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Controversa torre da Portugália dá um jardim ao bairro

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
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Se anda longe das redes sociais é possível que só apanhe agora este episódio da série Quarteirão da Portugália. Um projecto imobiliário de habitação, comércio e lazer que inclui uma torre de 16 andares em Arroios.

O projecto, em consulta pública até 18 de Junho, não é unânime e tem dado que falar. Uma torre com 60 metros de altura em plena Avenida Almirante Reis já deu origem a um movimento de cidadãos indignados chamado Stop Torre 60m Portugália. Esta quinta-feira, houve uma apresentação pública na Ordem dos Arquitectos Secção Regional Sul com os arquitectos de um lado, e os moradores do outro. 

A torre da polémica é apenas uma das estruturas do complexo que vai mudar a cara ao quarteirão. Além dos apartamentos, comércio e centenas de lugares de estacionamento, haverá espaço para jardins.

A estratégia do projecto passa por “conseguir identificar a alma daquele lugar e preservar essa mesma alma”, explicou José Gil, promotor da consultora portuguesa Essentia durante a apresentação, enquanto sublinhava que entre os Anjos e a Praça do Chile há 1,5km sem “zonas de descompressão”. E por isso mesmo o futuro quarteirão irá criar áreas abertas, ao contrário do projecto inicial que ocupava 31220m2 do solo. Com a opção pela torre de 16 andares, a área total do projecto fica distribuída, mas em altura. Uma solução encontrada que não agrada a todos. “Tivemos de tirar massas para introduzir porosidade e a possibilidade de maior luz, reflectida, chegar a várias ruas. Mantendo a mesma área que é sobreposta na torre de 16 andares”, explica o arquitecto José Mateus, da ARX Portugal Arquitectos.

“O PDM actual tem como um dos objectivos a recuperação do interior dos quarteirões”, sublinha José Mateus. Para o arquitecto, esta é uma oportunidade de entregar o quarteirão à população, revelando que esta zona de Arroios tem cursos de água no subsolo que serão aproveitados. Isto significa que a praça do complexo será alimentada por água e zonas verdes com áreas de lazer ao ar livre abertas à população, com condições para desenvolver actividades artísticas e culturais.

Durante a sessão da apresentação fez-se ouvir Rita Cruz, do movimento Stop Torre 60m Portugália que pediu para serem disponibilizados todos os estudos que precederam o projecto, a bem da transparência. Moradora em Arroios, desconhece tentativas de auscultação da população local, classificando este projecto como um “erro histórico”, criticando a não referência aos dez mil metros quadrados de espaço público que está a ser desenhado não muito longe daqui: o Jardim do Caracol da Penha.

A parcela da torre será destinada a habitação com preços abaixo do mercado para venda e arrendamento destinados à classe média, enquanto o edifício do restaurante da Portugália será ampliado para encaixar escritórios e coworking. O edifício da fábrica estará destinado a escritórios e retalho. Está previsto ainda um parque de estacionamento com 413 lugares para carros e 99 para motas, divididos por três pisos: dois para uso público e um para uso privado. Numa segunda fase será cedido um equipamento à CML, um espaço multiusos de âmbito cultural.

Em 2014 nasceu um primeiro projecto para o quarteirão, mas foi na altura rejeitado pelo município que, segundo José Gil, queria aprovar um novo projecto em linha com as actuais regras do PDM. “No nosso entender [este projecto] cumpre o PDM e todos os regulamentos aplicáveis”, defende. O primeiro projecto previa a demolição do interior da fábrica de cerveja, mas esta nova proposta abraça a “valorização do património edificado, industrial, etnográfico e simbólico que marca o carácter singular da área de intervenção”, lê-se num dos documentos que está disponível para consulta pública

O projecto em debate foi desenhado pela ARX Portugal Arquitectos, dos arquitectos José Mateus e Nuno Mateus, vencedor em 2017 do concurso público de arquitectura. O quarteirão está integrado num conjunto de imóveis do Fundo Sete Colinas que pertencem a um investidor alemão representado em Portugal pelo fundo de investimento Silvip. A coordenação do projecto é da Essentia, consultora portuguesa.

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