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Lisboa é linda, as marchas também, mas nem sempre tudo é pacífico no que a estas diz respeito. Todos os anos, podem participar até 20 marchas populares, às quais se somam mais duas extra-concurso: a Marcha Infantil organizada pela Voz do Operário e a Marcha dos Mercados, pela Entidade Organizadora dos Comerciantes nos Mercados de Lisboa. Mas os três últimos classificados não têm acesso automático à edição seguinte, tendo de se submeter a um sorteio ao qual se juntam as restantes marchas que não participaram na edição desse ano. Ora, em 2019, a última edição antes da interrupção devido à pandemia, a Marcha da Graça, organizada pelo Clube Desportivo da Graça, ficou em 18.º lugar, mas contestou a atribuição de pontos, por acreditar que foram cometidas várias irregularidades.
O regulamento define uma série de regras relativas a diversos elementos – figurinos, composição e letra, coreografia, cenografia, qualidade de desempenho, originalidade da música, entre outros. O resultado da pontuação em cada categoria dita a classificação final de cada marcha, mas são recorrentes as reclamações das entidades organizadoras. “Em 2019, na primeira classificação que a EGEAC dá de madrugada, a Marcha da Graça fica em 17.º lugar. No dia seguinte, houve uma série de erros por parte da EGEAC e do júri na atribuição de prémios e penalizações e lançam outra classificação, uma coisa absurda. E a Marcha da Mouraria na segunda vez também ficou excluída, em 18.º. A Mouraria reclamou, e bem, e voltam a alterar a classificação, veja a incompetência daqueles senhores. E, à terceira vez, fica a Marcha da Graça em 18.º, recorda o presidente do Clube Desportivo da Graça, Rui Vicente, à Time Out.
Rui Vicente defende que a Marcha da Ajuda teria de ter sido alvo de penalização, já que, diz, “no desfile da Avenida usou uma marcha antiga”, o que está proibido pelo regulamento que define que cada marcha terá de interpretar a Grande Marcha de Lisboa (este ano com o tema “Amália é Lisboa”) e uma marcha original. “Temos uma janela de duas semanas para reclamar e foi o que fizemos, ainda em Junho, e só obtivemos a resposta da EGEAC em Agosto. A dizer que não existia VAR na Avenida da Liberdade e que a classificação estava fechada e não iam alterar. A EGEAC fechou a porta e por causa da incompetência deles a marcha vai a sorteio para o ano, mas pode não sair o papelinho”, lamenta.
Entretanto, o clube fez uma petição que entregou na Assembleia Municipal de Lisboa, mas que não produziu qualquer efeito, assim como uma providência cautelar contra a EGEAC, que acabou por ser negada pelo tribunal esta terça-feira. Mesmo com a mudança de executivo no ano passado, nada se alterou, nomeadamente a falta de respostas às reclamações do clube. Uma nova esperança tinha-se acendido em Dezembro passado, quando a organização da marcha foi convocada pela EGEAC para a apresentação do concurso para 2022, no Cinema São Jorge. “Ao sermos convocados pensamos que a Câmara nova ia meter as marchas todas, mas não foi o que aconteceu.”
Mesmo assim, a marcha está “pronta para sair”, com todos os custos suportados pelo clube, num total que ronda os 25 mil euros. São 50 os marchantes que todos os dias continuam a ensaiar na Escola Secundária Gil Vicente e muitos vêm de longe, de Almada ou da Amadora, antigos moradores que tiveram de ir viver para outros concelhos, mas que não deixam o bairro onde um dia viveram.
Mas nem tudo estará perdido: além de já terem convites para se apresentarem noutros concelhos fora de Lisboa, no dia 19 de Junho, a Marcha da Graça vai desfilar pelo bairro em direcção ao Pavilhão Municipal Manuel Castelbranco, onde irá actuar com as outras duas marchas da Freguesia de São Vicente: a Marcha de São Vicente e a Marcha Infantil da Voz do Operário. A entrada será livre.
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