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Espaço dos Coruchéus
Francisco Romão Pereira / Time OutCoruchéus

Entre a biblioteca e a Quadrum, Alvalade ganha um novo espaço cultural

São 80 metros quadrados, mas neste antigo atelier cabem artes plásticas, oficinas para crianças, fado e punk. O espaço dos Coruchéus abre este sábado, com DJ set de Cuca Monga, castanhas e jeropiga.

Rute Barbedo
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Rute Barbedo
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Em tempos, funcionou aqui o atelier de Laranjeira Santos. Foi nestes 80 metros quadrados que o escultor partiu e poliu pedra para criar mulheres corpulentas e que ensaiou rostos cubistas. Ultrapassados os 90 anos, deixou o estúdio dos Coruchéus e devolveu as chaves à Câmara Municipal (os 50 Ateliers dos Coruchéus foram inaugurados em 1971 pela autarquia, como espaços de renda acessível destinados a artistas), que decidiu incluí-lo na rede Um Espaço em Cada Bairro. 

“Estes espaços são muito site specific”, conta Inês Machado, coordenadora do novo centro cultural de proximidade lisboeta, enquanto se ultimam os preparativos para a abertura. O específico de Alvalade, e em particular do Complexo dos Coruchéus, é a grande concentração de artes e artistas, de várias disciplinas, da literatura à escultura, passando pela pintura, a música e o cinema. Por cima deste novo espaço, por exemplo, trabalha a realizadora Salomé Lamas e, ao lado, Edgar Pêra.

Saltando do contexto para a prática, os Coruchéus conhecem, a partir de amanhã, uma nova dinâmica, com a transformação do antigo atelier em espaço expositivo e de espectáculos. A programação parte sempre da exposição a primeira é “Padrão; Cinza – Aceitação do Discurso Urbano”, do cipriota Batu Behram, sobre a apropriação do espaço público e, na órbita das artes visuais, podem acontecer concertos intimistas, oficinas para crianças, conversas ou performances, sempre de entrada gratuita. Mas o espaço está aberto à experimentação e propostas da comunidade

“Num dia pode haver um encontro de tricot e, no outro, uma sessão de música electrónica”, exemplifica Inês Machado. Em Dezembro, por exemplo, a uma performance e conversa sobre o punk em Alvalade (dia 2, às 16.00) segue-se uma emissão ao vivo da Rádio Quântica (dia 6, às 15.00) e um atelier onde crianças entre os 3 e os 5 anos aprendem a criar uma “Orquestra de Papel”. “Já houve um artista que propôs manter o espaço aberto enquanto cria as suas obras, para que se possa assistir ao work in progress. Está tudo em aberto. Queremos estudar as diferentes propostas e ver o que é possível fazer.” Há também programação fixa, como o Clube de Leitura dinamizado por Adelaide Bernardo, técnica de Línguas e Literaturas Modernas da Biblioteca Palácio Galveias, à segunda quarta-feira de cada mês (que começa com obras de Isabel Rio Novo e Valter Hugo Mãe). Já as sextas-feiras são dedicadas ao fado. 

Tão flexível quanto a programação é a infra-estrutura, cuja área reduzida – a contar com a mezzanine, são 80 metros quadrados – obrigou a um “uso nipónico” por parte da equipa do pelouro da Cultura, ou seja, o lugar monta-se e desmonta-se conforme a utilização prevista, tal como irá acontecer este sábado, dia 11, durante a inauguração. “Normalmente, os espectáculos são aqui [no piso térreo], até porque as pessoas não poderão subir à mezzanine, mas amanhã, por exemplo, a cabine do DJ vai ficar lá em cima. E no futuro também poderá haver leituras encenadas e outras actividades ali”, sugere a responsável.

Um salto à Quadrum, à biblioteca e ao parque infantil

Além de querer ser um lugar cultural aberto à comunidade, o espaço dos Coruchéus é também uma tentativa de levar a população a um recanto pouco conhecido da cidade, apesar dos seus muitos motivos de atracção e de estar a cinco minutos da estação de metro de Alvalade. Os 50 ateliers inserem-se num complexo municipal que integra a Biblioteca dos Coruchéus, palacete do século XVII e palco da agitada vida extraconjugal de Felipe II de Espanha; a Galeria Quadrum, sonho louco iniciado há 50 anos por Dulce d’Agro, com o intuito de apoiar e expor artistas portugueses como Julião Sarmento, Salette Tavares ou Alberto Carneiro; e o jardim público com esculturas de José Pedro Croft e Dorita Castel-Branco. Existem, ainda, desde 2017, um parque infantil e um quiosque de comidas e bebidas a apoiar a zona. Mas ainda “há pessoas de Alvalade que não conhecem os Coruchéus”, lamenta Inês Machado, da Divisão de Cultura da autarquia.

Por outro lado, o novo espaço cultural representa um esforço de descentralização por parte da autarquia, na linha do programa Um Teatro em Cada Bairro, que se dissemina pelas freguesias das Avenidas Novas, Estrela, Carnide, Santa Clara e Benfica. “Não queremos competir com os grandes espaços culturais. As pessoas não virão aqui ver a Companhia Nacional de Bailado. Não é isso. A ideia estrutural é descentralizar, sabendo que temos uma grande concentração de espaços culturais mas também uma grande sobrecarga de pessoas no centro histórico.” Esta é “uma forma de fazer acupuntura urbana através da cultura”, acredita a responsável, que durante anos defendeu a mesma ideia, enquanto coordenadora da Galeria de Arte Urbana (GAU), estrutura municipal responsável pela dinamização da arte urbana na cidade.

Na inauguração do espaço dos Coruchéus, em dia de São Martinho, as agulhas são entregues aos performers do Chapitô, com monociclos e malabarismos, ao Coro Sinfónico Lisboa Cantat, do bairro de Alvalade, ao artista Batu Behram, com o seu expressionismo abstracto, e aos músicos Miguel Marôco e ao colectivo Cuca Monga. Tudo acontece entre as 15.00 e as 18.00.

Coruchéus. Rua Alberto de Oliveira (Alvalade). Qua-Dom, 10.00-13.00/14.00-18.00

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