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Debaixo da Pele
DREmpty, 2007, da série Emotional Rescue.

'Debaixo da pele' de um artista estão todas as suas histórias

O Museu Colecção Berardo recebe a partir desta quinta-feira 'Debaixo da pele', uma exposição retrospectiva da obra do pintor Miguel Telles da Gama. "Tudo isto tem um carácter autobiográfico", diz o artista.

Joana Moreira
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Joana Moreira
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"Pouca gente conhece e é um trabalho de imensa qualidade”, diz Rita Lougares, diretora artística do Museu Colecção Berardo, sobre a exposição dedicada à obra de Miguel Telles da Gama que inaugura esta quinta-feira, dia 7, no museu instalado no Centro Cultural de Belém. "Debaixo da Pele" – “é a primeira grande exposição deste pintor e desenhador português” e pode ser visitada até 6 de Novembro. 

À entrada, o público é confrontado com uma obra criada especialmente para este espaço. São 70 imagens com duas silhuetas em posições sugestivas. "Não vamos dizer que é uma obra absolutamente ingénua, porque não é", diz Miguel Telles da Gama diante da série 70 ex-votos por uma vida sexualmente animada. "A partir do momento em que tenho uma exposição desta natureza, é um bocadinho contraproducente não fazer uma coisa inédita para a exposição”, conta à Time Out, adiantando que também a técnica utilizada foi uma estreia: “é uma técnica que eu próprio nunca tinha experimentado, que é entalar as gelatinas entre dois vidros”. 

A ocupar uma ampla parede do Berardo, é essa a mais recente criação do artista que nasceu em Lisboa em 1965. Para lá dos votos, a exposição, com a curadoria de José Luís Porfírio, continua sem uma obediência cronológica, mostrando um conjunto de 61 obras a partir do fim do século, descortinando as “múltiplas peles” do pintor. “A pele é equivalente à 'página lisa' onde tudo podemos encontrar: imagens, palavras e cores assumidas em 'formas e consistência diversas', umas vezes como pele, outras vezes como casca, quando a cor ganha consistência, volume, espessura e, coisa rara, transparência, podendo receber palavras ou desenhos que mostra e oculta ao mesmo tempo”, escreve o curador no texto que acompanha a exposição. 

A mais antiga obra ali presente é uma pintura de 1997, Reserva de Caça, que ocupa uma posição de destaque, ao centro da mostra. Num percurso labiríntico, o público descobre ainda as influências da literatura, do cinema, e da música – esta última, de forma mais explícita, com figuras como David Bowie ou Lou Reed a ocupar as telas – na arte de Telles da Gama. “A música é sempre uma influência na minha pintura”, diz aos jornalistas na visita de imprensa. 

Percorrendo as cinco salas de “Debaixo da Pele”, assiste-se a uma exploração de temáticas que em tudo se ligam à biografia do pintor, dos contos que na infância o fascinavam (em evidência nas telas em que o animal, o humano, o real e o fantástico se cruzam, num ambiente de fantasia) às inquietações do quotidiano. "A razão nunca é gratuita. Tudo isto tem um carácter autobiográfico, não é só por ser feito por mim, mas tem sempre uma razão. Essa razão pode é estar mais ou menos evidente”, explica à Time Out.

A série Emotional Rescue (2007), por exemplo, surge de um período conturbado: "A minha situação na altura com a [Galeria] 111 estava emocionalmente a acabar e a minha relação com a minha ex-mulher estava também emocionalmente a acabar. Emotional Rescue era uma tentativa de salvar as duas coisas e nenhuma delas se salvou". “Salvaste-te tu”, acrescenta a directora artística do museu, que cumpre assim o desejo de mostrar a obra do pintor, adiado à conta da pandemia.

Debaixo da Pele
DR

Programação de 2023 em suspenso 

A actual temporada do Museu Berardo conta apenas com mais uma exposição, do artista brasileiro Luis Zerbini, que tem inauguração prevista para 14 de Dezembro. Questionada pela Time Out sobre como estão a ser preparadas as exposições do Museu para o ano que vem, Rita Lougares responde: "O museu vai terminar. Este espaço vai passar a ser gerido pelo CCB e ainda não sabemos exactamente o que é que o CCB está a pensar fazer. Sabemos que quer ficar com a colecção enquanto estiver arrestada, pelo menos, e que está a pensar reunir aqui também a colecção Elipse, mas ainda não há um programa definido e, por isso, neste momento, não me sinto confortável em fazer programação". 

Admitindo que as exposições levam habitualmente entre dois a três anos a ser preparadas – "Debaixo da pele", por exemplo, começou a ser pensada em 2018 – a directora do Museu Berardo revela que "há vários projectos que obviamente estavam em cima da mesa, mas que estão em standby à espera que haja reuniões com o CCB e uma decisão para saber exactamente o que é que pretendem fazer desde espaço". 

Sobre a possibilidade de continuar no cargo, Lougares afirma: "Neste momento, não sei ainda quem vai ser o director artístico, isso ainda não está definido", não escondendo que tem projectos que ainda gostava de ver passar pela instituição cultural. "Projectos muito bons, mas vamos ficar a aguardar como é que isto tudo se vai resolver", remata. 

Museu Coleção Berardo (Belém). Seg-Dom 10.00-19.00. Até 6 de Novembro. Entrada: 5€ (gratuita ao sábado)

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