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Café de São Bento. Em equipa que ganha não se mexe

Quando o empresário Miguel Garcia tomou as rédeas do restaurante histórico, fez questão de manter as dinâmicas da casa, apesar de haver pequenas mudanças. O bife, esse, continua igual.

Teresa David
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Teresa David
Jornalista
Café de São Bento
Francisco Romão Pereira Café de São Bento
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Há quatro décadas que é certo e sabido: virado de caras para a Assembleia da República, é no Café de São Bento que o poder se senta, habitualmente, à mesa. A proximidade, todavia, está longe de ditar o êxito do estabelecimento. O segredo talvez seja mesmo a consistência, a qualidade e o sigilo. Manuel Lobo, o funcionário que nos recebe, que o diga. Está há 17 anos a servir presidentes, primeiros-ministros e deputados e assume que tem muitas histórias para contar, embora não o faça. O mesmo se pode dizer de Manuel Fernandes, há três décadas a cozinhar um dos bifes mais famosos de Lisboa, e de todos os outros que aqui trabalham há vários anos. 

“Todos têm histórias interessantes, até de pessoas que já não estão vivas. E acho que são histórias que marcam eras, fases do nosso país. Isso é único e também é isso que diferencia o Café de São Bento, não é só o bife óptimo”, diz o empresário Miguel Garcia que, depois de uma longa carreira na hotelaria, decidiu dedicar-se apenas à restauração e tomar as rédeas do restaurante histórico. Também é dono do novo Bougain, em Cascais. “Há cerca de dois anos, conheci um dos sócios e dei-me muito bem. No fundo, tinham a preocupação de que quem ficasse com o Café de São Bento lhe desse continuidade, e que não transformasse isto em qualquer coisa de shopping. O objectivo é consolidar o que existe”, conta o responsável.

Café de São Bento
Francisco Romão PereiraSegunda sala do Café de São Bento

Dito e feito. Em São Bento, fez questão de manter as dinâmicas da casa, quem lá trabalha, e tocar no famoso bife não foi sequer uma opção, mas há pequenas mudanças. “No andar de baixo o que fizemos foi trocar o que estava desgastado com o tempo”, resume Miguel Garcia. Recuperaram-se tecidos e ainda se abriu uma janela, algo inédito no – sempre resguardado – Café de São Bento. As maiores alterações fizeram-se no piso seguinte. “Tinha papel de parede, revestimos isto tudo a mogno e quisemos usar os mesmos materiais lá de baixo. Unificar”, detalha. Tudo obra da arquitecta Inês Moura. Outra novidade é que a escadaria que liga os dois pisos está agora ornamentada com fotografias dos funcionários – uma homenagem. “As pessoas que aqui trabalham há décadas são os pilares deste restaurante. Não é hoje o Quim, amanhã o Manel, e no outro dia o Miguel. Não. São sempre as mesmas pessoas e isso é uma raridade”, menciona. Para o último andar, inutilizado até ao momento, está prevista a construção de uma sala privada, para até 16 pessoas, até ao final do próximo ano. 

Na carta há alguns acrescentos, como o steak tartare (13€), uma entrada de lombo de novilho picado, temperado com servido com tostas; ou as sobremesas pudim Abade de Priscos (8€) e o Melhor Bolo de Chocolate do Mundo (9€). Para celebrar o 40.º aniversário foi ainda lançado um vinho da casa em parceria com a Ravasqueira – um tinto reserva 2020. Tudo o resto se mantém. “Este é um restaurante onde o tempo não passa. Desde 1982 continua a ser um restaurante consistente, que tem movida todos os dias, e que permanece igual. É uma marca que se consolidou, uma marca que já deu provas de que tem a capacidade de expansão”, diz o empresário. 

Os camarões al ajillo (13,50€) continuam a brilhar nas entradas e a tarte tatin (9€) nas sobremesas. O famoso bife à Café de São Bento (28,50€-33€), inspirado no antigo bife à Marrare, é a estrela da companhia. A receita completa permanece no segredo dos deuses, mas sabe-se que o bife do lombo tanto pode ser nacional, como chegar da Alemanha, Bélgica e Irlanda. “O volume já passa de uma tonelada de carne por mês, não conseguimos ter só produtores portugueses”, justifica Miguel Garcia. É um corte largo porque, se for alto, “é muito difícil conseguir a mesma consistência no bife inteiro”. É sempre acompanhado com batatas fritas, cortadas à mão todos os dias. Também é possível pedir acompanhamento extra, como esparregado (4,50€). A sugestão é a de se adicionar sempre o ovo a cavalo (2,50€). Já o molho é feito “à base de natas, sal, pimenta, mostarda e mais dois ingredientes que não posso revelar”, revela o responsável. 

Café de São Bento
Francisco Romão PereiraBife à Café de São Bento

Agora nos comandos, Miguel Garcia garante que “tem tudo corrido muito bem”. “Tivemos um forte crescimento em relação a 2019. E estamos a conquistar cada vez mais novos clientes regulares”, garante, não descurando os antigos. “O meu papel aqui é que os embaixadores e aqueles que vêm cá há décadas permaneçam muito contentes com o que é e o que sempre foi. E isso tem sido alcançado.” 

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