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Hiroyuki Sanada
©Kurt Iswarienko/FXHiroyuki Sanada, em 'Shōgun'

Em ‘Shōgun’, Portugal e Japão estão (outra vez) em confronto

O romance de James Clavell volta a ser adaptado à televisão, agora numa tentativa de escutar melhor todas as partes. A nova minissérie ‘Shōgun’ estreia a 27 de Fevereiro, no Disney+.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
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Em 1980, o actor Richard Chamberlain era a grande estrela de Shōgun, uma minissérie da NBC – depois encurtada numa longa-metragem – que adaptou o livro homónimo de James Clavell, publicado cinco anos antes, sobre as lutas de clãs no Japão feudal, numa era em que os portugueses eram reis e senhores das trocas comerciais com o país asiático. A nova produção quer equilibrar perspectivas históricas, num elenco recheado a actores japoneses que falam na sua língua materna, assim como na série original, que foi um êxito de audiências. Mas a língua portuguesa, mais uma vez, acabou por ficar na beira do prato.

Nesta minissérie de dez episódios (o dobro da versão de 1980) recuamos ao ano de 1600, altura em que os senhores feudais do Japão iniciam uma batalha pelo poder, após a morte de Nakamura, o Taikō reinante (uma espécie de imperador e uma excelente oportunidade para conhecer particularidades dos sistemas de poder na história nipónica). Ao mesmo tempo, dá à costa um barco holandês danificado e na tripulação encontra-se o timoneiro inglês John Blackthorne, papel anteriormente interpretado pelo norte-americano Chamberlain e que agora fica a cargo do britânico Cosmo Jarvis (Calm With Horses).

Este ocidental protestante embarcou com a missão de comprometer a exclusividade comercial e a influência cultural dos portugueses cristãos neste território, num período em que Portugal era regido pela dinastia filipina, partilhando a coroa com Espanha. Ou seja, cerca de um século após a assinatura do Tratado de Tordesilhas entre os dois países ibéricos, que traçaram uma linha invisível no mapa do mundo, dividindo todas as terras, conhecidas e por conhecer, entre os dois. Um tratado desconhecido pelos japoneses de então, sublinhado nesta história que atribui características vilanescas aos portugueses.

Cosmo Jarvis
©Kurt Iswarienko/FXCosmo Jarvis, em 'Shōgun'

Quando a tripulação sobrevivente do navio holandês é resgatada, Blackthorne aproxima-se do senhor feudal Yoshii Toranaga, o verdadeiro protagonista desta história, interpretado por Hiroyuki Sanada (Westworld), também produtor de Shōgun (na primeira minissérie foi interpretado por Toshiro Mifune, do filme Os Sete Samurais). Toranaga é um bushō (poderosos guerreiros), senhor da região de Kantō e descendente de uma temida linhagem de Shōgun, o maior título que um japonês poderia alcançar. No entanto, parece estar apenas interessado em manter a actual linha sucessória: após ter jurado proteger o filho de Nakamura, levando-o consigo após a morte do líder do país, vê-se a braços com os outros membros do Conselho de Regentes, unidos contra ele na luta pelo poder. Por outro lado, Blackthorne quer livrar-se dos padres jesuítas e dos comerciantes portugueses, para abrir as portas ao comércio com outros países europeus, nomeadamente o seu, fazendo-se valer de informações que podem terminar com a influência portuguesa. Como o Tratado de Tordesilhas.

A certa altura no arranque da série, à qual a Time Out teve acesso, o timoneiro inglês revela que sabe falar português e dessa forma comunicar com os ocidentais presentes e japoneses bilíngues neste território até então desconhecido. A questão é que nos diálogos “em português” prosseguem a falar inglês, mesmo quando dizem falar a língua de Camões, num elenco recheado de muitas personagens portuguesas. Destaca-se, a este respeito, uma breve participação de Joaquim de Almeida, no papel do padre Domingo, assim como dos luso-descendentes canadianos (todos nascidos nos Açores) Paulino Nunes, Paul Moniz de Sa e Louis Ferreira. Mas o papel do padre português com maior relevo, Martim Alvito, é assumido pelo actor britânico Tommy Bastow (The Window).

Shōgun é uma criação do argumentista Justin Marks (Street Fighter: A Lenda de Chun-Li, O Livro da Selva) e da escritora norte-americana Rachel Kondo, sua mulher e descendente de japoneses, que o ajudou a desenhar esta adaptação produzida pela FX Productions, hoje uma sucursal da Disney Television Studios. Ao The Hollywood Reporter, o CEO dos estúdios FX, John Landgraf, defendeu que esta segunda adaptação oferece um olhar mais abrangente. “Houve uma grande quantidade de pontos de vista que foram omitidos da série original, porque naquela época acreditava-se que o público americano não gostaria de ver a história do ponto de vista japonês. Agora, acho que é necessário contar a história tanto do ponto de vista japonês quanto do ocidental”, disse, referindo-se à adaptação dos anos 80.

O elenco conta ainda com os actores Anna Sawai (Monarch: Legado de Monstros), Tadanobu Asano (Thor: Ragnarok), Takehiro Hira (Giri/Haji), entre muitos outros, e a estreia dos dois primeiros episódios está marcada para o dia 27 de Fevereiro, uma terça-feira. Os restantes oito vão ficando disponíveis à cadência de um por semana.

Disney. Estreia a 27 de Fevereiro

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