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Pastelaria Pomarense
Sara ChoupinaPastelaria Pomarense

Aos 92 anos, Pomarense vai fechar. É uma das últimas três pastelarias da Avenida

Expectativa de “aumento brutal da renda” motiva a saída. Empresa internacional fora da área da restauração vai ocupar o espaço.

Rute Barbedo
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Rute Barbedo
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A Avenida da Liberdade já teve muitas pastelarias, cafés tradicionais, lojas de bairro, da área da electrónica às plantas medicinais. Quanto às primeiras, hoje contam-se três: lá em cima, junto ao Marquês de Pombal, a confeitaria que lhe adopta o nome, aberta desde 1996; mais ou menos a meio, entre um hotel de cinco estrelas e uma loja de isqueiros e canetas de luxo francesas, outro clássico lisboeta, a Pomarense, fundada em 1932 por uma família de Pomares (Arganil); e um pouco mais abaixo, a Leitaria Baiana, de 1936. São as últimas testemunhas de uma outra Lisboa, "mais de bairro, de proximidade", como lhe chama Alcino Resende, actual gerente da Pomarense, perante o longo processo de transformação de uma das principais artérias da cidade, sobretudo na direcção dos segmentos da moda, da hotelaria e do luxo.

No final deste mês de Abril, a Pomarense fecha portas, ao fim de 92 anos de actividade, conforme avançou a Mensagem de Lisboa e confirmou a Time Out, reduzindo para dois o número de pastelarias tradicionais da Avenida. Alcino Resende, que está há 22 anos à frente do negócio (e a mulher na cozinha), explica que o desfecho "é muito simples": na sequência da alteração do Novo Regime de Arrendamento Urbano, em 2012 (a chamada "Lei Cristas"), a Pomarense ficou a saber que "mais tarde ou mais cedo, a renda ia aumentar". "Ficámos com um período de carência, mas em 2028 estava previsto um aumento brutal de renda, que um negócio como este não consegue suportar", relata o gerente. A nova renda, segundo o inquilino, seria entre os 7000 e os 8000 euros, quando na Pomarense, um estabelecimento de balcão pequeno, meia dúzia de mesas no interior e uma esplanada de seis lugares, um café custa 85 cêntimos e um prego no pão 3,30 euros. 

Pastelaria Pomarense
Sara ChoupinaPastelaria Pomarense

Acresce o facto de, nos últimos anos, o espaço ter sido várias vezes sondado por potenciais interessados em ali abrir um negócio. Nunca houve, no entanto, "uma proposta certa", até ao ano passado, em que uma "empresa internacional" que opera noutro ramo de actividade que não a restauração se mostrou "realmente interessada". "Assim conseguimos pagar às pessoas e ir embora", declara Alcino Resende à Time Out, numa altura em que o ecossistema económico "não está muito bom" entre os portugueses, com impacto directo no negócio. "Desde o ano passado que notamos perfeitamente uma quebra. Com o aumento das taxas de juro no crédito [à habitação], as pessoas cortaram nas despesas diárias. E nós conhecemos muito bem os nossos clientes, ainda somos um daqueles cafés onde as pessoas vêm, falam das suas vidas. Há essa proximidade." 

Precavendo-se de um futuro complexo, a Pomarense prevê servir os seus últimos cafés no dia 30 de Abril.

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