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45 anos do 25 de abril
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Abril em Lisboa traz Margaret Atwood e abre edifício do Diário de Notícias

A programação de Abril em Lisboa, que este ano arranca a 23 de Março e se prolonga até Maio, inclui desde conversas e exposições até teatro, música, cinema e arte urbana.

Raquel Dias da Silva
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Raquel Dias da Silva
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Este ano, o programa Abril em Lisboa, da EGEAC, arranca mais cedo, com um concerto simbólico de Sérgio Godinho, a 23 de Março, véspera da data em que a democracia supera em um dia a duração da ditadura em Portugal. A restante programação, apresentada no Teatro São Luiz esta terça-feira, prolonga-se até Maio, espalha-se por toda a cidade e inclui desde conversas, conferências e exposições até teatro, música, cinema e arte urbana. Entre as várias iniciativas previstas, destaca-se, por exemplo, a abertura do edifício do Diário de Notícias, para acolher a exposição “Proibido Por Inconveniente”, a partir do Arquivo Ephemera; e um encontro entre Margaret Atwood, autora da obra-prima distópica A História de Uma Serva, e Alberto Manguel, escritor e ensaísta argentino que doou o espólio da sua biblioteca para a criação do futuro Centro de Estudos de História da Leitura.

“Esta programação é diferente porque começa em Março, mas também porque é mais abrangente”, afirmou Joana Gomes Cardoso, presidente da EGEAC, antes de dar a palavra ao vereador da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, Diogo Moura, que destacou desde logo o projecto 48, para o qual 48 mulheres escritoras, poetas e cantautoras escreveram versos e pensamentos, que poderemos ler no chão da cidade entre 2 e 25 de Abril. Adília Lopes, Alice Neto de Sousa, Capicua, Djaimilia Pereira de Almeida, Dulce Maria Cardoso, Gisela Casimiro, Inês Pedrosa, Lídia Jorge, Luísa Costa Gomes, Luísa Sobral, Maria Teresa Horta, Rita Taborda Duarte e Telma Tvon são algumas das convidadas. “Estou particularmente ansioso para fazer esse percurso e ler essas palavras”, admitiu Diogo Moura.

O vereador da Cultura ressaltou ainda a colocação de cinco lápides evocativas da Revolução dos Cravos em vários locais da cidade, bem como intervenções de arte urbana no CCB e em pilares da ponte 25 de Abril; um colóquio internacional sobre democracia e ditadura na Biblioteca de Alcântara; e o protocolo assinado entre a CML e a Ephemera, biblioteca e arquivo do historiador José Pacheco Pereira, que prevê a realização de três exposições, a primeira das quais inaugura este ano, a 7 de Abril, no edifício do Diário de Notícias, onde estará patente até dia 27. Com entrada gratuita, “Proibido Por Inconveniente” mostrará exemplos das várias censuras do Estado Novo.

Já o presidente da CML, Carlos Moedas, aproveitou para ler uma crónica do seu pai, o jornalista José Moedas, conhecido comunista no Alentejo, onde co-fundou o Diário do Alentejo. “O 25 de Abril para mim, como jovem alentejano que nasceu em 1970, é realmente tudo”, partilhou o autarca. “Por estes dias, em especial no 25 Abril, lembro-me dele e ando sempre com um livrinho que ele escreveu. Num [texto] sobre Abril, ele dizia: Festejar Abril é renovar a esperança que nunca se perdeu nem se perderá. (...) Festejar Abril é lembrar as grandes pequenas lutas dos homens que nasceram com uma bandeira de coragem e de justiça ao lado do coração, homens que tudo fizeram para que um dia a liberdade e a democracia se implantassem nesta terra”, citou Moedas, antes de reforçar, nas suas próprias palavras, a responsabilidade acrescida de não darmos a liberdade por garantida. “Este momento que estamos a viver, ao contrário do que possamos pensar, exige continuar a história de maneira a que não possamos esquecer.”

A liberdade passa por aqui

Do programa consta ainda o Festival Política, que regressa ao Cinema São Jorge entre os dias 21 e 24 de Abril, das 11.00 às 18.00. Com a desinformação como tema central e a guerra na Ucrânia como pano de fundo, propõe quatro dias de conversas, filmes, música, debates, performances, espectáculos gratuitos à volta das “fake news” enquanto ameaça à democracia e factor de polarização, que mina a confiança dos cidadãos nos meios de comunicação social e no jornalismo. Pela mesma altura, de 23 a 24 de Abril, entre as 16.00 e as 20.00, o quarto andar da antiga prisão do Aljube estará transformado num “espaço de convívio e liberdade”, com bar de cocktails, uma pista de dança com música de intervenção e três murais – escrita, desenho e colagem – onde o público é convidado a deixar o seu contributo. Antes, estão ainda previstos vários eventos no Museu do Aljube, como o ciclo de conversas “As Artes da Revolução” (14, 16, 19 e 21 de Abril); e “Não se Deixem Enganar!”, um conto panfletário de Sérgio Pelágio para o público infanto-juvenil (17 de Abril).

Já no Teatro São Luiz, o programa Mais Um Dia, comissariado por Tiago Bartolomeu Costa, inclui a exposição “48 Memórias”, sobre as muitas histórias de um teatro que viveu paredes meias com a sede da polícia política, para ver entre 18 e 30 de Abril; uma conversa entre a Margaret Atwood e Alberto Manguel à volta de lutas e causas que, em muitos casos, acompanham os valores de Abril (23 de Abril); e o espectáculo Memórias de Uma Falsificadora, que adapta ao teatro o livro homónimo de Margarida Tengarrinha, para contar em palco como a autora usou a sua habilidade de artista plástica ao serviço da falsificação de documentos a favor do trabalho da resistência à ditadura de Salazar (23 a 30 de Abril); entre outros eventos.

As propostas evocativas de Abril passam também pelo Museu da Marioneta, com um workshop em honra de um tempo “em que os fantoches podiam dizer mais do que as pessoas” (24 de Abril); o Museu de Lisboa, com um percurso histórico (25 de Abril 15.00); e em várias bibliotecas de Lisboa, como a de Alcântara, que propõe, por exemplo, uma “noite de palavras ditas, acompanhadas por música ao vivo” (23 de Abril); e a de Belém, que vai promover a plantação de um canteiro de cravos no seu jardim (23 de Abril). A programação completa já está disponível para consulta online.

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