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“Bagels are back, baby!” A tirada de Kramer, a mais excêntrica personagem de Seinfeld, ao regressar ao antigo emprego depois de 12 anos em greve (temporada 9, episódio 10, 1997), pode não lhe dizer nada, mas os verdadeiros fãs da série de comédia continuam a repeti-la mais de duas décadas depois. Os bagels já eram então – e continuam a ser – um ícone do pequeno-almoço nova-iorquino e um sucesso de grab and go a qualquer hora do dia na cidade que nunca dorme.
Em Lisboa, poucas casas se dedicam à especialidade, mas nas padarias DoBeco, tanto na Estefânia como em Santos, os bagels saem que nem pãezinhos quentes (entre muitos outros pães). Foi por isso que os irmãos Lourenço e António Mello, juntamente com o sócio Diego Haupenthal, que já andavam com vontade de começar a diversificar o negócio, decidiram dedicar-lhes uma loja própria.

Na Avenida Álvares Cabral, que liga o Rato ao Jardim da Estrela, os bagels caseiros de fermentação lenta são cozidos ali mesmo e servidos abertos nas versões simples ou com sementes de sésamo e flor de sal. Também de produção própria é o queijo creme que os barra – normal, com cebolinho ou vegan – bem como outros recheios à vista na vitrine de vidro da Beco Bagels, como o pastrami, a tumaca (pasta de tomate) e a pasta de pistáchio. Até o salmão é fumado em casa.
“O objectivo é produzirmos tudo para controlarmos a qualidade. No futuro, a ideia é poder vender estes produtos com a marca DoBeco”, diz Lourenço, que veste a camisola. Literalmente. O merchandising, popular nas outras moradas, também está exposto e à venda na nova loja, em forma de t-shirts e bonés. “O DoBeco é um pouco um lifestyle. Está na moda e as pessoas mais artísticas, que gostam de estar in, usam, porque gostam do design”, afirma com uma t-shirt preta com o logo vestida.

A carta divide-se entre bagels clássicos, especiais e doces – e é possível pedir uma metade de cada. O primeiro capítulo vai do bagel com manteiga (4€) ao simples mas vencedor tomate coração de boi (7€). Fazem-lhes companhia o popular salmão fumado, com alcaparras, cebola roxa e funcho, ou o que junta abacate e ovas de truta (ambos 10€).
Nos especiais, destaque para o de tumaca e presunto de porco preto (12€), que convive entre os de kimchi (8€), pastrami, queijo raclette braseado e pickles de pepino (14€), rosbife e rebentos de soja (14€) ou atum fumado e pimentos assados (14€). Já nos doces, vai encontrar o mais convencional bagel com manteiga de amendoim e doce de framboesa (7€), mas também os frescos e surpreendentes manga, leite condensado e coco (7€), papaia e lima (7€) ou pistáchio (8€).

As bebidas para acompanhar não foram tratadas com menos cuidado: além de sumos naturais, vinhos e cerveja artesanal, há quatro sodas caseiras (de café, de maçã e flor de sabugueiro, tropical e cremosa de frutos vermelhos, entre 4€ e 5,50€), um matcha bar com várias bebidas verdes, frias e quentes, (4,50€-6€) e uma longa lista de café de especialidade e derivados, do básico expresso (1,50€) aos elaborados e instagramáveis lattes – de caramelo, pistachio ou coco e flor de sal (4,50€-5€). Estes últimos estão mesmo a pedir os cinnamon rolls ou as cookies que já faziam sucesso nas Padarias DoBeco: a de crumble de maçã, a de queijo creme e frutos e a de chocolate e avelã são só alguns exemplos (2,75€-3,50€).
Falta falar do espaço, que aqui os olhos também comem e o ambiente ajuda na digestão. A sala, que já foi no passado uma florista e uma chocolataria, recebe a luz natural da rua através de enormes vitrines com arcos em madeira. Não é grande, com espaço para pouco mais de dez mesas redondas (para duas a três pessoas), mas está aproveitada com pinta e inteligência: o que numa parede é um banco de mosaicos onde as pessoas se sentam, na parede do lado é um degrau para mais mesas ao nível da rua. Os tons variam entre os bejes e os castanhos – na decoração e na loiça personalizada– e há sempre flores nas jarras.

“As pessoas vêm pelo menu, mas o espaço tem de ser acolhedor, cool, com uma grande vibe”, diz Lourenço, para quem faz mais sentido “atacar sítios com pinta e potencial” do que ir para as zonas mais movimentadas e turísticas. “Somos uma marca portuguesa para portugueses, em bairros portugueses. Recebemos muitos estrangeiros de visita, claro, mas enquanto marca o que queremos é criar uma comunidade.”
A comunidade DoBeco parece que vai continuar a crescer. Nos planos estão mais clientes (só restaurantes já são mais de 150 a receber o pão da marca que nasceu em 2020), mais padarias, mais lojas de especialidade, mais receitas e até uma fábrica maior. “A nossa começa a ficar muito apertada”, confessa o responsável entre duas fornadas de bagels. A enchente do almoço começa a acalmar, mas há que preparar a leva dos lanches.
Avenida Álvares Cabral, 62D (Estrela). Dom-Qui 08.30-18.00, Sex-Sáb 09.00-18.00
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