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Exposicao Prisma
Diana Tinoco"Prisma" de Vhils está em exibição no maat até Setembro de 2022

Cidade, periferias e ecologia cruzam-se nas novas exposições do maat

“Prisma”, de Vhils, “Interferências” e “Naturezas Visuais” são as três novas exposições da temporada Primavera/Verão de 2022 do museu. Ficam patentes até 5 de Setembro.

Margarida Coutinho
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Margarida Coutinho
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A nova temporada do Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia, já programada pelo crítico de arte e curador João Pinharanda, continua a ganhar forma com a inauguração de três novas exposições. A mais mediática é “Prisma”, uma exposição individual de Alexandre Farto, conhecido como Vhils, em formato de vídeo, que ocupa a Galeria Oval até 5 de Setembro. No edifício do maat encontram-se ainda a exposição colectiva “Interferências Culturas Urbanas Emergentes”, com curadoria de António Brito Guterres, Carla Cardoso e do próprio Vhils, e “Naturezas Visuais A Política e a Cultura do Ambientalismo nos Séculos XX e XXI”, resultado da investigação em ciência climática.

“Estas exposições querem promover um alargamento de públicos”, assume João Pinharanda, o novo director artístico do maat, na visita de imprensa. A programação anunciada abre as portas do museu a instalações artísticas e artistas que, normalmente, não têm lugar nos espaços institucionais. “O maat abre uma linha de trabalho a artistas que devem e têm de estar na narrativa da história de arte.”

Cidade como ponto comum

Alexandre Farto aka Vhils inaugurou a sua primeira exposição em nome próprio no antigo Museu da Electricidade em 2014. Oito anos depois, o artista conhecido um pouco por todo o mundo pelas suas perfurações artísticas regressa ao actual maat, desta vez com uma instalação exclusivamente em vídeo. “Prisma” agrega imagens filmadas em nove locais: Cidade do México, Cincinnati, Hong Kong, Lisboa, Los Angeles, Macau, Paris, Pequim e Xangai. “A primeira foi filmada em Hong Kong em 2014 e a última foi em Cincinnati 20 dias antes da pandemia”, revela Vhils.

Apesar de todas as imagens serem referentes a um mundo pré-pandemia, o artista acredita que se mantêm actuais e permitem uma reflexão sobre a cidade e as suas rotinas. “A ideia é confrontar realidades distantes fisicamente e mostrar não só as diferenças, mas também os pontos de confluência entre elas”, explica o autor. “[A exposição] espelha o avanço desmesurado das forças da globalização, que nem a aparente estagnação dos últimos dois anos conseguiu travar, sendo também uma reflexão sobre a crescente homogeneização das nossas sociedades”. 

“Prisma” está disposta num formato quase labiríntico. Somos convidados a perder-nos entre os diferentes painéis onde estão a ser transmitidos os vídeos. “É tudo filmado a dois mil frames por segundo, ou seja, cada segundo está transformado num minuto e meio, o que nos permite ver a beleza do dia-a-dia que perdemos nas nossas rotinas”, partilha o autor. A experiência imersiva é completada por uma instalação sonora da responsabilidade de soundslikenuno. “Cada ecrã tem um som captado na própria cidade que por vezes nos transporta para dentro dela, por vezes transporta-nos para fora”.

Prisma
José Pando Lucas"Prisma" inclui vídeos do quotidiano de nove metrópoles entre 2014 e 2020

Lisboa feita de periferias

“Quisemos fazer uma exposição sobre culturas urbanas e de que forma é que elas contribuíram para o desenho da cidade de Lisboa e desta nova metrópole”, diz Carla Cardoso, uma das curadoras de “Interferências Culturas Urbanas Emergentes”, em conjunto com Alexandre Farto e António Brito Guterres. A exposição que ocupa parte do edifício do maat junta obras de mais de 30 artistas – entre nomes já firmados, como ±MaisMenos±, Wasted Rita ou Obey SKTR, e emergentes, como Petra Preta ou Fidel Évora. “Começamos aqui uma série de diálogos entre artistas já bastante conhecidos e artistas menos conhecidos que ainda não têm o espaço institucional garantido”, partilha Carla.

