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Arroz Estúdios despede-se do Beato: "Não vamos parar até nos pedirem para sair"

Após quatro anos no complexo industrial a que chama casa, o Arroz Estúdios terá de abandonar o espaço. A petição agora lançada pretende salvar esta e outras associações culturais da cidade.

Escrito por
Beatriz Magalhães
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O Arroz Estúdios nasceu em Cacilhas, estávamos em Setembro de 2018. Pouco mais de um ano depois, em Dezembro de 2019, mudou-se para Lisboa, mais especificamente, para o Beato. Agora, passados quatro anos a criar raízes, está prestes a perder a casa.   

“Sempre soubemos que o espaço estava para venda”, conta à Time Out Cátia Ciríaco, gestora de estúdios e residências artísticas, que são uma parte da actividade da associação. A especulação imobiliária recente só veio acelerar o desfecho que, mais tarde ou mais cedo, viria a acontecer. O espaço está em processo de venda e, embora a responsável prefira não revelar a entidade com quem os proprietários fecharam negócio, sabemos que se trata de uma multinacional.   

De forma a servir de alerta para a situação e pedir ajuda na cedência de um espaço no qual a associação cultural possa continuar a desenvolver as suas actividades, foi criada uma petição que, segundo a gestora dos estúdios, também pretende criar pressão junto do Governo em relação ao desalojamento de outras associações culturais, tais como o Largo Residências, a Casa Independente, a Sirigaita e os Anjos 70 – todas elas estruturas que se vêem a braços com a perda do espaço onde funcionam. Além da venda dos imóveis, o aumento de renda ou o término do contrato de cedência de espaço público são algumas das razões por detrás destes acontecimentos, acrescenta Cátia Ciríaco.

A petição também pretende consciencializar o Governo da “necessidade urgente” do mapeamento de potenciais espaços sem ocupação, que poderiam dar lugar a estas e outras associações. Segundo o Programa Eleitoral de 2022, o governo do Partido Socialista prometia “promover uma maior interligação entre territórios e artistas, através de um mapeamento conjunto com os municípios de edifícios, terrenos, oficinas, fábricas, ateliers e outros espaços sem ocupação, identificando projectos artísticos, artistas e criadores interessados em instalar-se e criar nesses locais”, cita Ciríaco.     

“Estas associações culturais importam e têm um impacto importantíssimo na cidade”, sendo “fundamentais na dinamização e desenvolvimento local de uma região”, acredita a gestora do projecto. Tal como outras associações da mesma tipologia, o Arroz Estúdios pretende ser casa de uma comunidade artística, bem como tornar-se um eixo cultural na cidade. O espaço promove uma agenda cultural com programação variada, como cinema ao ar livre, exposições, workshops e concertos, e ainda alberga dez estúdios de trabalho para artistas de diferentes disciplinas artísticas. As residências artísticas são especialmente relevantes para os artistas que, na sua maioria, encontram ali um primeiro espaço para expor o seu trabalho, realça Cátia. 

Após quatro anos no complexo industrial, a procura por um novo espaço já começou, sendo que a associação está, neste momento, em conversações com várias câmaras municipais, em particular, a Câmara Municipal de Lisboa. Cátia acredita que não será fácil já que, à luz da actual crise da habitação, o espaço disponível na cidade torna-se ainda mais limitado. O objectivo do Arroz Estúdios é encontrar um lugar onde consiga acolher todos os projectos que tem em mãos, de que é exemplo a primeira horta vertical da startup Raiz. Assim, a descentralização da associação cultural é tomada como uma possibilidade.    

Há, então, urgência em encontrar uma alternativa, tendo em conta que dentro de três a seis meses, dependendo do tempo que demore a formalização da venda do terreno, o Arroz Estúdios terá de sair do espaço onde, actualmente, se encontra. Até lá, há programação agendada para o mês de Outubro. Assim vão continuar, mês após mês, até que a retirada lhes seja ordenada – "não vamos parar até nos pedirem para sair", remata.

Arroz Estúdios (Beato). 

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