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Arlindo CamachoAlex Atala

Bem-vindos à utopia: o festival que cruza estrelas Michelin com chefs da nova geração

Festivais há muitos, embora de gastronomia nem tanto. E não é por falta de apetite. Aguardamos ansiosamente a chegada do próximo fim-de-semana para nos podermos perder no Foodtopia.

Cláudia Lima Carvalho
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Cláudia Lima Carvalho
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Sandes de pernil com formigas da Amazónia; katsu sando de sardinha com ketchup de pimento assado; sardinha em óleo de limão com caviar de beringela fumada; stracciatella com verduras da época e chilli crisp. Eis do que será feita a primeira edição do Foodtopia, o festival internacional de comida na rua que acontece a 2 e 3 de Julho no Jardim Botânico Tropical da Universidade de Lisboa, em Belém. São quatro exemplos apenas de entre as dezenas de pratos que vão ser servidos por mais de 50 chefs, alguns bem conhecidos como Alex Atala, do brasileiro D.O.M, restaurante com duas estrelas Michelin em São Paulo – já percebeu de onde vêm as formigas? –, Henrique Sá Pessoa (duas estrelas no Alma, em Lisboa) ou Hans Neuner (duas estrelas no Ocean, em Porches).

“Quando falamos em street food as pessoas pensam imediatamente em bifanas, cachorros, pregos. Não é nada disso. Quando falamos de street food falamos da cozinha na rua e não de cozinha de rua”, diz Ana Músico, que com Paulo Barata fundou a agência Amuse Bouche, responsável pelo Foodtopia e que já nos deu eventos gastronómicos com o Sangue na Guelra ou o Arrebita. A diferença que Ana aponta na explicação parece subtil, mas é tudo. “É o Henrique Sá Pessoa fazer um dos seus pratos do Alma, mas reenquadrado num contexto diferente. Sim, é um bocadinho da cozinha do Henrique para que todas as pessoas que nos visitam possam também ter um cheirinho do que é e possam realmente ver o potencial dos nossos produtos aplicados das formas mais surpreendentes”, aponta. No caso, para o festival, o chef preparou um bacalhau à Gomes de Sá. “O próprio Alex Atala traz um prato que, de alguma forma, é um prato que tem no D.O.M, mas que aqui quis adaptar com produtos portugueses, então vai usar o porco preto, com uma formiga da Amazónia”, acrescenta a responsável, para quem o Foodtopia tem a missão de servir pratos de assinatura de forma acessível a todos. “Apesar de cobrarmos uma entrada de dez euros, é um festival que vai trazer para o mesmo palco cozinhas muito diferentes, cozinheiros com duas estrelas Michelin e sangue novo, restauração independente e tradicional.” Os pratos, esses, têm um preço único: seis euros.

Paulo Barata explica que o desafio lançado a todos os que vão cozinhar foi apenas um: “Criarem um prato fácil de servir, um prato delicioso para comer com as mãos ou com uma colher”. O objectivo é que este seja mais um dia de convívio do que um dia de trabalho pesado, como acontece na rotina dos seus restaurantes.

Nos dois dias, são poucos os nomes que se repetem. Alex Atala é o cabeça de cartaz incontornável e por isso estará sábado e domingo no Jardim Botânico Tropical, mas os restantes dividem-se pelo fim-de-semana. Com Atala no arranque do Foodtopia estará, por exemplo, Rui Paula (duas estrelas Michelin na Casa de Chá da Boa Nova, em Leça da Palmeira), Alexandre Silva (uma estrela no LOCO), Manuel Maldonado (chef executivo do estrelado 100 Maneiras) ou Pedro Almeida (uma estrela no Midori), mas também uma nova geração de chefs como João Magalhães Correia do novo Tricky’s, que tem dado que falar na Rua da Boavista – e é dele o prato de stracciatella mencionado acima –, Alana Mostachio (VDB Bistromanie), Leonor Godinho (Dr. Bernard Boavida), Natalie Castro (Isco) ou Nikita Polido (Celmar). Já no último dia, o chef brasileiro divide o protagonismo com pesos pesados (e estrelados) como Sá Pessoa, Hans Neuner – “Que nunca aparece nestas coisas e está super contente, vai fazer um prato de Tirol”, revela Paulo –, Gil Fernandes (Fortaleza do Guincho), Louis Anjos (Al Sud), Rui Silvestre (Vistas), Tiago Bonito (Largo do Paço), Vincent Farges (Epur) e David Jesus e Américo dos Santos, chef-executivo e chef de pastelaria, respectivamente, do Belcanto de José Avillez. Destaque ainda para Marlene Vieira, que abriu há pouco tempo o seu restaurante de alta-cozinha (Marlene,) e que no Foodtopia vai fazer a katsu sando já referida, mas também para João Sá (Sála), António Galapito (Prado) ou Michele Marques (Gadanha Mercearia).

“Vamos trazer gastronomia de muitos lugares, de muitas origens, mas na verdade vamos falar todos uma só língua. O Foodtopia é isso, o prazer da mesa, o prazer de partilharmos histórias”, diz Ana. “Conheço poucos festivais que tenham um cartaz destes para dois dias”, acrescenta Paulo, destacando ainda a participação de “três grandes instituições a nível nacional”. São elas a Cervejaria Ramiro, o Solar dos Presuntos, através do chef Hugo Araújo, e o Mugasa, com o chef Ricardo Nogueira. “O Ramiro, por exemplo, não vai inventar nada, vai fazer as ‘gambas a la aguillo’. Diminui um bocado a porção, mas vamos comer as gambas do Ramiro. Eles não vão fugir aos seus menus”, garante. O Solar dos Presuntos terá uma açorda de lavagante, e o restaurante de Anadia estará presente, claro está, com o seu afamado leitão.

Foodtopia
DR

Não é tudo. “Vamos ter cinco representantes de Moçambique, Guiné, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Angola. Quisemos juntar estas comunidades tão nossas. Vamos ter desde o chef Helt Araújo a vir de Angola até uma senhora cozinheira [Dulce Silva], em que nós é que vamos ter de a ir buscar a casa, vamos ter de arranjar os tachos”, conta Paulo.

Estando esta primeira edição integrada na programação da Temporada Cruzada Portugal-França 2022, França surge como país convidado, com “um misto de chefs vindos de França com chefs franceses a viver e a trabalhar em Portugal”. “Ou até chefs portugueses que nasceram ou viveram em França. É o caso da Natalie que vai fazer uma sobremesa, um creme fraîche com uma pêra bêbeda, e também do André Lança Cordeiro, do Essencial, que fez toda a formação em França.”

No final, Paulo Barata deixa apenas um pedido em jeito de alerta: “É a primeira vez que acontece um evento de gastronomia desta grandeza neste jardim”. “Este nome nasce por causa do espaço, e se um dia o Foodtopia mudar de sítio tem de ser para um cenário verde. É realmente um espaço encantador. Tens árvores únicas no mundo, espécies exóticas. Vamos ter zonas onde as pessoas podem estar na relva, mas vamos ter zonas de acesso condicionado ou árvores circundadas para protecção. Preservem o espaço.”

Jardim Botânico Tropical da Universidade de Lisboa (Belém). Sáb 12.00-22.30, Dom 12.00-22.00. 10€ (crianças até aos 12 não pagam)

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