Cidade, cultura e liberdade são os motes desta mostra, onde convergem obras de diferentes géneros, como painéis, retratos, esculturas, instalações, filmes e videoclipes. “A exposição fala da construção da cidade desde 1974 até hoje, de uma Lisboa em democracia”, expõe António Brito Guterres, outro dos curadores. A primeira parte é dedicada ao 25 de Abril de 1974 e ao “frenesim da revolução”, seguem-se zonas que lembram as “ausências de certos corpos na cidade” e como isso a modelou até aos dias de hoje. “Há obras conhecidas que já fazem parte da história em diálogo com obras que encomendámos a novos artistas”.

A exposição vai ser completada com workshops, conversas, projecções e performances. Integrada nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, uma das actividades passa por uma reinterpretação do Painel do Mercado do Povo, uma intervenção mural colectiva promovida pelo Movimento Democrático dos Artistas Plásticos que, a 10 de Junho de 1974, convidou vários artistas a celebrar a liberdade através da arte. Agora, a 10 de Junho de 2022, uma das grandes paredes nos jardins do maat vai-se transformar num mural dedicado à democracia com intervenções de 48 artistas, entre os quais já estão confirmados nomes como Ângela Ferreira, ±MaisMenos±, Mariana Gomes, Petra Preta, Vhils e Wasted Rita. Também vão participar 12 dos artistas ainda vivos que colaboraram no Painel do Mercado do Povo, em 1974. Vai ser um momento de festa que vai mostrar um novo lado da cultura na cidade, com transmissão em directo na Antena 3, indica o director artístico do maat.  

Interferências - maat
Herberto Smith"Interferência" junta obras de artistas já conhecidos do público e artistas emergentes

Investigação climática interactiva

O edifício do maat alberga ainda a exposição “Naturezas Visuais A Política e a Cultura do Ambientalismo nos Séculos XX e XXI” que surge como uma continuação da instalação “Earth Bits Sentir o Planeta”, estreada em 2021 e que continua patente no museu. Também aqui são utilizados dados retirados da investigação científica com apoio do programa público Clima: Emergência > Emergente, com curadoria do Colectivo Climático do maat. “A instalação resulta de um projecto de investigação de dois anos e meio cuja ideia era contextualizar como é que nós como humanos chegamos até aqui numa vertente ambiental”, partilha Beatrice Leanza, directora artística de “Naturezas Visuais  A Política e a Cultura do Ambientalismo nos Séculos XX e XXI”.

A investigação compilou dados desde a década de 1950 até aos dias de hoje sobre a história do ambientalismo, que podem ser consultados de forma esquemática nos vários ecrãs tácteis distribuídos pelo espaço. “É uma interface muito intuitiva e simples, onde ao andar para baixo, tal como fazemos num smartphone, andamos ao longo do tempo e ao andar verticalmente andamos entre as diferentes categorias da investigação”, explica a curadora. Tal como aconteceu em “Earth Bits”, também aqui a interface foi desenvolvida pelo estúdio dotdotdot e inclui imagens, vídeos, textos e registos áudio. “A beleza de trabalharmos com tecnologia é que isto é algo que podemos actualizar a qualquer momento, o que torna isto num organismo vivo”.

O espaço, desenhado pela arquitecta brasileira Carla Juaçaba, “lembra uma assembleia onde todos nós estamos a liberar sobre o futuro”. A acompanhar a instalação há ainda uma Biblioteca do Clima com uma selecção de livros, desde os anos 50 até aos dias de hoje, que cobrem todos os tópicos da investigação e que podem ser consultados pelos visitantes. Conscientes que seria impossível incluir todas as referências relevantes em formato físico, há ainda um arquivo digital com um amplo catálogo de livros, referências e literatura sobre estes temas relacionados com a ecologia.

Tal como “Prisma” e “Interferências  Culturas Urbanas Emergentes”, “Naturezas Visuais  A Política e a Cultura do Ambientalismo nos Séculos XX e XXI” pode ser visitada até 5 de Setembro no maat. Os bilhetes (6€-9€) dão acesso às três exposições e estão disponíveis à porta e no site do museu.

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