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“Em Lisboa, as coisas não se deitam abaixo: caem”, afirma Javier Martín del Barrio, correspondente do El País em Lisboa e autor do blogue Tu Lisboa y la mia, em conjunto com a sua mulher Rosa Cullell, directora-geral do grupo Media Capital.
O palácio da Quinta das Águias, em Alcântara, “mil vezes saqueado, pintado e comido pela vegetação”, é – para Javier Martín del Barrio – o mais triste dos muitos edifícios degradados e ao abandono na cidade. “Uma única telha é vendida na Feira da Ladra por 20€”, denuncia o jornalista espanhol, ao mesmo tempo que recomenda uma visita a estes “cinco palácios para ver antes que caiam”.
A negligência, aliada à excessiva burocracia, é apontada como a principal razão para o abandono de “dezenas de casas nobres”, embora nos últimos cinco anos se tenham recuperado inúmeros palácios “graças ao turismo”, com o interesse pela cidade a ser aproveitado inclusive pela câmara de Lisboa, que leiloou os palácios de Benagazil, Braamcamp, Machadinho e Pancas Palha.
A maioria dos edifícios é, contudo, convertida em hotéis de luxo, sob a estrita supervisão de todas as autoridades de inspecção e património cultural, local e nacional, acusa. “Às vezes, essa vigilância é contraproducente, porque o promotor desiste e o palácio continua na sua lenta mas inexorável queda”, alerta del Barrio.
A Quinta das Águias também já esteve à venda, em mais do que uma imobiliária, por 1,7 milhões de euros. Segundo a Direcção-Geral do Património Cultural, de acordo com informação no seu site, encontra-se há mais de meio século “em processo de degradação”.
Na mesma rua, a da Junqueira, descrita por Javier Martín del Barrio como a que mais “simboliza a decadência palaciana de Lisboa”, é possível encontrar outros dois palácios ao abandono: o Palacete da Ribeira Grande e o Palácio de Burnay. Este último, adquirido pelo Estado português em 1940, foi casa de vários organismos públicos e abriga hoje os Serviços de Reitoria e Acção Social da Universidade Técnica de Lisboa, além do Instituto de Investigação Científica Tropical – “o que não é o melhor para os seus trabalhadores nem para o palácio, que vai perdendo o brilho”.
Já o Palácio Silva Amado, no Campo dos Mártires da Pátria, é privado e “tem saltado de imobiliária em imobiliária”, salienta o jornalista espanhol, que descreve o seu interior como “uma preciosidade, recheada de mármores e seixos de ouro rococós”.
Por último, Palácio do Patriarcado “espera uma requalificação como hotel de luxo” desde 2010. Por lapso, Martín del Barrio não o identifica no artigo no site do El País, mas à Time Out o autor confirmou tratar-se do palácio que alojou o Papa João Paulo II, em 1982, depois de uns restauros pouco significativos.
“O lado positivo é que, há cinco anos, Lisboa tinha muitos mais palácios em perigo de extinção”, assinala o jornalista espanhol, escrevendo ainda que “a política de não destruir, apesar do risco de que caiam, está a contribuir para a conservação e usufruto, da forma possível, de tais maravilhas arquitectónicas e decorativas”.