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We're Here - HBO
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A nova série da HBO é um teste ao conservadorismo

Hugo Torres
Escrito por
Hugo Torres
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Em We’re Here, Bob the Drag Queen, Shangela e Eureka O’Hara testam o conservadorismo de cidades perdidas no interior americano. Tirámos as plumas do armário para a nova série da HBO.

A RuPaul's Drag Race, pináculo dos reality shows da televisão transformista, é uma fonte inesgotável de inspiração para criações conexas e We’re Here é o mais recente exemplo. A série que a HBO estreia nesta sexta-feira reúne três antigas e populares concorrentes do programa conduzido pela maior das estrelas drag de além-mar, a norte-americana RuPaul (que busca uma nova rainha em cada uma das suas respeitáveis 12 temporadas), e as leva numa viagem pela América rural. Bob the Drag Queen, Shangela e Eureka O’Hara aterram (o verbo chegar não capta na totalidade a reacção que o trio provoca nas pequenas e conservadoras cidades que visita), à procura de quem tenha coragem para quebrar amarras sociais e pôr um vestidinho, uma peruca e um batom nos lábios (bom, e talvez um espartilho e um par de stilettos, o que não é pouco).

A primeira paragem é em Gettysburg, Pensilvânia. População: continuamente crescente desde 1830, para um máximo arredondado de 7700 pessoas nos dias que correm. Pontos de interesse: celebrações diversas da Guerra Civil Americana; local eleito pelo Presidente Eisenhower para gozar a reforma. Não é difícil de imaginar. E no entanto é um calvário para jovens gays como Hunter, que apesar de se ter assumido perante a família e o resto da cidade, se sente deslocado e anseia por uma ligação mais próxima com o pai, um motard de cabelo à escovinha e ar de poucos amigos. Shangela vai tentar quebrar o gelo entre os dois, enquanto Bob e Eureka têm as suas próprias “filhas” drag em mãos: Darryl, um venerando membro da comunidade negra local, que defende que, tal como ele espera que os vizinhos caucasianos se ponham no lugar do outro e reneguem o racismo, também ele deve fazer esse esforço para calçar os sapatos das pessoas LGBT+; e Erica, que perdeu contacto com a filha bissexual por fanatismo religioso e entretanto se arrependeu da forma como a tratou. Os três vão subir ao palco, em drag, para o espectáculo de uma só noite que Bob, Shangela e Eureka apresentam na cidade, no final do episódio.

Empoderamento, coexistência, redenção. É isto que We’re Here tem para oferecer – além, claro, de muita cor, muita performance e muito drama, ou não fosse isto um reality show (embora realizado com apurado sentido narrativo).

Provocação também não falta. Que o digam os locais, cujos olhares passam rapidamente do espanto inicial ao desprezo e à ira, num esforço nulo para disfarçar o preconceito. Reacções que, por outro lado, tornam tão surpreendente como cativante a participação, ao segundo episódio (em Twin Falls, Idaho; população: 50.000!), de Clifton, um músico heteronormativoque não se importa de pôr em causa a sua masculinidade para participar no espectáculo diante dos seus amigos mascadores de tabaco. Ou confirmar que o preconceito não tem idade, quando somos apresentados ao avô de outro dos participantes, que só quer ver o neto feliz.

HBO. Sex (estreia T1).

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