional e internacional e respectivas memórias colectivas, através de cartazes, fotografias, jornais, pins e outros objectos banais.

Este fim-de-semana, a partir das 15.30, há festa para comemorar a inauguração do Armazém 2 (o primeiro abriu em 2018, na mesma rua). “Funcionamos de forma diferente”, afirma Pacheco Pereira, enquanto percorre os cantos ao armazém ainda em preparação para o evento de sábado. “Tudo começou pelo blogue Ephemera, começámos por receber espólios, ofertas e organizámos tudo”. O espólio de mais de 200 mil títulos, 25 mil periódicos e de mais de dez mil cartazes encontra-se repartido entre a Marmeleira, em Rio Maior, e o Barreiro, e não pára de crescer.

Uma das urnas usadas no referendo da Catalunha (no canto superior direito)
Manuel Manso

O novo armazém, gerido pela Associação Cultural Ephemera, funcionará com um pólo de documentação e de actividade cultural, à semelhança do primeiro naqueles terrenos. A inauguração terá patente a exposição “Coisas do Ephemera – Um Gabinete de Curiosidades Moderno”, que pretende “mostrar a diversidade dos fundos existentes e como eles se ligam entre si”. Há no arquivo perto de 200 espólios e colecções de cartazes, fotografias e objectos. Esta mostra, que será rotativa, tentará demonstrar a riqueza da curiosidade de quem a juntou, com o intuito de suscitar o mesmo sentimento no público.

Na última semana, conta Pacheco Pereira ao destapar uma lona preta empoeirada, a Associação 25 de Abril doou novos materiais que estarão em exposição pela primeira vez e que “complementam a colecção de 25 mil cartazes” relacionados com este período histórico. Uma urna do referendo catalão de 2017, doada pessoalmente pelo presidente da Generalitat, ou cartazes do Exército português a apelar à deserção dos membros da Frelimo, em Moçambique, durante a guerra colonial, serão outros dos objectos reunidos para a ocasião. Um copiógrafo Gastetner, ainda funcional, "usado na imprensa clandestina" lembrará a importância e o dever do jornalismo no desenvolvimento da sociedade.

O copiógrafo que era usado por imprensa clandestina no Porto, antes do 25 de Abril
Manuel Manso

O programa inicia-se com um concerto da Banda Filarmónica da Casa do Povo da Vila da Marmeleira e prossegue com a sessão comemorativa de inauguração, que contará com a presença de Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, e de outras figuras políticas. Às 22.00, George Silver e Camila Vale apresentam o espectáculo A Relatividade das Memórias, performance que é uma viagem pelo “multiverso das memórias aleatórias que compõem linguagens paralelas". A festa e a música continuam noite dentro.

O funcionamento do Ephemera assenta na “base de 150 voluntários”, nota o fundador. “O que nos permite salvar muita coisa é esta rede de recolhas”, espalhada por 15 locais de todo o país e em Angola e no Luxemburgo. O arquivo-biblioteca celebrou dez anos de vida no ano passado e desde a sua criação que “anda aos papéis”, na busca incessante de preservar fragmentos de história do mundano.

Ephemera, Parque Empresarial da Quimiparque (Barreiro). A partir das 15.30, entrada livre.

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