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Mona Camargo e o seu filho Salvador com t-shirts Monami
© Mona CamargoMona Camargo e o seu filho Salvador com t-shirts Monami

Esta colecção de t-shirts e acessórios é para famílias atípicas

Mona Camargo é mãe de um filho no espectro do autismo. No Dia da Consciencialização sobre o Autismo, convida-nos a vestir a camisola (literalmente).

Raquel Dias da Silva
Escrito por
Raquel Dias da Silva
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Estávamos em 2020 quando Mona Camargo recebeu o diagnóstico de Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) do seu filho. Salvador está no nível 3, o que significa que é severo e necessita de cuidados redobrados. Mas a mãe, que durante a pandemia teve tempo e espaço para sentir todos os seus medos e angústias, encontrou uma forma de aliviar o desafio. Criou a Monami, uma marca de moda inclusiva, que ajuda ao reconhecimento e à consciencialização. E é precisamente no Dia Mundial da Consciencialização sobre o Autismo, que se assinala esta terça-feira, 2 de Abril, que Mona nos convida a rumar até à Ar, na Rua da Bela Vista à Lapa, onde vai lançar novas t-shirts e sacos em algodão 100% orgânico para famílias atípicas – e aliados.

“De acordo com o CDC [Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA], 1 a cada 36 crianças está no espectro do autismo. É um número muito significativo e não dá para ignorar”, diz-nos Mona Camargo, que está empenhada em promover pensamento sobre a problemática, inclusive através da moda. “Porque o que vestimos também pode ser um manifesto”, defende a brasileira, que mostou a primeira colecção da Monami no ano passado, com uma festa de lançamento na Barro. Nas t-shirts unisexo, ainda disponíveis para crianças e adultos, leem-se expressões como “Autismo (respeite e inclua)”, “Autista com orgulho (trabalhe sua empatia)” e “Sou autista e também sou… Feliz, carinhoso, curioso, criativo e amoroso”.

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Já na nova colecção, que também inclui sacos de pano, encontram-se frases como “Eu amo um autista” e “Mãe atípica”. O objectivo é, sem romantizar, despertar conversas e contrariar a tendência para evitar e esconder o preconceito sobre as diferenças. Coleccionadora de situações desagradáveis em público, Mona defende que é preciso conhecer para reconhecer. E a melhor forma de o fazer é, claro, desmistificar e normalizar realidades como a da sua família. “Desde que recebemos o diagnóstico que muita coisa mudou na minha vida. Historicamente, acontece muito as mães de crianças atípicas se tornarem uma terapeuta, porque o interesse surge para ajudar o seu filho e acaba virando até uma profissão. Eu não tenho esse jeito, mas comecei a pensar o que poderia fazer na área da inclusão. É que às vezes eu estava com o meu filho em algum lugar, num shopping ou num aeroporto, um espaço onde ele possa ficar um pouco desregulado e acaba por ter um comportamento que as pessoas, por desconhecerem, têm um julgamento.”

A primeira t-shirt que Mona Camargo criou foi precisamente para o filho. Fê-lo inspirada pelo “símbolo do autismo” no Brasil, que as crianças no espectro costumam usar numa espécie de documento de identificação, e porque, como faz questão de reforçar, o autismo não tem cara. Se isso às vezes é bom, outras nem por isso. Em situações de desregulação, quem vê de fora tem tendência a achar que é só uma criança mal-educada, a fazer birra, ou que a mãe não é capaz, porque não consegue controlar. A partir do momento em que o seu filho aparece com uma t-shirt que identifica essa parte de si, as pessoas demonstram mais empatia. “Respeitam mais e, de alguma forma, acho que estamos a ensinar sobre a diferença às pessoas”, explica a empreendedora, antes de revelar que está a fazer uma formação e quer muito trabalhar com mães de crianças atípicas. “A maternidade já é um desafio gigante e é muito mais difícil para famílias atípicas, por isso que quero trabalhar a auto-estima das mulheres.”

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A inauguração das novas t-shirts e sacos está marcada para as 16.00 desta terça-feira, 2 de Abril, na Ar, mas também é possível comprar roupa e acessórios da Monami através da página de Instagram da marca, onde Mona também partilha a sua experiência, dados relativos ao PEA e a sua passagem por eventos como o Congresso Europeu do Autismo. “Todos nós já estudámos numa sala com uma criança ‘estranha’, podia ser até só um pouco esquisita, e a gente não sabia. Agora a gente sabe e tem como ter acompanhamento, ter um diagnóstico, ser respeitada. Isso é muito importante, porque uma criança do grau 1 [o nível menos severo, que pressupõe mais funcionalidade] – há muita gente que acha que é melhor, mas é muito difícil ser diagnosticado com o grau 1 e a pessoa pode ter uma adolescência super complicada, porque parece estar tudo bem e não está e a pessoa não se consegue encaixar. Já o meu filho, a ansiedade também é minha, porque ele precisa de mais apoio e um dia eu não vou estar aqui, então eu quero deixar uma sociedade melhor para ele”, partilha Mona, que gostava de ver chegar a Monami a mais lojas da cidade e desafia-nos a vestir a camisola da causa.

O que é o Dia da Consciencialização sobre o Autismo?

A data foi criada a 18 de Dezembro de 2007, através da resolução 62/139 da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. O objectivo é consciencializar os cidadãos para a condição e incentivar a inclusão na sociedade de pessoas no espectro do autismo. Segundo o Centro de Informação Europeia Jacques Delors, o tema de 2024, que será debatido numa sessão virtual com um painel de autistas de todos os sectores e à qual é possível assistir mediante registo, é “Passar da sobrevivência à prosperidade: Pessoas autistas partilham perspectivas regionais”.

Em Portugal, a Federação Portuguesa de Autismo alerta para a dimensão desconhecida da condição no nosso país (não se sabe o número de pessoas com diagnóstico desde 2005) e, defendendo uma aposta na intervenção precoce, lamenta o escasso financiamento para dar resposta às necessidades existentes, nomeadamente no que diz respeito ao apoio a nível escolar. 

Para assinalar o dia, há muitas organizações que promovem iniciativas gratuitas. Perto de Lisboa, o Alegro Alfragide, por exemplo, anunciou no mês de Março que vai passar a ter uma Hora Silenciosa todos os domingos, entre as 10.00 e as 11.00. Durante este período, vai desligar-se a música e os ecrãs, tornar a iluminação do centro mais amena, reduzir-se a intensidade da luz nas montras das lojas, parar a circulação dos carrinhos de limpeza, ter a equipa de limpeza a trabalhar com auriculares e incentivar os funcionários a ter o telemóvel no modo silencioso. A ideia é tornar a experiência mais agradável a pessoas com PEA. Esta iniciativa, realizada em parceria com a Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo, arrancou em Janeiro no Alegro Setúbal e agora estende-se aos restantes centros comerciais do grupo.

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