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Centro de Cultura Libertária
DRCentro de Cultura Libertária, Almada

Desta é de vez: Centro de Cultura Libertária tem de abandonar sede histórica de Cacilhas

Espaço de encontro, resistência e debate político funciona desde 1974 na Rua Cândido dos Reis, em Almada. Três colectivos anarquistas juntam-se para procurar novo espaço.

Rute Barbedo
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Rute Barbedo
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Não é a primeira vez que o Centro de Cultura Libertária (CCL) é ameaçado de despejo, mas agora não há volta a dar. Em Março, o grande ponto de encontro de inspiração anarquista da região de Lisboa terá de deixar o espaço de Cacilhas, onde funciona desde 1974, e procurar um novo local para instalar o seu centro social, biblioteca e arquivo.

2024 marca, paradoxalmente, os 50 anos deste ateneu cultural fundado por "velhos militantes libertários que resistiram à ditadura, ocupando desde então o espaço arrendado no número 121 da Rua Cândido dos Reis, em Cacilhas". O CCL afirmou-se como um centro social, lugar de debate, de encontro, de cinema, concertos e leitura. Alberga, ainda, uma biblioteca e um arquivo únicos no país, com documentos produzidos ao longo dos últimos 100 anos, mais ou menos a idade do centenário jornal A Batalha (criado em 1919, mas com uma publicação irregular, devido à repressão de diferentes regimes políticos), que agora se junta ao CCL e à Biblioteca e Observatório dos Estragos da Sociedade Globalizada, numa tentativa de encontrar e adquirir um novo ateneu libertário na região de Lisboa, "um espaço que lhe pertença e de onde não possa ser despejado".

Centro de Cultura Libertária
DRCentro de Cultura Libertária

"Durante a sua existência, o Centro acolheu inúmeras actividades, tais como debates, encontros, círculos de leitura, sessões de vídeo, oficinas, jantares ou diversas oficinas de aprendizagem, e serviu de casa a muitos grupos e colectivos libertários. Diferentes publicações aqui se editaram, como a Voz Anarquista nos anos 70, a Antítese nos anos 80, o Boletim de Informações Anarquista, nos anos 90, e a revista Húmus, na primeira década deste século", pode ler-se no descritivo de uma campanha de angariação de fundos em 2018, levada a cabo na sequência de uma das diversas tentativas de despejo do espaço de Cacilhas, que não chegou a concretizar-se. 

Entre 2009 e 2011, o CCL terá resistido, da mesma forma, contra um processo de despejo movido pelo senhorio. "Apenas a solidariedade de muitos colectivos e indivíduos aqui e além-fronteiras nos permitiu fazer frente aos custos do processo judicial, que acarretou dois julgamentos e um recurso. No final, chegámos a um acordo de aumento de renda que nos permitiu continuar no espaço sem alterações na duração do contrato", relatam.

Nos últimos anos, a "contínua pressão exercida pela gentrificação e pelo mercado imobiliário, que tantas pessoas e associações tem despejado e forçado a sair do centro das cidades, volta a atingir o CCL, desta vez com força definitiva", informa o Centro. Para continuar estes 50 anos de trabalho num novo espaço, os colectivos estão a lançar diversas iniciativas de angariação de fundos. "Sabemos que temos pela frente uma difícil tarefa, mas acreditamos que pela força do conjunto e pela solidariedade anarquista conseguiremos levar esta ideia a bom porto", afirmam.

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