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Teatro da Politécnica
Fotografia: Jorge GonçalvesTeatro da Politécnica

Decisão sobre a saída da Politécnica não está tomada. Artistas Unidos “folgam em saber”

Universidade de Lisboa mantém em aberto a renovação do contrato de arrendamento do Teatro da Politécnica, casa da companhia fundada por Jorge Silva Melo desde 2011.

Raquel Dias da Silva
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Raquel Dias da Silva
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Os Artistas Unidos acreditam estar em risco de ficar sem casa. “O Teatro da Politécnica, infelizmente, veio a confirmar-se como um lugar de passagem, quando, no dia nove deste mês, o reitor da Universidade de Lisboa (UL) comunicou aos Artistas Unidos que o contrato não seria renovado novamente”, informou a companhia fundada por Jorge Silva Melo, num comunicado enviado nesta quarta-feira, 23 de Março. No entanto, a UL diz que não há ainda uma decisão final. “O que foi dito é que o contrato de arrendamento é válido até Fevereiro de 2023 e temos até 60 dias antes do fim do prazo da relação contratual para avaliarmos e nos pronunciarmos sobre o que será feito. Seja como for, o reitor está disponível para ajudar a companhia de teatro, caso necessário, a encontrar espaços alternativos”, diz à Time Out Lisboa o assessor de imprensa da UL, António Sobral.

“É verdade que o reitor se mostrou disponível para ajudar a companhia e até sinalizar a situação à câmara [de Lisboa], mas pareceu-nos ficar muito claro que o contrato não seria renovado. Folgamos em saber que estão a repensar a decisão, porque não foi essa a informação que nos deram”, afirma o actor e encenador Pedro Carraca. Segundo este membro da direcção, os Artistas Unidos foram informados de que a universidade precisava daquele espaço para o Museu de História Natural e da Ciência, ao lado. “É uma surpresa sem ser uma surpresa, porque este problema tem 20 anos. Desde que saímos d’A Capital [em 2002] que não temos casa. A Politécnica sendo uma solução de recurso nunca foi a resposta.”

Não é a primeira vez que os Artistas Unidos manifestam preocupações sobre o seu futuro ou enfrentam risco de despejo. Depois de em 2002 terem saído do edifício d’A Capital/ Teatro Paulo Claro, por decisão da Câmara Municipal de Lisboa, acordou-se que seria encontrado um espaço definitivo para a companhia, mas a promessa da autarquia, então presidida por Pedro Santana Lopes, não foi cumprida. Seguiram-se anos nómadas, com passagens pelo Teatro Taborda, o Convento das Mónicas e o Teatro da Politécnica, onde estão sediados desde 2011. “Sem um espaço não podemos concorrer ao concurso quadrienal, porque um dos requisitos é precisamente esse”, lamenta Pedro Carraca. “Mas esperamos uma resposta da Câmara e do Ministério [da Cultura]. Estamos a tentar perceber o que podemos fazer e até temos uma lista de vários espaços que podem ser alocados à cultura, mas tem de haver vontade política.”

Os Artistas Unidos formaram-se a partir do grupo que estreou, em 1995, António, um Rapaz de Lisboa, de Jorge Silva Melo. O Fim ou Tende Misericórdia de Nós e Prometeu, também de Jorge Silva Melo; A Queda do Egoísta Johann Fatzer, de Brecht; e Coriolano, de Shakespeare, foram algumas das produções com que deram os primeiros passos. Nos últimos anos no Teatro da Politécnica, foram produzidos pela companhia e apresentados cerca de 60 espectáculos, onde trabalharam centenas de profissionais e se estrearam muitos jovens em início de carreira. “Investimos e até nos endividámos bastante para remodelar o espaço. Com o antigo reitor isso contou sempre a nosso favor. Agora há um novo reitor [Luís Ferreira, eleito em Setembro de 2021], com preocupações diferentes. Não é que não esteja no direito de as ter, mas é na pior altura possível, com a morte do Jorge e pouco tempo para concorrer a apoios”, relembra. “Pouco dormimos a repensar o que fazer. Não podemos aceitar que a companhia e a memória e o trabalho do Jorge se extinga assim, de repente. O Jorge, nos seus últimos dias no hospital, discutiu connosco o futuro da companhia. Veja-se o estado de amor daquela cabeça para projectar o amanhã para além da morte.”

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