A Time Out na sua caixa de entrada

Procurar
É UM RESTAURANTE
DR

É Um Restaurante reabriu completamente diferente, depois do susto da pandemia

Projecto da associação CRESCER continua a missão de apoiar pessoas em situação de sem-abrigo, dando-lhes formação no restaurante para que possam entrar no mercado de trabalho. O espaço está mais requintado e a carta mudou.

Cláudia Lima Carvalho
Escrito por
Cláudia Lima Carvalho
Publicidade

Quase dois anos depois de ter fechado, o É Um Restaurante voltou a abrir portas. Está diferente, mais requintado e acolhedor, com uma carta também ela renovada, mas a missão de reinserção social mantém-se firme e já com provas dadas: apesar de todas as contrariedades, 50% dos formandos que inauguraram o projecto estão hoje integrados no mercado de trabalho. 

Apresentado no final de 2019 como restaurante, mas acima de tudo como projecto de reinserção social para pessoas em situação de sem-abrigo, tem o dedo da CRESCER – Associação de Intervenção Comunitária e coordenação dos chefes Nuno Bergonse e David Jesus. Quando veio a pandemia, tudo mudou. O restaurante fechou e tornou-se num centro de acção para takeaway, por sugestão das próprias pessoas envolvidas, e entregas de refeições a quem mais precisou. “Todo o restaurante tornou-se uma cozinha para fazer 600 refeições diariamente, tínhamos câmaras frigoríficas nas quais estamos sentados agora e isso fez com que tivéssemos de renovar o espaço”, conta Américo Nave, director executivo da CRESCER, explicando que se aproveitou também para dar resposta a algumas das críticas que haviam recebido antes. “Algumas pessoas queixavam-se do barulho, do espaço ser frio”, recorda.

É UM RESTAURANTE
DR

Os azulejos coloridos que ocupavam uma parede inteira desapareceram, os tons estão mais escuros e as mesas e as cadeiras são um contraste absoluto das anteriores. “Acho que fizemos um espaço mais acolhedor, mais simpático”, acredita Américo. 

A missão de escola, essa, continua, mas também a carta mudou. A dupla de chefs desenhou um menu com mais petiscos para partilha, como uns peixinhos da horta com molho tártaro (6,25€), que são na verdade vários legumes em tempura e não apenas feijão verde, uns rissóis de berbigão e salicórnia (6€/duas unidades), e um húmmus de espinafres com couve-flor assada e kale (6€), e ainda pratos de conforto como a açorda de camarão com tomate e algas (14€) ou a raia com molho de curcuma, esmagada de batata e acelgas (15€).

É UM RESTAURANTE
DRDavid Jesus e Nuno Bergonse

“Mudámos um pouco o conceito”, diz o chef executivo David Jesus (Nuno Bergonse é o chef consultor), lembrando que quando o É Um Restaurante abriu a ideia era ter uma cozinha de conforto e partilha. “Mas tínhamos clientes que preferiam ter um prato principal e por isso agora dividimos [a carta] entre petiscos e pratos principais.” Nada impede, ainda assim, que se possam partilhar os pratos maiores.

O feedback de quem chega agora tem sido muito positivo, garante Américo, sem nunca perder o foco da missão para a qual este restaurante nasceu: poder acompanhar, formar e integrar no mercado de trabalho pessoas em situação de sem-abrigo. “É largamente um objectivo conquistado porque integrámos 50% das pessoas no mercado de trabalho durante a pandemia, isso abre-nos grandes horizontes para o futuro”, continua, contando que hoje o É Um Restaurante pode orgulhar-se de ter formandos “a trabalhar em grandes restaurantes e hotéis”. De tal forma que já há restaurantes a ir ter com a associação à procura de funcionários. 

Falta agora atingir a sustentabilidade financeira para que projectos sociais assim não dependam de apoios. “As IPSS [Instituições Particulares de Solidariedade Social] que apoiam estas pessoas e estas causas estão sempre dependentes de apoios e queremos mudar esta lógica, criar projectos sustentáveis, que dependam do próprio sucesso, do próprio negócio, inovação e criatividade”, defende. “Estávamos no bom caminho em 2019/2020, penso que agora com o retomar e a renovação é possível chegar lá.”

Para o futuro, há grandes planos de crescimento. “Fomos desafiados para abrir um novo projecto perto de Carnide, num espaço que vai ter 200 lugares. A ideia é um replicar o modelo”, revela Américo, sem querer ainda levantar muito o véu. Além disso, desde a semana passada que a associação está responsável pela restauração da nova sede em Lisboa da seguradora AGEAS, aplicando exactamente o mesmo modelo do É Um Restaurante. “Para além disto, estamos em reuniões com outros parceiros para poder ainda expandir mais”, diz. “No fundo, enquanto existirem pessoas em situação de vulnerabilidade e nós sintamos que há dificuldade em integrar o mercado de trabalho, acho que temos de continuar a crescer e continuar a criar novos projectos.”

Rua de São José, 56 (Avenida). 21 596 8325. Ter-Sáb 12.30-15.00/ 18.30-23.00

+ O Afuri cresceu, chegou ao Parque das Nações e já faz a sua própria massa

Últimas notícias

    Publicidade