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Gabriell Vieira

Depozito: o velho e o novo artesanato português debaixo do mesmo tecto

A Vida Portuguesa e a Portugal Manual uniram esforços para enaltecer o saber-fazer nacional. O Depozito já abriu portas.

Mauro Gonçalves
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Mauro Gonçalves
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Quase tudo nesta nova loja lisboeta resulta de anos e anos de experiência. Que o diga Catarina Portas que, há mais de uma década, começou a resgatar do esquecimento dezenas de marcas e produtos, hoje emblemas do saber-fazer nacional. Mas A Vida Portuguesa não veio sozinha ocupar este vasto armazém da Rua Nova do Desterro. Com ela, chegou também a Portugal Manual de Filipa Belo para proporcionar uma espécie de leitura comparada — o velho e intemporal artesanato português lado a lado com o trabalho de uma nova geração de artesãos e autodidactas. É esta a missão do Depozito.

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"Há muito tempo que queria fazer uma loja virada para o artesanato, que tem um problema enorme: as pessoas não o valorizam o suficiente para pagar o que ele vale", começa por explicar Catarina Portas à Time Out Lisboa. Há cinco anos que esta é uma casa d'A Vida Portuguesa. As instalações que até aqui funcionaram em exclusivo como escritório e armazém central das lojas foram agora parcialmente transformadas para receber o Depozito.

A loja é ampla e desafogada, mobilada com algumas das peças provenientes dos dois espaços encerrados durante a pandemia (Chiado e Clérigos). À entrada, espera-nos uma colecção invejável — são 50 cartazes publicitários portugueses que atravessam uma boa parte do século XX. O mais antigo? "Um chá nas nuvens", o primeiro filme de intuito publicitário feito em Portugal, de 1917. Ao fim de anos a coleccionar este e outros tesouros e a vê-los serem cobiçados por vários clientes, Catarina arranjou forma de reproduzi-los com a ajuda da Gamut. As réplicas rondam os 100€.

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O pequeno café convida a uma pausa. Mais do que um local para fazer compras, o novo projecto foi pensado para demorar os visitantes, primeiro em torno de uma chávena, mas tarde à volta das estantes. Nas da direita, a proposta é viajar pelo país — Norte, Centro, Sul e Ilhas — através de olaria, marcenaria, cortiça, cestaria e têxtil. Quanto aos autores, Catarina conhece-os pelo nome. "Sempre contactei com muitos artesãos e vê-los envelhecer sem transmitir o que fazem há muito que começou a deixar-me ansiosa. Felizmente, estamos a assistir a este ressurgir da manualidade e este espaço foi criado também para isso: para cruzar os novos autores urbanos com os artesãos mais tradicionais e ainda no activo", continua.

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Catarina auto-intitula-se uma agregadora, mais uma razão para não partir sozinha para esta nova aventura. Há três anos, Filipa Belo criou a Portugal Manual, uma plataforma de divulgação e de apoio a uma nova geração de makers portugueses. Quando as duas falaram pela primeira vez sobre partir para um projecto a meias, a sintonia foi total. "Estamos a mostrar que é possível dar continuidade a estes ofícios e a fornecer ferramentas para que isso aconteça, nomeadamente pondo todo o know how à disposição de uma nova geração. Por outro lado, as próprias pessoas também procuram o artesanato tradicional, mas não sabem onde o podem encontrar. Trouxemo-lo para aqui e com uma curadoria", refere Filipa.

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Para a abertura do Depozito, a Portugal Manual trouxe cerca de 40 marcas portuguesas. Destaque para a cerâmica utilitária, para novos talentos da joalharia, para quem trabalha a madeira, para o vestuário e para novas abordagens à tradição como tão bem exemplificam as tapeçarias contemporâneas de Susana Cereja. "São trabalhos como este que estão a reposicionar o artesanato. Não ficou no passado e aqui está a ser enaltecido", remata.

A herança está mesmo ali ao lado, na forma de barro negro e da olaria dos mestres alentejanos, nos cochos de cortiça (que a Malga já reinterpretou em cerâmica), nos cobertores de papa e nos tapetes de trapo, nas camisas e ceroulas de pescador da Nazaré e nas camisolas poveiras. "E isto é só o início, ainda vai chegar muito mais", acrescenta Catarina.

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A selecção de marcas e autores entra directamente para o roteiro de compras de Natal, com sugestões que vão dos 2€ aos 3000€ e que empurram as escolhas na direcção de um consumo mais sustentável. Unidos pelo artesanato, velhos e novos têm aqui um ponto de encontro real. O objectivo é promover a troca de experiências entre gerações, seja através de workshops ou de conversas, mas também na forma de uma biblioteca especializada, reunida por Catarina Portas, e que em breve estará disponível para consulta.

Rua Nova do Desterro, 21. Qua-Dom 11.00-19.00 (a partir de Janeiro, abrirá só ao fim-de-semana)

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