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Eliades Ochoa tocou com o Buena Vista Social Club e é um dos mais famosos músicos cubanos vivos. O cantor e compositor cubano actua segunda-feira no Teatro Tivoli BBVA.
O disco do Buena Vista Social Club foi gravado quase por acaso. Ry Cooder e Nick Gold, da editora World Circuit, tinham planeado ir para Havana com artistas do Mali, em 1996, e juntá-los a intérpretes locais para tocarem juntos e explorarem as semelhanças entre as músicas dos dois países. Só que os malianos não conseguiram os vistos necessários para entrarem em Cuba, e os gringos viram-se obrigados a gravar, apenas com os músicos locais, os discos de Afro-Cuban All Stars e Buena Vista Social Club. O resto é história.
Desde então, morreram muitos dos protagonistas do Buena Vista Social Club. Mas os sobreviventes têm percorrido o mundo, primeiro juntos e depois sozinhos. É o caso do veterano cantor e compositor Eliades Ochoa, a quem já chamaram “o Johnny Cash cubano”. Regressa a Lisboa na segunda-feira, para tocar no Teatro Tivoli BBVA, acompanhado pelo seu Grupo Patria. A mesma formação que o escoltou da primeira e única vez que se apresentou em nome próprio em Lisboa, em Agosto de 2008, no Centro Cultural de Belém.
![](https://img.youtube.com/vi/wyxvKQ_9d94/sddefault.jpg)
Nascido em 1946, Eliades Ochoa pegou na guitarra pela primeira vez com seis anos. E ainda miúdo, aos 11, ganhou os primeiros trocos com a sua música: “cinco centavos”, recorda. A moedinha foi atirada para o seu chapéu, nas ruas de Santiago de Cuba, antes da revolução. Mais tarde, em 1963, começou a viver da sua arte. Profissionalizou-se e passou por vários grupos, antes de se juntar ao Cuarteto Patria. “Lidero o grupo desde 1978 e continuo a tocar com eles”, conta. “Foram eles que me acompanharam no meu novo disco.”
O disco chama-se Vamos a bailar un son e foi editado há um mês. Sem surpresas, é um disco de son cubano. Boa parte do mundo (re)descobriu esta música tradicional, com influências espanholas e africanas, através do Buena Vista Social Club. Eliades Ochoa, no entanto, sempre foi um apologista do género, e nunca esqueceu as suas raízes. Ao longo dos anos, manteve-se fiel ao son e ajudou a moldá-lo. Hoje, é um dos seus principais intérpretes e embaixadores.
No Teatro Tivoli BBVA, o caribenho vai tocar as canções de Vamos a bailar un son. “Se queres vender algo, tens de anunciá-lo. Tens de promover aquilo que queres que o público conheça”, assume o cantor e compositor. “E eu quero vender o meu disco, por isso vou tocar os temas novos.” Quando é confrontado com o legado do Buena Vista Social Club, e com o facto de ser isso que a maioria quer ouvir, reconhece que “o público quer que toque essas canções”. Essas e outras antigas dele, mais conhecidas. “Não posso dizer que não as toco, mas se tenho temas novos preciso de tocá-los.” É justo.
Quando é interrogado sobre a relação dos cubanos com as suas músicas tradicionais e com aquilo que se ouve e passa fora da ilha, ele parece desviar-se da pergunta. “As pessoas ouvem aquilo de que gostam”, considera. “Ouvem o son cubano e ouvem reggaeton e ouvem música merengue e ouvem os mexicanos. Cada ritmo tem o seu público.” Pouco depois, leva a conversa de volta para si. Afinal, há um concerto (e discos) para vender. “Também há muita gente que gosta do bolero, por exemplo. E mostraram-me isso quando gravei o disco Un Bolero Para Ti e recebi o Grammy [Latino]. O que é sinal que as pessoas aceitaram e gostaram do que fiz.”
Pergunta-se sobre a relação dos jovens com o son, e ele mais uma vez evita responder. Muda-se o ângulo e a abordagem: será que o son e outros ritmos cubanos continuarão em boas mãos quando os últimos músicos da geração do Buena Vista Social Club morrerem? “Aqui há músicos com muita qualidade. Cuba é uma ilha musical.”
Em mais do que uma ocasião, tenta-se falar da realidade cubana, mas sem sucesso. “Não quero falar de política”, diz a dada altura. O embargo a Cuba, para ele, “é um problema do governo”. Sobre as formas como esse bloqueio afecta a população, ele prefere não falar. “A mim não me afectou, nem afecta, o embargo. Nem sei o que é isso, porque não é o meu trabalho. Eu faço música e posso tocar onde quiser.” Esta semana, quer tocar em Lisboa.