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BarNeário
Francisco Romão PereiraBarNeário

Balneário do Campo Grande, fechado há 40 anos, é agora um gastrobar de conservas

Entre petiscos feitos com conservas portuguesas, cervejas artesanais e vinhos variados, arrastam-se as tardes de convívio no jardim do Campo Grande.

Teresa David
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Teresa David
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É impossível fugir ao romantismo do jardim Mário Soares, ou jardim do Campo Grande, como é mais conhecido. Os bancos plantados no solo verdejante chamam casais de namorados, que ali pousam durante horas; há caminhos que atravessam lagos, onde moram patos e barcos; as árvores pedem passeios de reflexão. E desde Outubro há mais um elemento bonito, elegante, mas descontraído, no cenário. Um gastrobar dedicado às conservas chamado BarNeário, caiado a tinta branca, com uma esplanada aquecida, aprazível, com espaço para cerca de 75 pessoas; e um interior cheio de luz, capaz de servir 25 comensais. 

BarNeário
Francisco Romão PereiraBarNeário

O edifício, que estava abandonado há 40 anos, era um antigo balneário. Para o transformar foi preciso lata. Várias latas. As de sardinha, as de atum, as de cavala, e também a lata de uma família algarvia. Os filhos — Francisco, Filipe e Mariana Cabrita — é que propuseram a ocupação da Casa Raul Lino, como se chama, aos pais. Os pais — Luís Filipe e Cristina Cabrita — fizeram dela um restaurante dedicado às conservas. “Os meus filhos estudavam aqui na zona”, começa por explicar Cristina. “Eles descobriram o espaço e pensaram nisto como um projecto para eles, mas demorou tanto tempo [a concretizar-se] que acabaram as licenciaturas, os mestrados, e foram andando nas carreiras profissionais”, conta Luís Filipe. Com isto, Luís e Cristina, desconhecidos do mundo da restauração, arregaçaram as mangas e tomaram as rédeas. 

BarNeário
Francisco Romão PereiraBarNeário

Primeiro foi preciso reabilitar o interior. “Já não tem nada a ver com o que era porque estava dividido entre zona feminina e zona masculina, com casas de banho e duches. Mas tentámos manter o espírito do edifício, inclusive os azulejos que estão nas paredes”, que tiveram de ser restaurados, revela o responsável. “O chão já não foi possível manter, estava muito degradado, mas tentámos escolher um chão da época, e tentamos manter o espírito através da pedra e das madeiras. Os candeeiros também são antigos, fomos descobri-los no Porto. As mesas também foram desenhadas, as cadeiras são típicas portuguesas”, descreve. “Mas depois enchemos tudo de várias coisas, por isso é eclético”, completa Cristina. É o caso de um armário, que veio de casa do casal no Algarve, e que (além de vinhos e conservas) guarda algumas relíquias de família, como a primeira máquina fotográfica da mãe de Luís, ou o jogo da Glória do seu avô. “Queremos que as pessoas se sintam um pouco como nós nos sentimos em casa”, diz Luís. Isso também se reflecte nos comes e bebes. “A carta fomos nós pelas coisas que fazíamos em casa e fomos aprimorando."

BarNeário
Francisco Romão PereiraBarNeário/ pão temperado com azeite

“Somos algarvios e fomos buscar muitas das coisas que há no Algarve”, afirma o responsável. No campo da doçaria, para terminar a refeição ou petiscar ao longo do dia, não faltam Dom Rodrigo (2,50€/unidade) ou queijo de figo (flambado com medronho, 4,50€), por exemplo, tipicamente algarvios. Também há o doce BarNeário, feito com laranja. Mas voltemos ao início, até porque as rainhas da casa são as conservas. “A família da minha mãe estava ligada às conservas de peixe. Sempre se utilizou como base de pratos em casa”, esclarece Luís. “A ideia surgiu a partir daí e é um produto que nós achamos que é muito bom”, acrescenta. Estas conservas — todas nacionais, de marcas como Pinhais, Ramirez, entre muitas outras — aparecem servidas em forma de entradas ou tibornas. É o caso da marinada de carapau picante (7€), da rodeta de atum com tomate (7,50€), ou a tiborna de cavala (9,50€), acompanhada de um saboroso pão de centeio vindo do Museu do Pão, em Seia. Para quem torce o nariz às conservas, há saladas, tostas e ardósias de queijos e enchidos. Tudo para depenicar, como gosta a família de lhe chamar, ou fazer destes petiscos refeição completa. 

BarNeário
Francisco Romão PereiraBarNeário/ rodeta de atum

Como nem só de conservas se faz um gastrobar, há cervejas artesanais e vinhos vários para acompanhar o pitéu. A origem destas cervejas vem reforçar (ainda mais) o estatuto de negócio de família. “São de um primo de um primo nosso”, comenta Luís. A marca do barrocal algarvio é a Marafada (4€) e dispõe de vários sabores, entre os quais laranja de Silves e batata-doce. 

BarNeário
Francisco Romão PereiraBarNeário/ queijo de figo

Segundo os donos, tudo tem estado a correr “muito bem”, mas ainda existe algum preconceito em relação às conservas. “Tivemos essa noção, mas não com toda a gente. São poucas as pessoas que pensam assim, felizmente”, sublinha Cristina. 

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Francisco Romão PereiraBarNeário

Por causa do quadro harmonioso que lhe dá ambiente, o BarNeário terá novidades para o Verão. Preparam-se cestas de piquenique, com tudo a que tem direito, para levar para o relvado. “Na chuva é mais complicado, não apetece estar no jardim”, diz Cristina. Também se esperam conservas para venda directa, e também a venda de picantes preparados por um amigo do casal. 

Casa Raul Lino, Jardim do Campo Grande (Campo Grande). Ter-Sex 11.30-23.00. Sáb-Dom 9.30-23.00.

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