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Capicua: “Fazer música para crianças também é fazer música para os pais”

Há nova ‘Mão Verde’ para ler e ouvir. Falámos com Capicua sobre o livro eco-musical.

Raquel Dias da Silva
Jornalista, Time Out Lisboa
Mão Verde II
Ilustração de MantrasteMão Verde II
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A primeira Mão Verde nasceu em 2015, quando o Teatro São Luiz convidou Capicua e Pedro Geraldes para a criação de um concerto para crianças e famílias. No ano seguinte, o espectáculo deu origem a um livro-disco ecologista. E, passados seis anos, a dupla transformou-se em banda para voltar a cruzar a música e a educação ambiental numa Mão Verde II. “Da primeira vez, as pessoas gostaram tanto e nós também, que ficámos com vontade de fazer um disco. E houve uma altura em que decidimos convidar mais dois músicos, a Francisca Cortesão e o António Serginho, para fazer crescer o concerto. A partir daí, ficámos com o bichinho de compor coisas com eles. Quando fizemos duas canções novas, o “Leão” e “O Pequeno Ditador”, que também apresentámos no São Luiz, o público reagiu super-bem e ainda ficámos com mais vontade de fazer outro disco, agora a quatro, em banda”, conta Ana Matos Fernandes, mais conhecida como Capicua.

Com rimas e lengalengas sobre ecologia, consumo consciente e até “a natureza de ser mãe”, esta Mão Verde II inclui dez canções e dois poemas escritos pela rapper portuense, que cantarolou quase todas as letras musicadas por Pedro Geraldes (que tocou guitarra, baixo e um teclado pequenino que faz sons de robô), António Serginho (responsável pelo ukulele, a bateria, todo o tipo de percussões, teclados e até um pifarinho) e Francisca Cortesão (que não só se atirou à guitarra, baixo e ukulele, como fez coros e cantou duas canções, uma das quais do princípio ao fim). “O processo criativo teve lugar numa casa de campo, no Verão de 2021”, lembra Capicua, que recorda como essa semana intensa de trabalho foi também muito divertida. “Estávamos num contexto super condizente com as canções, íamos fazendo intervalos para dar banhos no tanque, comíamos cá fora e até gravámos uns grilos para a última canção [a “Nocturnos”, uma cantiga de embalar interpretada por Francisca Cortesão, pela qual Capicua tem um carinho especial, a par da primeira, “Framboesas, escavadoras e dinossauros”, que dedica ao filho].

A produção do disco já aconteceu na cidade, já aconteceu no Outono. Foi no M.Ou.Co, um hotel e espaço cultural no Porto, que se reuniram com Nélson Carvalho, para gravar os instrumentos e a cantoria. “Foi super-fixe, porque foi a confirmação de que aquelas canções que fizemos em tão pouco tempo nos representam muito. Foi tudo tão feliz e partilhado, que isso se nota mesmo”, diz entusiasmada, antes de falar do outro lado do projecto, uma edição de autor com distribuição da Planeta Tangerina, que inclui ilustrações de Mantraste, um artista das Caldas da Rainha, e notas informativas de Luís Alves, do Cantinho das Aromáticas. “Tenho muito orgulho no resultado, porque não é assim tão fácil fazer discos e ainda menos discos com livro, com ilustração e com conteúdo didáctico, em torno de temas tão importantes”, lembra. “É um contributo educativo e, de certa forma, de compromisso com o mundo.”

Mão Verde II
Ilustração de MantrasteMão Verde II

Ao contrário do que aconteceu com a primeira Mão Verde, desta vez Capicua também se preocupou em fazer com que as letras das canções “sobrevivessem melhor sem a música, que pudessem viver como poemas”. “Depois, com as notas informativas, ganham obviamente uma outra dimensão, porque as pessoas percebem melhor a importância dos temas abordados e as sugestões práticas, com dicas de como reduzir o consumo de plástico, como nos tornarmos um activista pelo clima e outras coisas que podemos fazer em família, como colher as chamadas ervas daninhas, que afinal até podem ser não só comestíveis como medicinais.”

Mão Verde II não só convida a aprender mais sobre fruta da época, ervas alimentícias não convencionais e a ameaça do plástico nos ecossistemas, como dá a conhecer a diversidade musical aos mais novos. “Desde o primeiro disco que brincamos um bocadinho aos estilos de música. Mas agora, como éramos quatro, foi ainda mais divertido. Fomos desde a música mexicana, inspirados pela Chavela Vargas, ao afrobeat, passando por uma coisa mais na onda de Gorillaz até à marchinha portuguesa.”

Os primeiros concertos ao vivo estão marcados para os próximos dias 2 e 3 de Abril, no auditório do M.Ou.Co (Porto), pelas 18.30. Em palco, vão estar “quatro gomos da mesma laranja”: Capicua, Pedro, António e Francisca, com guitarra, baixo, bateria, teclados, percussão e vozes, num espectáculo que se quer dançável “como se ninguém estivesse a ver”. Os bilhetes estão à venda online, na Ticketline, por 15€. Nessas mesmas datas, também no M.Ou.Co, decorrem as Oficinas Verdes para Famílias (5€): “Conhecer as Ervas Aromáticas” (2 Abr, 16.00-17.00), com Luís Alves; “Herbário Comestível” (3 Abr, 16.00-17.00), com A Recoletora e orientação de Fernanda Botelho; e “Ervas Que Pintam e Bombas de Sementes” (2-3 Abr, 17.00- 18.00), com Dulce Cruz. As inscrições devem ser feitas previamente por e-mail (maoverdemail@gmail.com).

Está prometida diversão para todos, inclusive para os pais, a quem Capicua pisca o olho com o “O Pequeno Ditador”. “É sobre aquela fase em que as crianças ainda não têm sentido de empatia, então estão-se a marimbar para se os pais estão cansados, porque o instinto de sobrevivência lhes diz para fazerem valer as suas vontades”, conta entre risos. “Fazer música para crianças também é fazer música para os pais, que são as principais vítimas e têm de ouvir as mesmas canções em loop.” Para o futuro, estão previstas mais apresentações em diferentes zonas do país. Por agora, Capicua recomenda comprar o livro-disco (ou ouvir as músicas no Spotify) e ver os vídeos animados pelo director artístico e produtor Daniel Assunção, que estão a ser partilhados no canal de Youtube da Mão Verde, no dia 21 de cada mês.

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